Jack Welch: Paixão por vencer
Ex-presidente da General Electric morreu em decorrência de insuficiência renal, em Nova York

Em um tempo, nos anos 1980 e 1990, em que os executivos eram celebrados como estrelas de rock, com salários e bônus milionários, o americano Jack Welch ganhou o status de lenda. Durante duas décadas no comando da General Electric (GE), que nascera em 1892 pelas mãos de Thomas Alva Edison, ele se transformou no mais respeitado líder empresarial de todo o mundo capitalista, ao fazer o valor de mercado da empresa saltar de 14 bilhões para 410 bilhões de dólares. Como nenhum outro, Welch soube navegar a onda dos juros baixos e do liberalismo econômico liderado pelo presidente Ronald Reagan (1981-1989), de quem foi amigo pessoal e conselheiro.
Atacava com virulência a burocracia corporativa, abriu mercados no exterior e dizia reger a orquestra de olho numa única partitura, a do zelo permanente com os funcionários. “O que eu queria fazer dentro da GE era poder tocar em cada pessoa, queria estar na pele de cada trabalhador”, disse em 2002, depois de se aposentar. “Esforcei-me muito para fazer essa ligação, para que eles se preocupassem com a companhia tanto quanto nós nos preocupávamos.” Os críticos da velocidade com que Welch mexia na empresa, de olho nas cifras, gostam de lembrar, contudo, que em cinco anos de gestão reduziu de 411 000 para 299 000 o quadro de funcionários.
Avesso a resultados imediatos, embora eles surgissem exponencialmente, Welch tinha um mantra — qualquer sucesso só poderia ser medido depois de vinte anos de trabalho e formação de uma cultura. Nesse aspecto, retroativamente, seu legado não é tão magnífico como parecia no apogeu — a GE é, hoje, uma pequena porção do que já foi, atropelada pela nova economia e ferida de morte com a crise financeira de 2008. E, no entanto, apesar das atuais dificuldades da mítica sigla (no ano passado a GE perdeu 5,4 bilhões de dólares), Welch deixou uma marca que, de um modo ou de outro, os bons profissionais de gestão costumam usar como guia para suas decisões. Para ele, a meritocracia era a única ferramenta justa de promoção e valorização do trabalho, definida como “a curva de vitalidade”. De raciocínio rápido e ideias que nasciam como slogans de propaganda, ele cunhou frases ainda hoje repetidas à exaustão, didáticas, contundentes, duras de ouvir: “Controle seu destino, ou outra pessoa o fará”; “É melhor agir rápido do que esperar muito”; “Pode soar horrível, mas uma crise raramente acaba sem sangue no chão; isso não é fácil ou prazeroso, mas, infelizmente, é necessário para que a companhia possa seguir em frente”. Welch tinha 84 anos. Morreu em decorrência de insuficiência renal, em Nova York.
Publicado em VEJA de 11 de março de 2020, edição nº 2677