Eles podem e elas não?
Prêmio dado em feira de tecnologia a um consolo robótico feminino é retirado após a organização do evento acusá-lo de “profano”
“Imoral, obsceno, indecente e profano.” Assim a organização da Consumer Electronics Show (CES), a tradicional feira de tecnologia que ocorre todos os anos em Las Vegas, definiu o objeto que se vê na foto acima. É um consolo sexual robótico para uso de mulheres, desenvolvido por um time de engenheiras da Universidade Estadual do Oregon, referência em automação, para a startup americana Lora DiCarlo. Batizado de Osé — “ousado”, em francês, ou “picante”, em italiano —, o aparelho se molda ao corpo da dona e segue instruções automatizadas para levá-la ao prazer.
Inicialmente, a CES se deslumbrou com o produto e concedeu seu principal prêmio de inovação à Lora DiCarlo. No entanto, pouco depois, a organizadora retirou a láurea do Osé, com a justificativa de que o invento era “imoral, obsceno, indecente e profano”. “Junto com meu time, criei um produto que é a definição de algo inovador”, disse a VEJA a engenheira mecânica Lola Vars, líder da equipe técnica que assina a novidade. “O Osé imita a sensação de um parceiro de carne e osso, simulando o toque, a boca — e tudo isso sem necessitar que a usuária o manipule. Nenhuma outra tecnologia foi capaz de juntar esses atributos”, destaca Lola.
A história do recuo da CES veio a público quando a CEO da Lora DiCarlo, Lora Haddock, publicou na internet uma carta aberta em que reclamava do cancelamento do prêmio. A polêmica ganhou corpo quando o diretor-geral da feira, Gary Shapiro, deu sua resposta, na qual afirmava que a CES é um “show de negócios”, e não um show de pornografia. Em seguida, Shapiro proibiu que o Osé — que deve chegar ao mercado, por cerca de 280 dólares, ainda em 2019 — fosse até mesmo exibido no pavilhão do evento. Sua reação não se justifica, e por um motivo simples: todos os anos a CES exibe modelos de bonecas sexuais, além de outros brinquedos dedicados ao público masculino — mesmo sem ser um evento de pornografia.
Seria o Osé mais “obsceno” do que, por exemplo, bonecas de lábios carnudos e olhares lânguidos, como a RealDoll, fabricada pela empresa californiana Abyss Creations, que foi um dos destaques eróticos da CES do ano passado? “Ficou óbvio que o prêmio foi tirado do Osé porque discutimos abertamente o clímax sexual feminino”, afirma Lola Vars. “Como uma mulher que atua nesse campo, infelizmente estou acostumada com a ideia de que inovações feitas ou voltadas para nós não são bem-vistas na comunidade tech.” Para ela, a atitude da CES embutiu um indisfarçável machismo. Levando-se em conta que a polêmica nasce numa indústria dominada por homens — no Vale do Silício, só 20% dos cargos técnicos e 11% dos postos de liderança são ocupados por mulheres —, a explicação da engenheira parece mais adequada do que considerar o Osé mais “profano” do que a RealDoll, dotada de um avançado software que habilita a boneca a satisfazer certas fantasias masculinas.
Com reportagem de Sabrina Brito
Publicado em VEJA de 6 de fevereiro de 2019, edição nº 2620

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