Para onde a tecnologia está caminhando? Nos últimos vinte anos, houve muita ênfase no uso da tecnologia de modo a influenciar e mudar o comportamento humano: como fazer com que as pessoas comprem algo, ou votem de uma certa maneira, em um campo ou em outro. Porque, obviamente, essa é a maneira imediata de ganhar dinheiro e poder.
Há como escapar dessa armadilha? Precisamos de mais tecnologia relacionada ao nosso ciclo de energia, à disponibilidade de água doce, e muitas outras coisas relacionadas ao clima. Mudar as mentes não é a prioridade para a sobrevivência humana agora.
Como a chamada Web 3.0, com o blockchain e as criptomoedas, entra nesse jogo? A estrutura da Web 3.0 é baseada em ter um token no qual você aposta e espera que aumente de valor. Pode ser uma criptomoeda ou um NFT. Mas isso não garante diretamente que qualquer produtividade real aconteça, e não recompensa as pessoas por ajudar a sociedade. É como enfiar dinheiro em um colchão.
Qual é a diferença do investimento tradicional, em ações? Ao comprar uma ação, ao menos a pessoa está investindo em alguma coisa, mesmo que ela caia depois. Ao comprar um token, enche-se o colchão de dinheiro na esperança de que apareça alguém para comprá-lo por um preço mais alto. Desfaz toda a ideia de finanças.
Um estudo recente mostrou que meninas sofrem mais cedo que os meninos os efeitos nocivos das rede sociais. O que acha disso? Preocupo-me com esse assunto há muito tempo. Quando comecei a falar sobre isso, era difícil fazer com que as pessoas entendessem ou ouvissem. Agora, há uma indústria de críticos. Há várias maneiras de melhorar as redes sociais. Uma delas é com a regulamentação. Temos de definir responsabilidades.
Pode dar um exemplo? Nos EUA, muitas pessoas morreram por uso excessivo de opioides prescritos legalmente. Quem vende esses remédios também deve ser penalizado. Não dá para ter liberdade sem responsabilidade. Senão, não haverá mais sociedade. As redes sociais precisam ter regras também.
Que tipo de regras? Em vez de contas individuais nas redes sociais, as pessoas deveriam formar grupos, assumindo responsabilidade mútua. Afinal, com um post de ódio, todo mundo sofre ao mesmo tempo.
Publicado em VEJA de 25 de maio de 2022, edição nº 2790