Qual a relação entre as redes sociais e a saúde mental dos adolescentes?
Pesquisa joga luz sobre os hábitos online de jovens com transtornos psiquiátricos

Muito tem se falado sobre o comportamento de jovens nas redes sociais, em especial a respeito dos efeitos na saúde mental. Agora, um estudo joga luz sobre essa relação: de acordo com os pesquisadores, adolescentes ansiosos ou depressivos passam mais tempo online do que seus colegas sem esses transtornos.
O dado foi revelado em um artigo recente publicado na Nature Human Behaviour. De acordo com ele, esses jovens não apenas passam mais tempo nas redes, como se comparam mais com outras pessoas, são mais afetados pelas curtidas e comentários e estavam mais infelizes com o número de amigos online.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores fizeram uma pesquisa com mais de 3,3 mil adolescentes britânicos, de 11 a 19 anos, sendo 16% deles portadores de alguma condição de saúde mental. Em média, esses últimos passaram 50 minutos a mais por dia nas redes sociais.
Qual a relação entre redes sociais e saúde mental?
Embora o estudo tenha estabelecido que há uma associação entre mais tempo nas redes e uma pior saúde mental, os autores afirmam que “pesquisas futuras são necessárias para estabelecer quaisquer relações de causalidade entre o uso de redes sociais e condições de saúde mental em adolescentes, e que trabalhos devem incluir participantes de outros países.”
Apesar disso, na clínica, há poucas dúvidas sobre o quão difundida essa relação é ou sobre o efeito das redes na saúde mental. “Os adolescentes e jovens tem passado mais tempo online e isso tem gerado mais diagnósticos de ansiedade e depressão”, disse a VEJA a psicóloga de família e professora da Universidade Federal da Bahia, Manuela Moura. “Pode parecer que a internet é um recurso para esses transtornos, mas a leitura que faço é que os transtornos são uma consequência do momento em que vivemos.”
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De fato, já há diversas evidências apontando essa relação. Em um editorial publicado pela BMC Psychology, especialistas recomendam um uso mais consciente, já que embora as redes possam promover conexão, elas também podem “levar a um estresse enorme, a uma pressão por se comparar aos outros e a um aumento da tristeza e do isolamento.”
Essa relação, contudo, não é trivial. Hoje, muitos especialistas defendem que os espaço de interação online seja menos acessível para os jovens, mas uma investigação publicada na Jama Network aponta para a importância desses espaços para que grupos minorizados, como jovens trans e não binários, consigam encontrar uma comunidade e um espaço seguro para se expressão.
Por que os jovens são mais afetados?
As redes também impactam os adultos, o que fica evidente ao olhar os stories ou os comentários dos chamados influenciadores. Apesar disso, os jovens são mais afetados e há um motivo para isso.
“Os jovens estão mais vulneráveis porque existem diversos processos psíquicos que ainda não foram concluídos, como a consolidação de sí e o senso de identidade”, diz Moura. “A internet opera com o dispositivo da inveja, que te faz acreditar que sua vida não é tão boa porque não é de tal maneira.”
Ela defende que esse indivíduos tenham um acesso mais restrito a esses espaços e que adotar o “detox” como estilo de vida pode, ao invés de causar afastamento dos amigos, promover uma aproximação que vai acontecer em espaços diferentes, no mundo real.
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Mas ok, quando isso não for possível, o que os pais podem fazer para ajudar? “Os adultos podem ajudar a prestar atenção, sem naturalizar uma vida vivida apenas dentro do quatro ou através do celular”, afirma a especialista.
Quando esse isolamento estiver excessivo, o ideal, segundo ela, é convidar os jovens a sair, promover encontro entre amigos e frequentando mais espaços públicos. E finaliza: “Os pais tem que se meter mesmo, sem ter medo de se expor, de falar sobre as preocupações e sobre o que sente.”