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Precisamos falar de sexo

Especialista em medicina sexual, Alexandre Miranda alerta para o perigo de informar-se sobre o tema pela internet e aponta mitos que persistem na sociedade

Por Fernanda Thedim
Atualizado em 4 jun 2024, 16h39 - Publicado em 5 abr 2019, 07h00
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  • Sempre que se reúne com os amigos em algum bar da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde mora, o médico Alexandre Miranda vira o centro das atenções. Todos querem saber um pouco mais sobre seu trabalho e, às vezes, aproveitam para uma consulta disfarçada. “Garanto que, se fosse oftalmologista, não iria despertar tanto interesse”, brinca ele. Miranda, de 42 anos, é especialista em medicina sexual, formado pelo St Catherine’s College da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e aprovado no exame do Comitê Europeu de Medicina Sexual (um dos três únicos brasileiros a ter essa certificação). À frente do setor de andrologia e urologia reconstrutora do Hospital Federal de Ipanema, Miranda acompanha de perto as dúvidas sexuais de homens e mulheres, uma área sobre a qual, a seu ver, ainda se fala muito pouco. “O sexo precisa ser tratado de maneira mais natural, sem tabus. É uma questão de saúde pública”, diz. Em entrevista a VEJA, ele iluminou temas pouco discutidos.

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    Sexo e internet
    “O consumo de pornografia aumentou muito com a popularização da internet e dos smartphones. A educação sexual que os jovens recebem hoje vem principalmente dos vídeos a que eles assistem cada vez mais cedo. Isso tem criado expectativas pouco realistas, com sérios efeitos colaterais. O rapaz olha para si mesmo, compara-se com o ator e se sente inferior. Pensa que o ato sexual tem de durar uma hora para ser bom e se frustra. A mulher acredita que precisa se submeter a tudo para satisfazer o parceiro. A euforia cenográfica torna uma relação normal menos interessante. São noções muito erradas, que prejudicam a autoestima de todos.”

    Tempo ao tempo
    “O intervalo médio entre a penetração e a ejaculação masculina é de cinco minutos e trinta segundos. Para muitas mulheres, cinco minutos não é o suficiente para alcançar a excitação. Costumo usar a seguinte comparação: enquanto ele é um forno elétrico, ela é um forno a lenha. Por outro lado, a mulher conta com a grande vantagem de ser capaz de ter um, dois, três orgasmos seguidos. Para todo mundo ficar satisfeito, o homem precisa investir no antes ou no depois da mulher. E não custa lembrar: também precisa ter conhecimento da anatomia feminina. Isso é informação básica.”

    Não é documento
    “Quando pergunto a meus pacientes qual o tamanho médio de um pênis ereto, a resposta-padrão é ‘18 centímetros’. Errado. Na verdade, está longe disso: 13, 5 centímetros. Pode parecer pequeno, mas é assim que ele se encaixa melhor na anatomia feminina — sem falar que, nela, as principais terminações nervosas, como o clitóris, estão do lado de fora. O que faz diferença na relação sexual, definitivamente, não é o tamanho do pênis.”

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    Cadê o orgasmo?
    “É mais comum do que se pensa a mulher fingir orgasmo. Não existe estudo que crave um porcentual, mas os pesquisadores trabalham com a estimativa de 40% no mundo. Eu desconfio que seja mais. Muitas mulheres nunca tiveram um orgasmo na vida e não conseguem tocar no assunto com o parceiro. É como se sentissem culpa por não conseguir e chamassem a responsabilidade unicamente para si. A emancipação feminina é um fato, mas no sexo elas se conhecem pouco e são muito reservadas em relação a seus problemas.”

    Prazo de validade
    “Uma pesquisa do University College London, chamada ‘Base neural do amor romântico’, mostrou a casais uma foto do parceiro em diversas fases do relacionamento e mapeou suas reações cerebrais através de ressonância dinâmica. No início, as imagens fizeram com que várias partes do cérebro, principalmente as mais primitivas, reagissem. Três anos depois, as mesmas regiões não apresentaram estímulo. Daí a conclusão de que a paixão dura três anos e depois dá lugar a novos sentimentos ou a um novo relacionamento. Uma das explicações é genética: mantendo relações curtas, as mulheres têm filhos de pais diferentes, e para a espécie a variedade de DNA é mais interessante.”

    Mínimo é muito
    “Um estudo publicado no The Journal of Sexual Medicine mostrou que o casal que contabiliza ao menos quatro relações sexuais por mês tem menos probabilidade de se separar. Não existe um número ideal, mas eu diria que esse é o mínimo em um relacionamento saudável. Pode parecer pouco, mas as pesquisas também revelaram que o homem casado faz mais sexo que o solteiro, porque é prático, seguro e confortável.”

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    Razão e traição
    “Os índices de infidelidade masculino e feminino são bem diferentes: 60% e 25%, respectivamente. Do ponto de vista fisiológico, a explicação para tanta discrepância está na testosterona, o principal hormônio sexual masculino. Prova disso é que os porcentuais de traição entre homossexuais do sexo masculino são muito maiores do que entre homem e mulher ou entre duas mulheres. É claro que o hormônio não serve de desculpa para a traição. Digo e repito aos meus pacientes: você não é macaco, você é um cara racional. A racionalização pode vencer o instinto. O ser humano sempre consegue ser do contra. Nós modificamos a natureza todos os dias.”

    Aprende-se na escola
    “Nenhum país é mais evoluído hoje em dia em matéria de educação sexual do que a Holanda — o que é curioso, porque a sociedade holandesa é bastante conservadora. Lá a educação sexual é disciplina ensinada desde cedo na escola e isso faz toda a diferença, como comprovam os baixos índices de doenças sexualmente transmissíveis, de gravidez indesejada e de abortos clandestinos. Não se trata de invadir a crença das famílias, ir contra o que prega a Igreja ou masturbar bebês — a insanidade que a ministra Damares Silva chegou a propagar em pelo menos uma ocasião. Educação sexual é um conjunto de informações técnicas que precisam ser divulgadas. E, quanto mais cedo aprendermos a falar sobre o assunto de maneira natural, melhor todo mundo vai lidar com ele.”

    Publicado em VEJA de 10 de abril de 2019, edição nº 2629

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