O que diz cientista no centro da teoria de que vírus da Covid saiu de laboratório
Análise de amostras do Instituto de Virologia de Wuhan mostram não haver parentesco de nenhum dos patógenos armazenados com o que causou a pandemia
Desde o início do surto da Covid-19, muito foi discutido a respeito da origem do vírus. Logo ganhou força uma teoria conspiratória, alegando que o patógeno teria vazado de uma laboratório de alta contenção biológica – algo que foi, inclusive, reafirmado em um relatório recente elaborado por um comitê republicano, nos Estados Unidos. Agora, no entanto, mais um estudo indica não haver evidências para isso.
A conclusão veio em um trabalho divulgado na última semana, na conferência “Preparando-se para a próxima pandemia”, realizada no Japão. Nela, Shi Zhengli, especialista que trabalhou no Instituto de Virologia de Wuhan (IVW), revela que nenhuma das amostras do laboratório tem parentesco com o SARS-CoV-2, causador da pandemia.
De acordo com reportagem da Nature, ela já havia dito que o vírus causador da Covid-19 nunca foi estudado no laboratório de Wuhan, mas após sucessivas alegações sobre suposta falha de segurança, ela prometeu sequenciar o genoma dos coronavírus estudados no IVW. “Não encontramos nenhuma nova sequência que esteja mais intimamente relacionada ao SARS-CoV-1 e ao SARS-CoV-2”, disse em uma gravação apresentada na conferência.
O laboratório contém amostras de coronavírus obtidos de morcegos entre 2004 e 2021. O que a análise revela é que nenhum dos 56 vírus armazenados no laboratório tinha proximidade genética com os patógenos que se espalharam pelo mundo, o que refuta a teoria de que houve algum tipo de vazamento.
De onde veio o vírus da Covid-19?
Na mesma conferência, um outro estudo corroborou a teoria que é mais aceita. Entre especialistas, a tese com mais aceitação é a de que o primeiro contato do vírus com humanos aconteceu em um mercado úmido, em Wuhan.
Até hoje, nenhuma análise mostrou que qualquer dos animais presentes no mercado estava infectado com o SARS-CoV-2, mas estudos anteriores já revelaram que vários dos mamíferos eram susceptíveis a infecção: vison-americano (Vison neogale), arminho (Mustela erminea), gato de algália (Paguma larvata), cães-guaxinim (Nyctereutes procyonoides), raposas vermelhas (Vulpes vulpes) e Arctonyx (Arctonyx collaris).
A análise mais recente, realizada por cientistas no Canadá, se aprofundou no estudo das amostras coletadas desses animais. O que ela mostrou, de acordo com os pesquisadores, dois dos animais, um cães-guaxinins e um arctonyx, estavam com o padrão de resposta imune compatível com uma infecção. Além disso, eles revelaram que essa resposta é muito semelhante à observada em humanos infectados com o SARS-CoV-2, embora amostras do vírus não tenham sido encontradas.
Ambos os trabalhos, embora já apresentados a comunidade científica, precisarão ser publicados em revistas científicas, quando passarão por validação por pares, processo que deve validar os resultados encontrados pelos pesquisadores.