Na Guerra da Ucrânia, Rússia investe na desinformação digital
Vale tudo para desestabilizar o inimigo, até mesmo publicar vídeos bem humorados e nada inocentes no TikTok
Na guerra entre Rússia e Ucrânia, o poderio militar dos russos supera muitas vezes o dos ucranianos. De acordo com o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, o Exército Vermelho conta com 900.000 homens armados, em comparação com 209.000 no outro lado da trincheira. Essa mesma diferença pode ser observada no arsenal de ambos os países. Só que os russos têm um elemento a mais nesse combate desigual: vídeos de humor no TikTok e outras estratégias digitais.
Faz parte da guerra de informação – ou desinformação, dependendo do ponto de vista. E esse movimento não é de hoje. Em 2014, a Rússia inundou a internet com contas falsas, divulgando desinformação sobre sua anexação da Crimeia, território ao sul da Ucrânia, no Mar Negro. Oito anos depois, especialistas dizem que os russos estão montando um esforço muito mais sofisticado, para tentar dividir o público ocidental.
Um exemplo. No TikTok, um vídeo mostra um filhote de cachorro husky identificado por uma bandeira dos EUA toca na cauda de um gato malhado identificado por uma bandeira russa. O gato responde com um golpe que faz o animalzinho correr. O clipe, que foi visto 850.000 vezes em duas semanas, é o trabalho de uma conta chamada Funrussianprezident, que possui 310.000 seguidores. Quase todos os seus vídeos apresentam conteúdo pró-russo.
A Cyabra, empresa de tecnologia israelense que identifica desinformação, divulgou um relatório indicando que aumentaram as contas suspeitas que espalham conteúdo antiucraniano. Os analistas rastrearam milhares de contas do Facebook e Twitter e viram um aumento repentino e dramático no conteúdo dessa natureza nos dias imediatamente anteriores à invasão. No dia 14 de fevereiro, por exemplo, o número de postagens criadas pelas contas do Twitter aumentou 11.000% em comparação com apenas alguns dias antes. Eles acreditam que uma parte das contas é controlada por grupos ligados ao governo russo.
Para os russos e separatistas pró-russos na Ucrânia, a mensagem é que a Rússia está tentando defender seu próprio povo contra a agressão e perseguição alimentadas pelo Ocidente na Ucrânia. Táticas semelhantes foram usadas, inclusive pela Alemanha nazista quando invadiu a Checoslováquia sob o pretexto de proteger os alemães étnicos que moravam lá.