No Brasil, ciência avança e tecnologia recua, mostra relatório
Anuário coloca o país entre os cinco menos competitivos do total de 64 avaliados em todo o mundo

Anualmente, o Instituto Internacional para Desenvolvimento de Gestão (IMD, na sigla em inglês) divulga o ranking de competitividade mundial. De acordo com o relatório, o Brasil evoluiu em infraestrutura científica, saindo da 42ª posição em 2022 para a 36º este ano. O cenário tecnológico, no entanto, é mais desanimador – entre os 64 países participantes, o país ocupa o 57º lugar.
As universidades públicas são as que mais contribuem com o avanço, colocando o Brasil entre os top 20 com maior quantidade de pessoas dedicadas à Pesquisa e Desenvolvimento em relação ao total da população. No entanto, Carlos Arruda, doutor em negócios internacionais e professor de inovação e competitividade da Fundação Dom Cabral, aponta que a falta de transferência de conhecimento entre academia e setor privado é um fator importante para a lacuna entre ciência e tecnologia.
“As empresas são as responsáveis por implementar novas tecnologias, essa parceria é essencial para o avanço” afirma Arruda. Contudo, esse ano, o país figurou entre os cinco últimos no quesito transferência de conhecimento.
Esse não é o único fator que contribui com essa estagnação. Os executivos questionados para o levantamento ainda apontaram a baixa mão de obra especializada e a falta de financiamento para o desenvolvimento tecnológico como agravantes importantes.
Apesar disso, o país tem pontos fortes. Mesmo com amplo potencial de crescimento, o Brasil ocupa a 3ª posição no ranking de adoção de energias renováveis, a 7ª em eficiência dos custos de telefonia móvel e a 27ª na realização de acordos multilaterais para redução dos impactos ambientais.
Arruda se diz otimista. De acordo com ele, há muito espaço para a adoção de novas tecnologias, como no emprego de Big Data e inteligência artificial dentro de empresas. Além disso, a criação de uma secretaria voltada para a inovação e para o desenvolvimento industrial é um sinal de comprometimento do atual governo com essa causa.
Visão Geral
Apesar de alguns pontos positivos, o relatório traz uma má notícia para o país. No ranking geral do anuário de competitividade, o Brasil ocupa a 60ª posição, ficando à frente apenas de África do Sul, Mongólia, Argentina e Venezuela.
O levantamento avalia quatro pilares principais: performance econômica, eficiência do governo, infraestrutura e eficiência dos negócios. No primeiro deles, o país avançou sete posições, para a 41ª colocação, mas recuou em todas as outras, sendo a eficiência dos negócios a principal responsável pelo mau desempenho, com uma queda do 52º para o 61º lugar.
A Irlanda é exemplo a ser seguido. “Eles eram as ovelhas negra da União Europeia, mas agora estão entre os mais competitivos”, diz Arruda. O país subiu nove posições e hoje ocupa a 2ª, ficando atrás apenas da Dinamarca. A implementação de reformas que favoreceram o desenvolvimento econômico foi um fator diferencial e, segundo o professor, dá ao Brasil um vislumbre do caminho que pode traçar. Os países asiáticos, a exemplo de Indonésia, Taiwan e Hong Kong, também vêm registrando avanços.