Stress aumenta o risco de infarto e AVC mesmo em quem não tem hipertensão
A elevação constante do cortisol no sangue está associada a maior probabilidade de desenvolver pressão alta na próxima década
Não é novidade que o stress, em especial crônico, faz mal à saúde e ao bem-estar. A mais nova evidência sobre o assunto revelou que pessoas com pressão arterial normal que apresentam altos níveis de cortisol continuamente, o hormônio do stress, apresentam um risco aumentado de desenvolver hipertensão na próxima década ou mais.
A pesquisa, publicada nesta segunda-feira, 13, na revista científica Circulation, mostra ainda que altos níveis de stress aumentam o risco de infarto, AVC ou doença cardíaca. A condição é particularmente prejudicial para jovens.
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Para chegar a essa conclusão os pesquisadores acompanharam 412 adultos com idade entre 48 e 87 anos com pressão arterial normal, medindo os níveis de hormônios do stress na urina em vários momentos ao longo de 13 anos, entre 2005 e 2018. Os níveis hormonais foram comparados a quaisquer eventos cardiovasculares que possam ter ocorrido, como hipertensão, dores no coração, ataques cardíacos e cirurgia de ponte de safena.
“Pesquisas anteriores se concentraram na relação entre os níveis de hormônio do stress e hipertensão ou eventos cardiovasculares em pacientes com hipertensão existente. No entanto, faltavam estudos em adultos sem hipertensão”, disse Kosuke Inoue, principal autor do estudo e professor assistente de epidemiologia social na Universidade de Kyoto, no Japão.
A pesquisa avaliou três hormônios – norepinefrina, epinefrina e dopamina – que regulam o sistema nervoso autônomo e controlam funções involuntárias do corpo como frequência cardíaca, pressão arterial e respiração. Os pesquisadores analisaram os níveis de cortisol, um hormônio que é liberado pelo corpo em reação ao estresse agudo, como o perigo. Uma vez que o perigo passa, o corpo reduz a produção de cortisol – mas se uma pessoa está continuamente estressada, os níveis de cortisol podem permanecer elevados.
“Norepinefrina, epinefrina, dopamina e cortisol podem aumentar com o stress de eventos da vida, trabalho, relacionamentos, finanças e muito mais”, disse Inoue.
Os resultados mostraram que dobrar os níveis de cortisol, sem alterar os outros hormônios, foi associado a um risco 90% maior de sofrer um evento cardiovascular. Além disso, cada vez que os níveis combinados de quatro hormônios – cortisol, norepinefrina, epinefrina e dopamina – dobraram, o risco de desenvolver pressão alta aumentou entre 21% e 31%. O efeito foi mais pronunciado em pessoas com menos de 60 anos, o que foi considerado preocupante pelos pesquisadores.
“Nesse contexto, nossos resultados geram a hipótese de que os hormônios do stress desempenham um papel crítico na patogênese da hipertensão entre a população mais jovem”, escreveram eles. As limitações do trabalho incluem a ausência de um grupo controle e o uso de apenas uma medida – análise de urina – para avaliar os níveis hormonais.
É claro que, na prática, não é possível realizar exames constantes para saber o nível de stress. Sendo assim, a melhor forma de prevenir é tentar mudar a resposta que a mente dá a situações de tensão. Em entrevista à CNN internacional, Cynthia Ackril, especialista em gerenciamento do stress, recomenda prestar atenção ao que desencadeia o stress para que seja possível interromper as reações hormonais automáticas antes que elas acionem o sistema circulatório.
“O mecanismo do stress é que ficamos preocupados com alguma coisa, de modo que nosso sistema nervoso simpático acelera tudo. É preciso intervir logo no início dessa resposta por meio de respiração profunda ou outra forna de relaxamento”, explicou a especialista.