Taxa de cesárea na rede privada de SP chega a 82,6%
Na rede privada da capital, as cesáreas chegam a 82% dos partos, contra 34% na rede pública. A recomendação da OMS é que apenas 15% sejam feitos dessa forma
A taxa de nascimentos por cesariana na rede privada da capital chega a 82,6%. O percentual supera em mais de duas vezes o índice registrado na rede pública, que, segundo levantamento da Secretaria Municipal da Saúde, com base nos dados de 2016, é de 34,7%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que apenas 15% dos partos ocorram com intervenção cirúrgica.
Mudança cultural e preferência do médico
Nas maiores maternidades privadas da cidade, o índice beira os 90%. Segundo o médico Luiz Fernando Ferrari, vice-presidente do Sindicato dos Hospitais do Estado de São Paulo (Sindhosp) e diretor da Federação dos Hospitais do Estado (Fehoesp), as maternidades privadas têm tentado incentivar práticas mais humanizadas no parto, mas a mudança esbarra em questões culturais. “Além disso, o modelo de assistência atual é muito focado no médico. Muitas vezes, ele acaba agendando a cesárea.”
Foi o que aconteceu com a farmacêutica Carla Marchini Silva, de 34 anos, mãe de Ágatha, de um ano e dois meses. Logo no início da gestação, ela foi informada pela obstetra sobre um problema no cordão umbilical que poderia aumentar o risco de uma hemorragia em caso de parto normal. Ao fim da gestação, com 38 semanas, agendou uma cesariana, seguindo orientação médica. “Eu até acho que dava para ter esperado mais um pouco e não era certeza de que ocorreria a hemorragia, mas não quis assumir o risco de alguma coisa acontecer comigo ou com minha filha.”
Exemplo de sucesso
No grupo dos hospitais com maiores taxas de parto normal está o Tide Setúbal, na zona leste, uma das nove unidades municipais a desenvolver o programa Parto Seguro, fruto de uma parceria da Prefeitura com o Centro de Estudos e Pesquisas Dr. João Amorim (Cejam). “São várias ações: implementação de salas e UTIs humanizadas, formação de profissionais e promoção de visitas monitoradas de gestantes aos hospitais”, diz Alberto Guimarães, obstetra e gerente médico do Cejam para o Parto Seguro.
A atenção da equipe médica e de enfermagem do Tide Setúbal foi o que tranquilizou a vendedora Laryanne de Souza Silva, de 22 anos, no parto de Sophia, no dia 15. “Na primeira gestação, fiz cesárea. Desta vez, as enfermeiras me ajudaram.”
Epidemia
De acordo com um relatório elaborado pela OMS em abril de 2015, o Brasil é um dos líderes disparados em cesarianas. No ranking, somos o único país do globo a ter mais da metade de todos os nascimentos feitos por essa cirurgia: 53,7%. Dito isso, desde 2014, o governo tem editado normas e resoluções para evitar o que chama de “epidemia de cesarianas”.
Entre todas, as mais relevantes são a Rede Cegonha, programa de acompanhamento e assistência a gestantes oferecido pelo SUS , e o programa Parto Adequado, parceria entre o Ministério da Saúde, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), o Hospital Israelita Albert Einstein e o Institute for Healthcare Improvement (IHI), organização sem fins lucrativos de Massachusetts, nos Estados Unidos.
(Com Estadão Conteúdo)