Preocupação climática já afeta decisão de ter filhos, aponta estudo
Temendo os efeitos do aquecimento global, casais optam por renunciar à gravidez ou ao menos reduzir o número de filhos
O aquecimento global e as mudanças climáticas podem influenciar diversos aspectos e escolhas em nossas vidas, inclusive a decisão de ter filhos. É o que demonstra um estudo capitaneado pela University College London, na Inglaterra. A investigação, publicada na PLOS Climate, é a primeira revisão sistemática que explora o que está por trás desse comportamento.
Os 13 estudos examinados pela equipe britânica, envolvendo dados de 10.788 pessoas de países do Norte Global entre 2012 e 2022, revelaram uma associação entre as inquietações sobre as alterações climáticas e a vontade de ter menos filhos, ou mesmo nenhum.
Fatores como a incerteza sobre o futuro para a criança, os riscos da sobrepopulação e do consumo excessivo, o desafio de satisfazer necessidades familiares e as inclinações políticas foram identificados como os principais motivadores dessa linha de pensamento.
Em menor grau, dois estudos realizados na Zâmbia e na Etiópia também descobriram que os participantes desejavam menos crianças para satisfazer as necessidades de subsistência durante períodos de declínio da produtividade agrícola.
“Entender por que algumas pessoas escolhem ajustar sua decisão reprodutiva como uma consequência às mudanças climáticas pode revelar-se fundamental para moldar as políticas públicas, mostrando a necessidade de colaboração entre a classe política e as pautas ambientais de níveis nacionais e internacionais”, afirma a autora principal da revisão, Hope Dillarstone.
Encolhimento anunciado
Outro estudo, conduzido em 2017 por pesquisadores da Universidade de Lund, na Suécia, concluiu que uma criança a menos no planeta contribuiria para reduzir o nível médio de dióxido de carbono na atmosfera em 58,6 toneladas por ano, muitíssimo mais do que as outras três opções analisadas: viver sem carro (menos 2,4 toneladas), evitar viagens aéreas (menos 1,6 tonelada) e adotar uma dieta vegetariana (menos 0,8 tonelada).
Ao preferir não ter filhos, as novas gerações agravam as consequências da queda persistente nas taxas de natalidade que nações como o Brasil vêm registrando. Dados de 2021 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registraram um recorde de mortes, o maior desde 1974, e queda de nascimentos, a maior desde 2003. Foram 2,63 milhões de nascimentos no país, 1,6% a menos do que no ano anterior.