Movimento de compra e restauração de automóveis antigos ganha nova força no Brasil
Projetos são conduzidos pelas próprias montadoras
Houve um tempo em que os colecionadores de veículos clássicos representavam um pequeno e discreto nicho dentro do setor automotivo nacional. Eram aficionados que cuidavam meticulosamente de modelos de outras épocas, levando-os para pequenos passeios em fins de semana e exibindo-os em eventos voltados para um público seleto. Hoje, a situação é outra. O “antigomobilismo”, como é chamada a prática de comprar e colecionar carros antigos, movimenta algo em torno de 32 bilhões de reais por ano no Brasil, segundo dados da Federação Internacional de Veículos Antigos (Fiva). São 3,2 milhões de veículos históricos que pertencem a 1,2 milhão de colecionadores. E, agora, quem entra nessa corrida lucrativa são as próprias montadoras que conceberam as versões originais.
A maior prova do movimento é o Projeto Vintage, da Chevrolet. Sob a supervisão dos engenheiros e técnicos da General Motors (GM), cinco modelos clássicos voltarão ao mercado: o Monza 500 EF 1990, primeiro carro nacional da marca com injeção eletrônica; o Omega CD 1994, sedã que se tornou referência entre os modelos de luxo; o Opala SS 1979, o muscle car brasileiro; a S10 Rally 2004, originalmente desenvolvida para o Rally dos Sertões; e o esportivo Kadett GSi 1992. Os modelos serão leiloados em diferentes lotes e os recursos serão usados em projetos sociais do Instituto General Motors. Segundo a fabricante, o grande diferencial da empreitada é a supervisão e a validação do próprio time de especialistas da casa.
A iniciativa da GM fez barulho no mercado por mesclar duas vertentes do antigomobilismo. De um lado há os restauradores que se esforçam para recuperar os carros com as configurações de fábrica. Isso exige a busca por peças da época e um olhar atento aos modelos originais. É o caso do Monza e do Omega, que serão oferecidos exatamente como eram quando chegaram ao mercado nos anos 1990. Do outro lado há os chamados “restomods”, que mesclam tecnologias antigas e novas para atualizar veículos de visual e história chamativos — e atender novos padrões de segurança, se necessário. É o caso do Opala e da S10.
Sozinho, o projeto da GM não atenderia toda a demanda no setor. Não à toa, restauradores de clássicos costumam ter fila de espera de clientes. É o caso de Denilson de Freitas Santos, responsável pelo By Deni Studio, em São Paulo. Conhecido por recuperar modelos da Volkswagen, especialmente o Gol GTi produzido entre as décadas de 1980 e 1990, ele teve seu trabalho reconhecido pela própria fabricante. Leva cerca de doze meses para entregar o veículo pronto, que passa a valer muito mais. Fora do Brasil, as próprias montadoras, especialmente as de luxo, mantêm oficinas para recuperar modelos históricos, como a Mercedes-Benz, que abriu seu Classic Center em Stuttgart, na Alemanha, para cuidar das preciosidades dos clientes.
O universo dos “restomods” é igualmente fascinante. Nesse meio em ascensão no país, algumas empresas já deixam sua assinatura, como a americana Singer, expert em recuperar e customizar icônicos Porsche 911. Neste ano, o primeiro modelo desenvolvido para um brasileiro chegou ao país. Trata-se do Brazil Commission, que começa com a base de um 964, geração do 911 considerada “definitiva” por Rob Dickinson, o criador da Singer. A partir do chassi, ele troca a carroceria, o motor e o sistema de escapamento. O interior é totalmente escolhido pelo cliente, e nenhum projeto é igual ao outro. A primeira versão nacional, trazida pela butique automotiva GTO Car Specialists, é pintada em uma tonalidade de azul-escuro usada originalmente pela Jaguar, com interior em couro caramelo com costuras aparentes, detalhes em aço e manopla de câmbio de madeira.
Encomendar um carro da Singer passa facilmente de 1 milhão de dólares. Outros restauradores não divulgam o preço, já que cada projeto é único e o valor depende do estado de deterioração do veículo. Para quem gosta de apreciar a engenharia e o design de outras épocas, uma alternativa é frequentar os museus de automóveis. Um dos melhores do Brasil, o Carde, foi inaugurado no fim de 2024 em Campos do Jordão, com relíquias como um Aston Martin DB5 de 1964 ou uma Ferrari F50 de 1995. É o jeito de matar a saudade quando falta aquele gás financeiro para ter uma dessas relíquias na garagem.
Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967
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