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De Platão ao ChatGPT, o que significa “pensar”?

Conceitos de filósofos da Grécia Antiga sobre inteligência podem ajudar a esclarecer a tecnologia do século XXI que eles nunca conheceram

Por Ryan Leack para The Conversation*
23 jul 2025, 10h15

Em minhas aulas de redação e retórica, os alunos têm muitas opiniões sobre se a IA é inteligente: quão bem ela consegue avaliar, analisar, interpretar e comunicar informações.

No entanto, quando pergunto se a inteligência artificial pode “pensar”, muitas vezes vejo um mar de rostos perplexos. O que é “pensar”, e em que isso é igual ou diferente de “inteligência”?

Podemos tratar os dois termos como mais ou menos sinônimos, mas os filósofos têm marcado nuances há milênios. Os filósofos gregos podem não ter conhecido a tecnologia do século XXI, mas suas ideias sobre intelecto e pensamento podem nos ajudar a entender o que está em jogo com a IA hoje.

A linha divisória

Embora as palavras em inglês “intellect” (intelecto) e “thinking” (pensamento) não tenham equivalentes diretos no grego antigo, a análise de textos antigos oferece comparações úteis.

Em “República”, por exemplo, Platão usa a analogia de uma “linha divisória” que separa as formas superiores e inferiores de compreensão.

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Um mosaico romano de Pompéia retrata a academia de Platão na Grécia.
Um mosaico romano de Pompéia retrata a academia de Platão na Grécia. (//Wikimedia Commons)

Platão, que lecionou no século IV a.C., argumentou que cada pessoa tem uma capacidade intuitiva de reconhecer a verdade. Ele chamou isso de a forma mais elevada de compreensão: “noesis. A noesis permite a apreensão além da razão, da crença ou da percepção sensorial. É uma forma de “saber” algo – mas, na visão de Platão, é também uma propriedade da alma.

Abaixo, mas ainda acima de sua “linha divisória”, está a “dianoia”, ou razão, que se baseia na argumentação. Abaixo da linha, suas formas inferiores de compreensão são a “pistis”, ou crença, e a “eikasia”, imaginação.

Pistis é a crença influenciada pela experiência e pela percepção sensorial: informações que alguém pode examinar criticamente e sobre as quais pode raciocinar. Platão define eikasia, por sua vez, como opinião infundada, enraizada em percepções falsas.

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Na hierarquia das capacidades mentais de Platão, a compreensão direta e intuitiva está no topo, e as informações físicas momentâneas estão na base. O topo da hierarquia leva ao conhecimento verdadeiro e absoluto, enquanto a base se presta a impressões e crenças falsas. Mas a intuição, segundo Platão, é parte da alma e está incorporada na forma humana. Perceber a realidade transcende o corpo, mas ainda precisa dele.

Portanto, embora Platão não diferencie “inteligência” e “pensamento”, eu diria que suas distinções podem nos ajudar a pensar sobre a IA. Sem estar incorporada, a IA pode não “pensar” ou “compreender” da mesma forma que os humanos. Eikasia — a forma mais baixa de compreensão, baseada em percepções falsas — pode ser semelhante às frequentes “alucinações” da IA, quando ela inventa informações que parecem plausíveis, mas na verdade são imprecisas.

Pensamento incorporado

Aristóteles, aluno de Platão, lança mais luz sobre a inteligência e o pensamento.

Em “Sobre a Alma”, Aristóteles distingue o intelecto “ativo” do “passivo”. O intelecto ativo, que ele chamou de “nous”, é imaterial. Ele cria significado a partir da experiência, mas transcende a percepção corporal. O intelecto passivo é corporal, recebendo impressões sensoriais sem raciocínio.

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Um relevo do século XV de Aristóteles e Platão, obra de Luca della Robbia, na Catedral de Florença, na Itália.
Um relevo do século XV de Aristóteles e Platão, obra de Luca della Robbia, na Catedral de Florença, na Itália. (saiko/Wikimedia Commons)

Poderíamos dizer que esses processos ativos e passivos, juntos, constituem o “pensamento”. Hoje, a palavra “inteligência” possui uma qualidade lógica que os cálculos da IA podem replicar. Aristóteles, no entanto, assim como Platão, sugere que “pensar” requer uma forma incorporada e vai além da razão.

As visões de Aristóteles sobre retórica também mostram que a deliberação e o julgamento requerem um corpo, sentimentos e experiência. Podemos pensar na retórica como persuasão, mas na verdade ela tem mais a ver com observação: observar e avaliar como as evidências, as emoções e o caráter moldam o pensamento e as decisões das pessoas. Os fatos são importantes, mas são as emoções e as pessoas que nos movem — e parece questionável se a IA utiliza a retórica dessa maneira.

Por fim, o conceito de “phronesis” de Aristóteles lança mais luz sobre a capacidade de pensar da IA. Em “Ética a Nicômaco”, ele define phronesis como “sabedoria prática” ou “prudência”. “Phronesis” envolve a experiência vivida que determina não apenas o pensamento correto, mas também como aplicar esses pensamentos a “bons fins” ou ações virtuosas. A IA pode analisar grandes conjuntos de dados para chegar às suas conclusões, mas a “phronesis” vai além da informação para consultar a sabedoria e a percepção moral.

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Robôs “pensantes”?

Hoje, a IA assume muitas formas físicas, desde veículos autônomos e robôs humanóides a robôs para cuidados de saúde e drones. Se a inteligência requer algo corpóreo, como acreditavam Platão e Aristóteles, pode parecer que a IA está mais próxima do que nunca do pensamento humano.

A IA assume muitas formas, mas ainda não são corpos; ela funciona com códigos, algoritmos e conjuntos de dados. A compreensão intuitiva, a emoção, a integridade e a sabedoria prática parecem exigir uma forma corpórea e perecível que é movida pela experiência.

Talvez devêssemos perguntar à própria IA – e foi o que fiz. Quando fiz uma pergunta simples ao ChatGPT, “você consegue pensar?”, ele respondeu: “Eu consigo processar informações, analisar padrões e gerar respostas com base em dados. Então, de certa forma, pode ‘parecer’ que estou pensando. Mas não é o mesmo que pensar como um humano. Eu não tenho consciência, emoções, intenções ou percepção. Tudo o que ‘faço’ é baseado em padrões aprendidos a partir de enormes quantidades de texto e um conjunto de regras e probabilidades. Posso ‘simular’ certos aspectos do pensamento, mas não penso ou compreendo verdadeiramente no sentido humano”.

Essa resposta está alinhada com as visões de Platão e Aristóteles. Por enquanto.

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*Ryan Leack, Assistant Professor of Writing, USC Dornsife College of Letters, Arts and Sciences

This article is republished from The Conversation under a Creative Commons license. Read the original article.

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