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Qual o problema sério que a Covid-19 pode trazer ao intestino?

Estudo mostra que coronavírus aumenta o risco de outras infecções ao reduzir as espécies bacterianas intestinais, independente do uso de antibióticos

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 nov 2022, 16h14 - Publicado em 2 nov 2022, 16h14

Mais um risco da Covid-19: a infecção pelo SARS-CoV-2 pode reduzir o número de espécies bacterianas do intestino, criando espaço para a proliferação de outros micróbios perigosos. É o que indica um novo estudo da Escola de Medicina Grossman, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, publicado nesta terça-feira 1, na revista Nature Communications.

A pesquisa baseia-se na percepção do uso generalizado de antibióticos para combater infecções por bactérias causadoras de doenças, que matam as espécies mais vulneráveis ​​aos medicamentos, deixando outras mais resistentes. Além disso, em outros estudos, as interrupções nas proporções bacterianas intestinais já foram associadas a Covid grave.

“Nossas descobertas sugerem que a infecção pelo coronavírus interfere diretamente no equilíbrio saudável dos micróbios no intestino, colocando os pacientes em um risco ainda maior”, diz o microbiologista Ken Cadwell, coautor sênior do estudo. “Agora que descobrimos a fonte desse desequilíbrio, os médicos podem identificar melhor os pacientes com coronavírus com maior risco de infecção secundária na corrente sanguínea”, acrescenta.

Os pesquisadores dizem, porém, que ainda não está claro o que veio primeiro: a infecção por coronavírus, interrompendo o microbioma intestinal ou um intestino já enfraquecido que torna o corpo mais vulnerável ao vírus. O novo estudo parece favorecer a primeira hipótese, mas também revela que espécies resistentes a antibióticos podem escapar para a corrente sanguínea, colocando os pacientes em maiores riscos de vida.

A investigação foi feita com 96 homens e mulheres hospitalizados com Covid-19 em 2020, na cidade de Nova York e em New Haven, em Connecticut. Em primeiro lugar, os pesquisadores infectaram dezenas de camundongos com o coronavírus e analisaram a composição das espécies bacterianas em suas amostras de fezes. Essa etapa permitiu que eles observassem se o patógeno poderia interromper diretamente o microbioma, independentemente da hospitalização e do tratamento.

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Em seguida, eles coletaram amostras de fezes e exames de sangue de pacientes infectados nos hospitais NYU Langone Health e na Universidade Yale, para avaliar a composição dos micróbios intestinais e a presença de infecção secundária. Se algum grupo de bactérias compusesse a maioria que vivem no intestino, era considerado dominante.

Os resultados mostraram que a maioria dos pacientes tinha baixa diversidade de microbioma intestinal, com um quarto dominado por um único tipo de bactéria. Ao mesmo tempo, as populações de várias bactérias, conhecidas por incluir espécies resistentes a antibióticos, aumentaram, possivelmente pelo uso generalizado de antibióticos no início da pandemia, além de terem sido observadas migrando para a corrente sanguínea em 20% dos pacientes.

Os autores do estudo alertam, porém, que são necessárias mais pesquisas para descobrir por que esse grupo estava em maior risco de uma infecção secundária, enquanto outros permaneceram protegidos. “Nossos resultados destacam como o microbioma intestinal e as diferentes partes do sistema imunológico do corpo estão intimamente interconectados”, diz o autor sênior do estudo Jonas Schluter, professor assistente do Departamento de Microbiologia da NYU Langone. “Uma infecção em um pode levar a grandes interrupções no outro”. Schluter adverte que, como os pacientes receberam diferentes tipos de tratamentos para sua doença, a investigação não pode explicar inteiramente todos os fatores que podem ter contribuído para a ruptura de seu microbioma e piorar a doença.

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Mas de acordo com o especialista, a equipe do estudo planeja examinar por que certas espécies microbianas são mais propensas a escapar do intestino durante a Covid-19 e explorar como os diferentes micróbios interagem, o que pode contribuir para essa migração para a corrente sanguínea. “A pesquisa é a primeira a mostrar que só a infecção por coronavírus, sem o uso inicial de antibióticos para tratar a doença, como pensavam alguns especialistas, danifica o microbioma intestinal”, finalizou Cadwell, que também atual como professor dos Departamentos de Microbiologia e Medicina do NYU Langone.

 

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