Namorados: Assine Digital Completo por 1,99

Substância evita o agravamento do Parkinson em camundongos

Composto conhecido como AG-490 reduziu em aproximadamente 60% a morte de neurônios nos animais, relataram pesquisadores da USP

Por Agência Fapesp
Atualizado em 13 jul 2022, 17h42 - Publicado em 25 abr 2022, 11h33

Pesquisa desenvolvida no Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) aponta um novo caminho em direção à cura da doença de Parkinson. Os resultados foram divulgados na revista Molecular Neurobiology.

Como explicam os autores, a enfermidade é caracterizada pela morte precoce ou pela degeneração das células existentes na região da substância negra do cérebro, responsável pela produção do neurotransmissor dopamina. A ausência ou diminuição de dopamina afeta o sistema motor, causando tremores, lentidão de movimentos, rigidez muscular, desequilíbrio, além de alterações na fala e na escrita. Há também sintomas não motores, como alterações gastrointestinais, respiratórias e psiquiátricas, por exemplo. Não há cura, apenas controle dos sintomas.

“Em camundongos, conseguimos diminuir cerca de 60% da morte celular inibindo o TRPM2 – um dos canais de entrada de cálcio nas células do cérebro. Isso foi feito com uma substância à base da molécula tirfostina, chamada de AG-490. Os camundongos que não receberam a substância apresentaram um resultado 70% pior nos testes comportamentais”, conta o professor do ICB-USP Luiz Roberto G. Britto, que coordenou o estudo no Laboratório de Neurobiologia Celular. Também participaram pesquisadores do Instituto de Química (IQ-USP) e da Universidade de Toronto, no Canadá.

A estratégia, segundo Britto, interferiu com uma das quatro vertentes conhecidas pela ciência pelas quais o Parkinson promove a morte neuronal. “Entre as causas estão algumas disfunções metabólicas e acúmulo anormal de proteínas, a neuroinflamação do cérebro, o estresse oxidativo provocado pelo acúmulo de espécies reativas de oxigênio e o aumento na atividade dos canais de entrada de cálcio – que nós conseguimos impedir ao menos em parte”, explica. “Em todas as células do organismo, quando esses canais estão muito ativos, a tendência é que ocorra uma sobrecarga de cálcio. Isso ativa uma série de enzimas que degradam as estruturas das células, levando-as à morte.”

“Com o estudo, chegamos à conclusão de que, quando bloqueamos o canal, a degeneração naquelas regiões onde os neurônios são mortos pela doença diminuiu bastante. O mesmo aconteceu nos locais em que aqueles neurônios se projetam e têm contatos sinápticos, o que ajudou a preservar a dopamina, um neurotransmissor fundamental para os movimentos, entre outras funções”, relata o pesquisador.

Continua após a publicidade

Próximos passos

Os testes foram realizados em camundongos que receberam injeção da toxina 6-hidroxidopamina, indutora de sintomas semelhantes ao da doença de Parkinson. Os animais foram então divididos em dois grupos. Em um deles foi aplicada a substância AG-490; no outro, não. Após seis dias, passaram a ser feitos testes para avaliar a capacidade de equilíbrio e outros comportamentos motores dos animais. Depois de sacrificados, foi feita a contagem de neurônios que produzem dopamina na substância negra, que classicamente está envolvida com a doença. A região onde essas células se conectam, o estriado, também foi estudada em termos da presença de sinapses dopaminérgicas. Em ambas as regiões, houve menor prejuízo com a administração do AG-490, tanto em termos comportamentais como em termos do número de células e terminais degenerados.

Segundo Britto, antes de avançar para testes clínicos serão necessários muito mais estudos. “Para que tenhamos um fármaco à base de AG-490, precisamos ter certeza de que essa substância funciona depois da aplicação da toxina, já que por enquanto ela foi administrada ao mesmo tempo da injeção da substância que produz o modelo de Parkinson. Vamos também testar animais geneticamente modificados para o TRPM2, esperando que eles sejam mais resistentes em termos da morte neuronal nesse modelo. Além disso, é preciso estudar as possíveis consequências colaterais da injeção da substância.”

O artigo é fruto de uma linha de pesquisa de Britto, que investiga o assunto há mais de dez anos. Esta etapa foi desenvolvida durante o doutorado da bióloga Ana Flávia Fernandes Ferreira, bolsista da Fapesp. O trabalho também recebeu financiamento por meio de um Projeto Temático coordenado pelo professor do IQ-USP Alexander Henning Ulrich.

Continua após a publicidade

Em estudo anterior, o grupo obteve resultado similar com outra substância, o carvacrol, para bloquear outro canal celular, o TRPM7, que faz parte da mesma família de canais para o íon cálcio que o TRPM2.

Avanços nas pesquisas que buscam a cura da doença de Parkinson são urgentes. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a condição atinge 1% das pessoas com mais de 65 anos e chega a 4% entre a população com mais de 80 anos. Artigo publicado na revista Lancet mostra que entre 1990 e 2015 os casos de Parkinson dobraram em virtude do envelhecimento da população mundial, saltando de cerca de 26 mil para cerca de 62 mil a cada 1 milhão de habitantes.

“Neste sentido, as perspectivas para o futuro não são boas, porque imagina-se que até 2050 parte considerável dos idosos esteja vivendo até os 120 anos. As soluções precisam ser imediatas para a segunda doença neurodegenerativa mais comum, atrás apenas do Alzheimer. Hoje a medicina trata apenas dos sintomas da doença para tentar melhorar a qualidade de vida do paciente, mas não impede que, com o tempo, eles progridam e que a degeneração das células do cérebro continue”, afirma Britto.

Com informações da Assessoria de Comunicação do ICB-USP

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.