Brasileiro se suicidou no TikTok, e app só avisou a polícia após 4 horas
Ao descobrir a tragédia, uma operação tomou conta do escritório brasileiro da empresa para tentar abafar uma possível crise por causa do vídeo

Eram 15h23 do dia 21 de fevereiro de 2019, quando um jovem influenciador brasileiro, de 19 anos, se matou durante uma transmissão ao vivo no TikTok, app de criação e compartilhamento de vídeos, o terceiro mais baixado no mundo em 2019. Cerca de 280 pessoas viram o ocorrido, que ficou no ar por mais de uma hora e meia e obteve quase 500 comentários e 15 denúncias.
Só às 17h os funcionário da empresa se deram conta de que o vídeo com a morte do influenciador estava disponível no app. A partir daí, levaram mais duas horas para apagar a repercussão do vídeo, para então avisar os familiares do jovem e a polícia.
A informação foi passada primeiro ao site The Intercept por uma ex-funcionária do ByteDance, empresa dona do TikTok. Segundo ela, o escritório da companhia no Brasil, que fica no Itaim Bibi, bairro nobre da zonal sul de São Paulo, trabalhou única e exclusivamente para não deixar que a morte do rapaz vazasse e arranhasse a imagem da empresa, principalmente entre os jovens e os influenciadores, estes os maiores públicos.
Segundo a ex-funcionária, nem a equipe chinesa ficou sabendo do caso e a morte do jovem foi reportada para a equipe brasileira através de um grupo de WhatsApp. A primeira ação da companhia? Solicitar a exclusão da transmissão, às 17h13, quase duas horas depois do ocorrido. Após a solicitação, os funcionários entraram em contato com a equipe de relações públicas, que produziu uma nota de pêsames, que nunca precisou ser usada.
Segundo a responsável pelo vazamentos dos e-mails, “Marta Cheng (líder geral do Brasil e da América Latina) foi acionada e orientou os funcionários do Brasil a não contarem a história para ninguém”. Cerca de duas horas depois, com a crise aparentemente contida, e mais de quatro horas após o suicídio do jovem, a equipe do TikTok acionou a polícia paranaense.
Nessa altura, a família já havia encontrado o corpo do jovem. O Intercept comunicou que obteve acesso à ficha de João no Instituto Médico Legal de Curitiba, onde constava que o corpo do jovem tinha sido registrado no local às 20h05, nove minutos após a comunicação do TikTok com as autoridades. A plataforma não entrou em contato com a família.
Como já relatou o site americano The Verge, o TikTok tem sido usado de diferentes maneiras no mundo, nem todas tão, digamos assim, divertidas. Há relatos de outros dois suicídios na Índia, no mesmo ano, e que estavam relacionados ao cyberbullying; há também casos de conteúdo racista e antissemita.
Em resposta, o TikTok admite que removeu o post e alertou as autoridades locais porque não permite “conteúdo que promova danos pessoais ou suicídio”. Também afirmou que, desde o ocorrido, atualizou suas políticas de transmissões ao vivo e adicionou ferramentas e protocolos de alertas.