Saiba quando o café faz bem ou faz mal ao coração
Estudo do InCor mostra efeitos de grãos puros ou misturados, e seus benefícios e malefícios

Um estudo publicado no Journal of Clinical Medicine por pesquisadores do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP) revela que certos tipos de grãos de café e a combinação entre eles podem afetar a saúde de diferentes maneiras, além de ainda acionar uma proteína do bem no organismo.
Realizado na Unidade de Pesquisa Café-Coração do InCor, a pesquisa é a primeira a avaliar e comparar dois tipos de grãos mais consumidos no Brasil, o arábica e o robusta, e seus efeitos quando misturados. As análises identificaram que, independentemente do grão, o consumo aumentou a concentração no sangue da sirtuína-1, uma proteína natural conhecida como “gene da longevidade”, que pode ajudar a reduzir o envelhecimento celular e o risco de doenças crônicas.
“Os resultados indicam que o consumo do grão arábica e do robusta aumenta a expressão da sirtuína-1″, afirma Luiz Antonio Machado César, diretor da Unidade de Coronariopatia Crônica do InCor. “Mas também sugerem que a mistura dos dois aumentou os níveis de colesterol HDL e LDL no sangue, um fator que pode aumentar o risco cardiovascular”, alerta.
De acordo com o médico, o motivo pelo qual o café misturado aumentou a taxa total de HDL e especialmente LDL no sangue pode ser atribuída às gorduras do produto, como o cafestol e o cafeol. “Os resultados sugerem que o ideal é dar preferência ao café arábica pelos melhores benefícios cardiometabólicos do grão”, diz.
O estudo do Incor acompanhou 53 adultos saudáveis, de ambos os sexos, que ingeriram uma quantidade diária de 450 mL a 600 mL, cerca de 3 a 4 xícaras de café arábica puro e do café misturado (80% arábica e 20% robusta), durante oito semanas. Foram comparadas amostras do sangue do grupo que consumiu café puro e do que tomou misturado, levando em conta os índices de colesterol total, LDL-c e HDL-c, lipídios e homocisteína, um aminoácido relacionado a doenças cardiovasculares como AVC, infarto, doença coronariana e trombose.
A concentração de café utilizado para o estudo foi 15g por 150 ml de água para o processo de filtração, método escolhido por manter as propriedades do grão durante o preparo e reduzir os níveis de diterpeno (substância que aumenta o nível de gordura no sangue). Durante o estudo, os participantes foram orientados a não consumir alimentos como cacau, guaraná, chocolate e chá, devido à existência de cafeína nesses produtos.
Sobre o café, é bom ressaltar que não contém apenas ou principalmente cafeína. Na verdade, ela representa 1% a 2,5% dos componentes, menos do que outras substâncias que podem ser mais importantes para o organismo humano como os 19 tipos de minerais (potássio, magnésio, cálcio, sódio, ferro, manganês, zinco etc.), 16 aminoácidos, lipídeos, como os triglicerídeos, ácidos graxos livres e açúcares, além da niacina, vitamina do complexo B.
O café traz ainda em sua composição ácidos clorogênicos, que formam vários outros compostos durante a sua torra, entre eles, os quinídeos, que afetam a área das emoções no cérebro e que, quando em descompasso, leva ao desejo excessivo pela autogratificação, insatisfação e depressão, gatilhos para o consumo de cigarro, álcool e drogas ilegais.
Apenas a cafeína é termo-estável, ou seja, não é destruída com a torrefação excessiva. As demais substâncias, como aminoácidos, açúcares, lipídeos, niacina e os ácidos clorogênicos são preservadas, formadas ou destruídas durante o processo de torra. O café com torra ideal é aquele que tem a cor marrom (claro ou escuro) como o chocolate. Já o preto, torrado em excesso, possui apenas a cafeína e grande quantidade de cinzas.