Automóveis do futuro: as novidades das montadoras chinesas no Shanghai Auto Show
Elas antecipam lançamentos de veículos eletrificados e mostram que nem as tarifas de Trump barram seu avanço

Caminhar pelos estandes de automóveis espalhados nos imensos espaços do Centro Nacional de Exposições e Convenções de Xangai, na China, é vislumbrar o futuro da indústria automotiva. Os lançamentos expostos chamam atenção pelo design, com linhas que parecem inspiradas em filmes de ficção científica, e pelas tecnologias, com comandos acionados por voz e gestos, centrais multimídia gigantes e funcionalidades de segurança que ainda não existem no nosso mercado. Os protótipos apresentados, como modelos de carros voadores, indicam o espírito visionário dos engenheiros locais. Enquanto outros salões de automóveis perdem força, como o de Detroit, nos Estados Unidos, na China eles são extremamente relevantes, um ímã para profissionais do mundo inteiro, de mercados onde as empresas da China já atuam, como Brasil, Europa e Austrália, até analistas dos Estados Unidos, apesar das restrições de importações. Esse interesse pela indústria asiática se reflete também nos espaços de cada marca. Embora as montadoras ocidentais estivessem presentes, o público queria mesmo era ver as novidades das fábricas nacionais.

O sucesso do Shanghai Auto Show é reflexo do poder da indústria automotiva da China, hoje a maior do mundo tanto em produção quanto em tamanho de mercado. O país tem mais de noventa marcas próprias, além de 43 joint ventures com outras montadoras. Para além do mercado interno, tem começado a conquistar fatias expressivas do setor em outros países. Nem mesmo as tarifas de 145% impostas a produtos chineses pelo presidente americano, Donald Trump, representam um empecilho digno de nota. Pelo contrário. Os empresários chineses veem isso como oportunidade. “Os Estados Unidos não fazem parte de nossa estratégia de globalização. Não somos impactados”, afirma Zhu Jiangming, fundador, presidente e CEO da Leapmotor, startup que está prestes a estrear no Brasil por meio de uma joint venture com a Stellantis, dona de marcas como Fiat, Jeep, Peugeot e Ram. Os primeiros veículos chegarão ao mercado nacional no segundo semestre, em versões eletrificadas.
O governo de Pequim sempre exigiu que montadoras estrangeiras formassem parcerias como contrapartida para acessar o enorme mercado local. No princípio, os chineses usavam essa proximidade para produzir cópias do automóveis vindos de fora. Hoje, são reconhecidos como um dos grandes polos de inovação nessa área. Por isso, trabalhar com eles passou a ser uma estratégia fundamental para garantir a sobrevivência em tempos de veículos de nova energia, como são chamados os carros elétricos ou híbridos. A Leapmotor não é a única. Volkswagen e Mercedes, por exemplo, têm projetos locais, mas que muitas vezes servem de base para outros lançamentos internacionais.

E nesse cenário de expansão global o Brasil tem um papel fundamental não apenas pelo seu representativo mercado local, mas como centro de produção para países vizinhos na América Latina. A chinesa GWM, que já tem uma linha de produtos à venda, está finalizando uma fábrica em Iracemápolis, no interior de São Paulo, que produzirá não apenas modelos híbridos, como o SUV Haval, mas também a combustão, como a picape a diesel Poer. “A fábrica do Brasil é estratégica em nossa visão de longo prazo. Queremos ter uma cadeia completa, presente e integrada no país”, afirma Jack Wei, fundador e presidente da GWM. Segundo Ricardo Bastos, diretor de assuntos institucionais da GWM Brasil, a fábrica é fundamental para atender às diferentes demandas dos clientes brasileiros e sul-americanos. “Precisamos nacionalizar a produção para avançar em outros mercados”, afirma. Esse tipo de estratégia ajuda a manter o ritmo com que os chineses vêm atropelando a concorrência. Se Detroit um dia foi o centro do universo automotivo mundial, agora a direção dos rumos dessa indústria está cada vez mais em locais como Xangai.
Publicado em VEJA de 9 de maio de 2025, edição nº 2943