Primeiro estudo de frequência de autismo no Brasil revela 1 caso a cada 30 crianças
Pesquisa no RS avaliou todas as crianças de uma cidade por meio de questionário rápido para agilizar a triagem e reduzir filas de avaliação do transtorno
Pela primeira vez, o Brasil conta com um estudo de frequência sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Conduzido pela Universidade de Passo Fundo (UPF), localizada no Rio Grande do Sul, em parceria com a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) local, o levantamento avaliou todas as crianças entre 2,5 e 12 anos de Coxilha, um pequeno município no norte do estado, e revelou que 1 em cada 30 apresenta autismo. A pesquisa, realizada no âmbito do Programa TEAcolhe do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, marca um avanço significativo para o diagnóstico precoce e a formulação de políticas públicas voltadas para o transtorno.
“Não existe nenhum estudo de frequência de autismo no Brasil. Então, resolvemos enfrentar essa lacuna. Avaliamos absolutamente todas as crianças da faixa etária da escala Mini-TEA no município, algo que nunca foi feito aqui. E o dado encontrado é muito próximo ao de estudos internacionais, como o grande levantamento americano, que aponta 1 a cada 36 crianças com a condição”, explica Cassiano Forcelini, neurologista e professor da UPF, que coordenou a pesquisa.
A escolha de Coxilha como cenário para o estudo foi estratégica. Com uma população bem organizada e serviços de saúde estruturados, a cidade permitiu que todas as crianças fossem avaliadas sem grandes desafios logísticos. Além disso, a proximidade da universidade foi um facilitador. “Era uma comunidade ideal para o início de um levantamento desse porte, mas sabemos que há desafios muito maiores quando pensamos em replicar isso em cidades maiores ou em nível estadual”, observa Forcelini.
O impacto da Mini-TEA
A realização do estudo foi possível graças à escala Mini-TEA, uma ferramenta inovadora desenvolvida pela equipe da UPF para preencher uma lacuna importante no diagnóstico do TEA no Brasil. Até então, a principal ferramenta disponível era a M-CHAT, voltada para crianças de 1 ano e 4 meses até 2 anos e meio.
“A maior parte das crianças nunca foi triada para transtorno do espectro autista com o M-CHAT. E na teoria, toda criança dessa faixa etária deveria ser avaliada, mas no mundo real, isso não acontece”, afirma Forcelini.