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Primeiro estudo de frequência de autismo no Brasil revela 1 caso a cada 30 crianças

Pesquisa no RS avaliou todas as crianças de uma cidade por meio de questionário rápido para agilizar a triagem e reduzir filas de avaliação do transtorno

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 dez 2024, 13h41 - Publicado em 10 dez 2024, 10h00

Pela primeira vez, o Brasil conta com um estudo de frequência sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Conduzido pela Universidade de Passo Fundo (UPF), localizada no Rio Grande do Sul, em parceria com a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) local, o levantamento avaliou todas as crianças entre 2,5 e 12 anos de Coxilha, um pequeno município no norte do estado, e revelou que 1 em cada 30 apresenta autismo. A pesquisa, realizada no âmbito do Programa TEAcolhe do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, marca um avanço significativo para o diagnóstico precoce e a formulação de políticas públicas voltadas para o transtorno.

“Não existe nenhum estudo de frequência de autismo no Brasil. Então, resolvemos enfrentar essa lacuna. Avaliamos absolutamente todas as crianças da faixa etária da escala Mini-TEA no município, algo que nunca foi feito aqui. E o dado encontrado é muito próximo ao de estudos internacionais, como o grande levantamento americano, que aponta 1 a cada 36 crianças com a condição”, explica Cassiano Forcelini, neurologista e professor da UPF, que coordenou a pesquisa.

A escolha de Coxilha como cenário para o estudo foi estratégica. Com uma população bem organizada e serviços de saúde estruturados, a cidade permitiu que todas as crianças fossem avaliadas sem grandes desafios logísticos. Além disso, a proximidade da universidade foi um facilitador. “Era uma comunidade ideal para o início de um levantamento desse porte, mas sabemos que há desafios muito maiores quando pensamos em replicar isso em cidades maiores ou em nível estadual”, observa Forcelini.

O impacto da Mini-TEA

A realização do estudo foi possível graças à escala Mini-TEA, uma ferramenta inovadora desenvolvida pela equipe da UPF para preencher uma lacuna importante no diagnóstico do TEA no Brasil. Até então, a principal ferramenta disponível era a M-CHAT, voltada para crianças de 1 ano e 4 meses até 2 anos e meio.

“A maior parte das crianças nunca foi triada para transtorno do espectro autista com o M-CHAT. E na teoria, toda criança dessa faixa etária deveria ser avaliada, mas no mundo real, isso não acontece”, afirma Forcelini.

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Diferentemente da M-CHAT, a escala Mini-TEA atende crianças de 2 anos e meio a 12 anos. Com 48 perguntas simples, respondidas pelos pais ou responsáveis, o questionário pode ser aplicado em cerca de dez minutos e não requer treinamento específico para ser utilizado.

“Ela é muito fácil. Quem lê as instruções já consegue sair aplicando. Criamos um instrumento que pode ser usado por profissionais da saúde, da assistência social e até professores, algo que agiliza muito a triagem”, esclarece o pesquisador.

Além disso, a Mini-TEA ajuda a organizar as filas de diagnóstico, priorizando quem realmente precisa de avaliação detalhada. “É uma escala que, além de triar quem precisa, descarta autismo onde não há sinais, evitando diagnósticos desnecessários. Isso impacta diretamente a gestão de recursos do sistema público.”

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Com a ferramenta, os pesquisadores conseguiram excluir do espectro duas em cada três crianças que estavam na fila de espera para serem avaliadas.

Outro aspecto fundamental da Mini-TEA é sua capacidade de atender famílias que, muitas vezes, não têm acesso ao pediatra no momento ideal para triagens. “A escala foi pensada para resgatar essas crianças que ficaram de fora do diagnóstico inicial e ajudar a dar um passo à frente na organização do sistema de saúde”, explica Forcelini.

Dados que guiam políticas públicas

O estudo de Coxilha também teve implicações imediatas para a saúde pública. A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul já iniciou a implementação da escala Mini-TEA na rede estadual, com treinamentos regionais para disseminar o uso da ferramenta.

O dado de frequência encontrado no estudo foi especialmente relevante, pois reflete a realidade local com mais precisão do que levantamentos amostrais. “Nós praticamente dobramos o número de casos já conhecidos no município. Isso reforça a importância de estudos que avaliem todas as crianças, porque muitos casos podem passar despercebidos”, pontua o pesquisador.

O impacto do estudo vai além de Coxilha. A partir dos resultados, o governo estadual do Rio Grande do Sul tem promovido esforços para replicar o modelo em outras regiões. A expectativa é que os dados ajudem a moldar políticas públicas que atendam melhor as demandas de famílias que lidam com o TEA, oferecendo diagnósticos mais rápidos e precisos.

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Um olhar para o futuro

A equipe da UPF planeja expandir os estudos de frequência para outros municípios e regiões do Brasil, além de acompanhar a evolução dos casos identificados em Coxilha.

A continuidade do trabalho não visa apenas compreender a prevalência do TEA, mas também responder a questões ainda sem consenso no campo. Uma delas é se o número de casos está aumentando ou se o que ocorre é um maior reconhecimento do transtorno devido à conscientização e melhores ferramentas de diagnóstico.

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