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Aparelhos da TV Box são a evolução da pirataria, crime cercado de riscos

Ilegais, eles estão cada vez mais presente em casas brasileiras de todas as classes sociais

Por Luiz Felipe Castro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h54 - Publicado em 4 set 2021, 08h00

Na linguagem popular, fazer um gato — ou gambiarra — significa furtar energia elétrica com uma ligação clandestina. Surgiu daí o “gatonet”, termo usado para definir o acesso ilegal a canais de TV pagos. No início, a prática se resumia à instalação de antenas paralelas e decodificadores, uma forma encontrada por parte da população para ter acesso ao conteúdo das TVs por assinatura a um preço bem mais acessível. A pirataria evoluiu na mesma medida que o hábito de parar diante de uma ou mais telas em busca de entretenimento. Na era do streaming e dos serviços sob demanda, o gato surfou as ondas da internet e chegou a bairros nobres. A nova febre são as chamadas TVs Box , que oferecem um cardápio praticamente ilimitado.

A TV Box, aparelho que tem esse nome por ter formato de caixa, não é ilegal por si só. Uma vez conectado na internet, o dispositivo é capaz de transformar uma TV comum em smart TV, dando acesso a canais e plataformas de streaming. Entre as opções homologadas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) — legalizadas, portanto —, há modelos da Apple, da Xiaomi e das operadoras, mas não são esses que vêm dando dor de cabeça para as autoridades. O queridinho dos piratas é o BTV, um receptor que dá acesso a uma lista de IPTV (sistema de transmissão de sinal de TV via internet) com mais de 300 canais brasileiros e estrangeiros, alguns em 4K e HD, além de milhares de séries, filmes (incluindo os recém-­lançados) e plataformas de games.

arte pirataria

Trata-se de um espetacular furto de sinais. A mensalidade? Gratuita. Basta comprar o aparelho produzido na China, vendido na faixa de 1 200 reais, ligá-lo ao cabo HDMI, conectar a internet via wi-fi ou cabo, e preparar a pipoca. Há ainda outras opções de TV Box, com mensalidades na casa dos 30 reais, uma ninharia perto dos pacotes básicos de operadoras como Claro/Net, Sky e Vivo. A alternativa parece interessante para muita gente, mas não custa lembrar que, ao comprar esse tipo de equipamento, um cidadão está faltando com a ética e alimentando a contrafação.

O cerco contra a pirataria tem aumentado. Desde o início de 2020 , o Plano de Ação de Combate à Pirataria, criado pela Anatel, apreendeu 2,7 milhões de produtos piratas, sendo 851 000 TVs Box. “Temos combatido, seja com campanhas de conscientização, seja com repressão, a falsa impressão de legalidade”, diz Eduardo Carneiro, coordenador de Combate à Pirataria da Ancine. “No passado, havia a visão romântica de que a pirataria é uma espécie de Robin Hood, que tira dos ricos para dar aos pobres, mas não passa de crime organizado.”

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MADE IN CHINA - Apreensões: mais de 800 tipos de TV Box já entraram no país -
MADE IN CHINA – Apreensões: mais de 800 tipos de TV Box já entraram no país – (Polícia Civil de São Paulo/.)

De acordo com o Código Penal, violações de direitos autorais estão sujeitas a multas e até quatro anos de reclusão, embora no Brasil sejam raríssimas as punições desse tipo. Vendedores e compradores também podem ser denunciados por contrabando, crime contra as relações de consumo e concorrência desleal. Os esforços da Anatel, em conjunto com a Receita Federal, Rede Globo, operadoras e redes sociais, concentram-se no momento em impedir a entrada e bloquear esses aparelhos.

É importante ressaltar que os riscos vão além da esfera criminal. Seja nas TVs Box, seja em sites ilegais, que respondem por 60% da pirataria no país, há registros de ataques hackers, com roubo de dados pessoais, e até explosões dos aparelhos. “Fizemos um trabalho de engenharia reversa que comprovou que, por meio dessas caixas, é possível acessar câmeras e microfones de todos os aparelhos conectados à rede”, diz Wilson Wellisch, superintendente de fiscalização da Anatel. “É um fato: hackers estão roubando dados por meio da TV Box.” O gatonet 2.0 pode funcionar num primeiro momento, mas uma hora ou outra ele subirá no telhado.

Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2021, edição nº 2754

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