Vacina intranasal pode prevenir sintomas e transmissão do coronavírus
Imunizante em desenvolvimento pela Universidade Lancaster conseguiu reduzir o impacto da doença e a liberação de vírus em animais infectados
Atualmente, mais de 16 vacinas contra o novo coronavírus estão em uso no mundo. Mesmo assim, pesquisadores continuam trabalhando no desenvolvimento de novos imunizantes que poderiam ser mais eficazes e de administração mais simples. Um exemplo disso é a busca por vacinas administradas via spray nasal. Nesta terça-feira, 10, pesquisadores da Universidade Lancaster, no Reino Unido, anunciaram um passo significativo nessa direção.
Resultados de um estudo pré-clínico publicados na revista científica iScience revelou que a vacina intranasal foi capaz não só de reduzir os sintomas da Covid-19 como a transmissão do vírus. Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores administraram duas doses da vacina em hamsters, que depois foram expostos ao SARS-CoV-2.
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Os resultados mostraram que os animais vacinados desenvolveram anticorpos neutralizantes contra várias variantes do SARS-CoV-2, incluindo aquelas que surgiram recentemente, levantando a possibilidade de fornecer ampla proteção em indivíduos vacinados. A vacina também conferiu proteção completa contra infecção pulmonar, inflamação e lesões patológicas nos animais vacinados e ainda diminuiu significativamente a replicação e liberação do vírus pelo nariz e pelos pulmões das cobaias, o que pode se traduzir em prevenção não só dos sintomas, mas também da transmissão de vírus.
“Nossos estudos demonstram que a indução de uma resposta imune local no ponto de entrada do SARS-CoV-2 tem o potencial não apenas de limitar a evolução da doença clínica, mas também – e talvez ainda mais importante – a transmissão do vírus de indivíduos infectados para não infectados”, disse o virologista Muhammad Munir, líder do estudo realizado em parceria com o Texas Biomedical Research Institute, nos Estados Unidos.
As vacinas tradicionais, administradas de forma injetável, já se provaram altamente eficazes e eficientes na prevenção em especial de casos graves e óbitos pela Covid-19. Entretanto, ainda não existem muitas evidências sobre seu impacto na transmissão do vírus. Logo, se o resultado do teste em animais da vacina intranasal se comprovar nas próximas fases em humanos, será uma grande vantagem no combate à pandemia.
O novo imunizante é baseado no vírus da doença de Newcastle, geneticamente modificado para produzir as proteínas spike do SARS-CoV-2. É essa proteína que vai enganar o sistema imunológico para que ele desenvolva uma resposta imune contra o coronavírus.
O vírus da doença de Newcastle é comum em aves domésticas e pode se replicar em humanos, mas é inofensivo, segundo os pesquisadores. Aliás, esse mesmo vírus é utilizado na ButanVac, outro imunizante contra a Covid-19 em fase de desenvolvimento, no Instituto Butantan.
“Este é um próximo passo empolgante no desenvolvimento de um imunizante, que tem o potencial de aumentar a acessibilidade de uma vacina para as pessoas em casa e em todo o mundo”, disse o professor Jo Rycroft-Malone, reitor da Faculdade de Saúde e Medicina da Universidade de Lancaster.
Vantagens
Uma vacina em forma de spray nasal de vacina oferece várias vantagens em comparação com as abordagens convencionais, incluindo a forma de administração não invasiva, a indução de imunidade local, além de ser uma alternativa para pessoas com medo de agulhas ou com outras condições médicas. Atualmente uma vacina intranasal contra o Influenza, vírus causador da gripe, já é usada em alguns países – o Brasil não é um deles -, o que demonstra que essa é uma forma eficaz de administração de imunizantes.
Porém, ela tem outra grande vantagem: o baixo custo de produção de facilidade de produção em escala. Essas características são particularmente importantes para ampliar a oferta e distribuição de vacinas contra a Covid-19 em países em desenvolvimento.
“Estamos entusiasmados com a escalabilidade desta vacina nasal que, esperamos, contribua para reduzir a desigualdade na imunização, permitindo igual acesso à vacinação em todo o mundo. A aplicação nasal também é mais atraente via de entrega para uso em crianças.”, disse Lucy Jackson-Jones, professora da Universidade Lancaster.
Vale lembrar que essa não é a única vacina em forma de spray nasal em desenvolvimento no mundo, incluindo o Brasil. O imunizante em spray totalmente nacional é fruto de uma parceria entre pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto do Coração (InCor). O projeto também está na fase de conclusão dos ensaios pré-clínicos, com resultados promissores, segundo os pesquisadores. A expectativa é o avanço para os estudos em humanos ocorra até o início de 2022.
Confira o avanço da vacinação no Brasil: