NASA fala do retorno à Lua: cronograma desafiador e litígio no Congresso
Em entrevista a VEJA, a porta-voz da agência espacial americana esclarece cinco dúvidas cruciais em relação ao projeto Artemis
VEJA conversou com a porta-voz da Nasa, Monica J. Witt, sobre alguns aspectos ainda não totalmente esclarecidos a respeito do projeto Artemis, que irá marcar o retorno da humanidade à Lua em 2024, desta vez para ficar. O audacioso programa foi explicado em detalhes na edição 2744, de 30 de junho de 2021. Na entrevista, a agência espacial americana fala de cronograma, dos desafios e do litígio levado ao Congresso pelas empresas aeroespaciais Dynetics e Blue Origin − esta do proprietário da Amazon, Jeff Bezos −, que entraram com reclamação contra a escolha da SpaceX, do bilionário Elon Musk, como fornecedora do módulo de pouso, nave fundamental para a missão.
A empresa aeroespacial SpaceX foi escolhida na licitação para desenvolver o módulo de pouso (HLS − Human Landing System) que irá transportar os astronautas da cápsula Orion até a superfície da Lua. Porém, parece que esse contrato está sendo questionado por concorrentes da SpaceX. O que está ocorrendo exatamente?
Em 16 de abril, a Nasa anunciou que a SpaceX foi a empresa selecionada para desenvolver o primeiro módulo de pouso que descerá os astronautas à superfície lunar no programa Artemis. Porém, em 26 de abril, a Nasa foi informada de que as empresas aeroespaciais Blue Origin e Dynetics haviam dado entrada com uma reclamação junto ao Government Accountability Office (GAO) [órgão independente do Congresso americano que audita e investiga contas públicas], questionando a decisão. Diante disso, a Nasa notificou a SpaceX de que o contrato está suspenso até que o GAO resolva o litígio pendente relacionado a essa compra.
A Nasa ainda mira a janela de outubro de 2024 para o retorno à Lua?
A Nasa está revisando de forma geral o cronograma do projeto Artemis, tendo em vista a verba e o orçamento esperado, além do resultado do litígio envolvendo o HLS. Esperamos entregar um cronograma atualizado no fim deste ano, após a resolução do litígio. A proposta de orçamento do ano fiscal de 2022 leva em conta o cumprimento de três fases do projeto. A etapa Artemis I [que consiste no lançamento do superfoguete, atualmente sendo montado na Flórida, e da cápsula não-tripulada Orion] deve ter início até novembro deste ano. Artemis II [envio da cápsula tripulada Orion para orbitar a Lua e retornar à Terra] precisa começar até setembro de 2023. E, finalmente, Artemis III [missão tripulada para pouso na superfície lunar] tem como meta o último trimestre de 2024. A Nasa está empolgada em retornar à Lua, mas só irá enviar astronautas quando for seguro fazê-lo.
Para muitos não está claro se a cápsula Orion, que levará os astronautas, viajará junto com o módulo de pouso, como ocorreu nas missões Apollo. Pode esclarecer isso?
Definitivamente, o HLS viajará até a órbita lunar separado da Orion.
Na etapa Artemis II, a cápsula tripulada Orion contornará a Lua, sem descer nela, como fizeram os astronautas da Apollo 8 em 1968. Mas haverá testes de acoplamento e desacoplamento com o novo módulo de pouso (HLS) antes da missão definitiva para pousar?
Sim, o contrato do Human Landing System demanda que seja feita uma demonstração prática não-tripulada antes mesmo de uma demonstração prática tripulada.
A Nasa pretende ter um posto avançado em órbita da Lua, chamado Gateway [Portal]. Quando os astronautas forem à Lua, a estação já estará lá?
O plano é que os componentes críticos do Gateway sejam lançados até novembro de 2024.