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“Censura 2.0” faz frente ao avanço das redes sociais

Por Renata Honorato
25 mar 2010, 17h06

O fechamento do Google.cn é o episódio mais ruidoso de uma disputa cada vez mais acirrada que a ONG Repórteres sem Fronteiras descreve como a luta da “web 2.0” contra a “censura 2.0”, em relatório divulgado este mês. O confronto opôs o maior provedor de informações do mundo ao país que mais investe em monitorá-las. Mas a ONG também chama atenção para as batalhas silenciosas travadas em países que considera “inimigos da internet”.

A maioria são ditaduras habituadas a controlar os meios tradicionais de comunicação e subitamente desafiadas pelo alcance, a rapidez, a mobilidade e o relativo anonimato que envolve a troca de informações na internet. O desafio é tal que alguns governos, conforme a pesquisa, se dão ao luxo de reprimir todo o acesso à rede (Coreia do Norte, Mianmar). Outros inibem seu uso derrubando serviços e conexões (Irã), praticando preços proibitivos (Cuba) ou “investindo” em uma rede tão precária que a simples consulta ao um e-mail pode consumir vários minutos (Turcomenistão).

Para facilitar o controle, muitos dos “inimigos da internet” limitam a atividade on-line a uma espécie de intranet, um arremedo da rede mundial sob rígido controle policial (Uzbequistão). E a grande maioria opta por uma combinação de estratégias: ferramentas de censura baseadas em listas negras de sites e palavras-chave (Arábia Saudita); controle ou intimidação dos provedores (Eritreia); estímulo à auto-censura e à delação (Tailândia); prisões “exemplares” (Vietnã, Síria).Em quase todos, o maior inimigo são as redes de compartilhamento, ícones da chamada web 2.0: Flickr, YouTube, Twitter, Picasa etc.

ISOLAMENTO E CANSAÇO – De todos, a China é a que mais investe na censura. Mantém um sofisticado sistema de filtros baseado em uma lista negra de sites e termos “sensíveis” (“democracia”, “direitos humanos”, “Praça da Paz Celestial”), constantemente atualizada, numa operação que envolve diversos ministérios e órgãos administrativos. É a chamada Grande “Muralha de Fogo” (Great Firewall), em alusão à muralha milenar.

“Mesmo quem não costuma pesquisar assuntos delicados acaba dando de cara com uma mensagem de erro, um indicativo da intervenção da Great Firewall”, conta a especialista em mídias digitais Érica Benites Manssour, 24 anos, que há dois anos mora em Dongguan, na província de Guangdong, no sul da China. A brasileira conta que já foi “pega” pelo sistema de censura ao pesquisar até termos aleatórios (como “banana”). “De vez em quanto eu me desespero: dá uma sensação de ‘exclusão’ e ‘isolamento’ quando alguém envia algum link e não conseguimos visualizá-lo”, conta. Manssour é uma “heavy user” assumida. De acordo com ela, o usuário médio mal percebe a existência de um filtro em seus resultados de busca.

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Para Manssour, o governo muitas vezes “tenta vencer o usuário pelo cansaço”. Ela conta que, entre as várias estratégias para burlar a censura, uma delas se resume a atualizar a página “dezenas de vezes” até que o resultado seja exibido sem cortes. O objetivo das autoridades, para a especialista, é que os “internautas passem a utilizar uma ferramenta de busca local”, de mais fácil controle. Mesmo antes de sua saída, o Google nunca dominou o mercado chinês. Por lá, o principal buscador é o Baidu.com, que detém aproximadamente 60% do mercado.

Manssour diz que o redirecionamento do Google.cn para o Google.com.hk, de Hong Kong, não muda a experiência do internauta na China continental. “No geral continua como antes: eu tento fazer uma busca sobre um assunto que incomoda ‘o partidão’ e caio direto numa página de erro”, diz. Ela enviou a VEJA.com imagens de tela com os resultados da busca no Google para um dos termos mais “sensíveis” às autoridades chinesas, “Tiananmen”, a Praça da Paz Celestial, palco do massacre de 1989. As buscas ilustram a ação da muralha digital, conforme é feita em inglês ou mandarim. No segundo caso, as célebres imagens dos protestos e do massacre simplesmente não aparecem.

SOB VIGILÂNCIA – Além dos “inimigos da internet”, o levantamento da ONG Repórteres Sem Fronteiras relaciona também o que chama “países sob vigilância”, em que aponta certo furor contra o livre trânsito de informações na internet. Entre estes, chama a atenção o ímpeto de certas democracias. O caso mais notório é o da Austrália. Em nome de combater a pornografia, a violência e o consumo de drogas, o governo avança com um polêmica proposta de criar um filtro de abrangência nacional para bloquear uma lista negra de sites. Google, Yahoo e mais de uma centena de empresas de tecnologia já manifestaram preocupações.

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