Alexandre Gaules: “A internet ainda é um Velho Oeste”
Dono do maior canal de e-sports do planeta fala de como os hábitos do público vêm mudando e enfatiza a responsabilidade dos criadores de conteúdo
Estamos passando por um momento de transição na maneira como as pessoas consomem vídeo? Não há dúvida. Durante a pandemia, muita gente encontrou nas lives um porto seguro, uma companhia. E aquilo virou parte da rotina das pessoas. Elas passaram a me seguir em minhas transmissões ao vivo, quando jogo videogame e até mesmo quando assisto a filmes e séries. Esse é um novo jeito de consumir conteúdo.
O streaming e as lives se tornaram substitutos para a TV? Antigamente, a pessoa ligava a televisão, deixava em um canal específico e ficava o dia inteiro naquilo. Agora, a coisa mudou: ela escolhe um criador de conteúdo ou um canal na internet, e o streaming é que faz esse papel, com a diferença de que também oferece ferramentas de interação, como os chats para bate-papo. É exatamente isso o que eu quero: ser uma permanente companhia para quem me segue.
À medida que seu canal se expande, o perfil dos seguidores vai mudando? Isso é muito nítido. Antes, mães vinham me dizer que seus filhos acompanhavam o canal. Agora, as pessoas vêm falar para mim que minhas transmissões não saem mais da TV da sala. Isso traz uma responsabilidade muito grande. Existe uma forma de você se comportar no quarto entre os amigos e outra quando está na sala da casa, falando a um público mais amplo.
Como garantir um espaço seguro para os fãs do canal? A internet ainda é um Velho Oeste, um mundo meio sem lei. Quando falamos de problemas nas redes, nos fóruns, nos games, estamos nos referindo ao grande palco de tudo isso, que é a internet. Então, o que podemos fazer é dar o bom exemplo, deixando claro que temos valores e distinguindo o que é legal do que não é. Ao mesmo tempo, é vital deixar espaço para cada um ter o próprio pensamento.
Qual é a responsabilidade de um criador de conteúdo nas redes? Todo mundo que tem uma imagem pública sabe que muita gente vai se inspirar nela. Não adianta tentar escapar dessa responsabilidade. Vários seguidores que nos assistem têm no canal um exemplo. Me sinto, portanto, na obrigação de tentar ser no mínimo uma pessoa boa.
O Brasil já é reconhecido por seus atletas de e-sports e streamers. O que falta para o mercado amadurecer? Não há como mudar de patamar sem profissionalização. Esse é o caminho para ficar grande.
Publicado em VEJA de 19 de julho de 2023, edição nº 2850