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Como a inteligência artificial está ajudando a criar ciência ruim

Estudo da Universidade de Surrey, no Reino Unido, mostra que ferramentas virtuais e a facilidade de acesso a grandes volumes de dados produzem resultados ruins

Por Alessandro Giannini Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 Maio 2025, 10h44

Um estudo recente da Universidade de Surrey, no Reino Unido, acende um alerta na comunidade científica sobre o aumento expressivo de artigos acadêmicos que utilizam o banco de dados de saúde e nutrição dos Estados Unidos, National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES). A pesquisa, publicada na revista PLoS Biology, sugere que a facilidade de acesso a grandes volumes de dados, combinada com o uso de ferramentas automatizadas, incluindo inteligência artificial, pode estar impulsionando a produção de estudos de baixa qualidade e com descobertas potencialmente questionáveis.

Os pesquisadores, liderados por Tulsi Suchak, observaram um crescimento drástico no número de publicações baseadas no NHANES a partir de 2022. Enquanto a média anual entre 2014 e 2021 era de quatro artigos, esse número saltou para 33 em 2022, 82 em 2023, e atingiu 190 apenas até outubro de 2024. Esses trabalhos frequentemente aparecem em revistas de impacto moderado.

O estudo aponta problemas centrais nessas publicações. Muitas investigam condições de saúde complexas, como depressão ou doenças cardíacas, focando em apenas um fator isolado, ignorando a multiplicidade de causas e a interação entre elas. Essa abordagem simplista eleva o risco de conclusões incompletas ou enviesadas.

Outra preocupação é a falta de rigor estatístico. Frequentemente, os estudos não aplicam correções para o risco de encontrar resultados significativos por mero acaso, os chamados falsos positivos. Os pesquisadores também notaram o uso seletivo de dados, onde apenas partes do NHANES são utilizadas sem justificativa clara, levantando suspeitas de que os dados são escolhidos para confirmar hipóteses predefinidas.

Facilidade de acesso a grandes volumes de dados, combinada com o uso de ferramentas automatizadas, incluindo inteligência artificial, pode estar impulsionando a produção de estudos de baixa qualidade
Facilidade de acesso a grandes volumes de dados, combinada com o uso de ferramentas automatizadas, incluindo inteligência artificial, pode estar impulsionando a produção de estudos de baixa qualidade (x/Getty Images)
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A facilidade de gerar resultados e manuscritos rapidamente com ferramentas automatizadas torna esses estudos repetitivos atraentes para as chamadas “paper mills” (literalmente, fábricas de papel), organizações que produzem e vendem artigos científicos de baixa qualidade. A inteligência artificial, segundo os autores, pode acelerar ainda mais essa produção. O estudo também destaca uma mudança geográfica, com um aumento significativo de autores principais afiliados a instituições na China nos últimos anos.

Diante deste cenário, os pesquisadores recomendam maior rigor por parte de editores e revisores, incluindo a rejeição de artigos formulaicos e a consulta a especialistas em estatística, visando preservar a credibilidade da ciência.

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