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Zika: sequelas da doença podem surgir em bebês após os 2 anos de idade

Novo estudo indica que mesmo crianças que não foram diagnosticadas com microcefalia - uma das consequências do Zika - podem apresentar sequelas tardias

Por Redação
11 jul 2019, 18h42

Entre 2015 e 2016, o Brasil passou por uma epidemia de zika. Algumas gestantes infectadas pelo vírus deram à luz crianças com microcefaliacondição neurológica em que a cabeça do bebê é muito menor por causa do desenvolvimento anormal do cérebro. Outras gestantes tiveram zika, mas as crianças não pareciam ter sido afetadas pela microcefalia.

Apesar disso, novo estudo indica que 31,5% dessas crianças consideradas “normais” podem apresentar problemas de desenvolvimento cerebral tardios que aparecem a partir dos 7 meses de idade – em alguns casos, esses sinais podem aparecer só aos 2 anos e meio. Além disso, segundo os pesquisadores, um número considerável de bebês começou a apresentar sintomas de autismo.

“Os médicos simplesmente olhavam para essas crianças quando nasciam e achavam que, por não ter microcefalia e parecerem normais, elas estavam bem. Mas, na verdade, há repercussões para o desenvolvimento do cérebro”, explicou Karin Nielsen-Saines, principal autora do estudo, ao The Washington Post

Maria Elisabeth Moreira, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que também participou do estudo, esclarece que alguns sintomas têm maior prevalência. “O problema mais comum foi atraso no desenvolvimento da linguagem, mas observamos também atrasos motores e cognitivos”, disse a pediatra. Por causa disso, os pesquisadores ressaltam a importância de manter o acompanhamento constante de qualquer criança cuja mãe tenha sido infectada pelo vírus durante a gestação.

A pesquisa ainda revelou que alguns bebês que nasceram com microcefalia tiveram uma melhora nos sintomas, que incluem problemas oculares, auditivos, musculares e nas articulações. Alguns dos progressos estão relacionados a intervenções cirúrgicas e terapia de estimulação, que devem ser realizadas desde os primeiros meses de vida. Apenas um caso pareceu ter se resolvido naturalmente: depois de completar um ano, o bebê tinha a cabeça de tamanho normal e não apresentava problemas de desenvolvimento.

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Sintomas tardios

Para chegar a essa descoberta, os pesquisadores – incluindo uma equipe brasileira – acompanharam 216 bebês nascidos durante a epidemia de zika no Brasil e cujas mães tiveram diagnóstico confirmado da doença em algum momento da gestação. As observações mostram que 68 crianças (31,5%) apresentaram problemas neurológicos a partir dos 7 meses de idade.

“Há outras causas para atrasos no desenvolvimento, mas vemos uma associação porque temos um grupo controle de bebês, de mães que não foram infectadas pelo zika, e, nesse grupo, o índice de bebês com problemas no neurodesenvolvimento é de 15%, metade do registrado no grupo de bebês de mães com zika”, comentou Maria Elisabeth. 

Os resultados da pesquisa reforçam descobertas feitas pelo mesmo grupo logo após o início da epidemia. Na época, os cientistas já haviam verificado que as sequelas da infecção poderiam aparecer meses após o nascimento. Agora, com as crianças mais velhas e a possibilidade de um tempo maior de monitoramento, os cientistas concluem que o aparecimento dos problemas pode ser ainda mais tardio.

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Casos inversos

Os cientistas também acharam entre os bebês monitorados casos inversos, ou seja, nos quais o bebê nasceu com alguma anormalidade e se desenvolveu normalmente depois. Do total de crianças acompanhadas, 49 apresentavam algum problema logo após o nascimento, mas 24 delas (49%) tiveram avaliações normais no segundo e terceiro anos de vida.

Entre os bebês com alguma anormalidade, oito haviam sido diagnosticados com microcefalia. Destes, dois voltaram a ter um crescimento cerebral adequado, sem apresentar, no decorrer do crescimento, qualquer problema neurológico, motor, visual ou na linguagem. Maria Elisabeth destaca que esses dois bebês puderam ter uma boa evolução porque, embora tivessem perímetro cefálico abaixo do adequado ao nascer, não tinham lesão cerebral, diferentemente da maioria dos bebês com microcefalia.

Para os pesquisadores, ambos os achados do estudo reforçam a necessidade de monitoramento constante dessas crianças para detecção de eventuais sequelas tardias e do início precoce das terapias de estimulação para que eventuais anormalidades detectadas no nascimento possam ser revertidas ou minimizadas. “Essa, eu acho, é a mensagem principal: é preciso seguir essas crianças para permitir intervenções que possam dar a elas um futuro melhor”, destacou Karin. 

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Desafios

A oferta de tratamento de qualidade para as crianças que nascem com microcefalia no Brasil ainda é limitado. De acordo com dados do Ministério da Saúde, dos 3.300 bebês nascidos com má-formação causada pelo zika entre 2015 e 2018, apenas 35% têm acesso à estimulação precoce – tratamento multiprofissional que auxilia no desenvolvimento motor e cognitivo das crianças.

Outro problema é a falta de recursos para pesquisas que mostrem o impacto das terapias de estimulação nessas crianças. “Precisamos de mais investimentos. Tentamos, mas não conseguimos financiamento para essa pesquisa”, diz Maria Elisabeth.

(Com Estadão Conteúdo)

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