Pesquisadores encontram possível ‘paciente zero’ da peste bubônica
Vítima morreu 4.000 anos antes da pandemia que devastou a Europa em 1300
Pesquisadores da Universidade de Kiel, na Alemanha, identificaram os restos mortais de um homem que pode ser o “paciente zero” da doença que causou a pandemia de peste bubônica na Idade Média. De acordo com o estudo, publicado na terça-feira, 29, na revista científica Cell Reports, a cepa mais antiga da bactéria Yersinia pestis, causadora da peste negra, foi encontrada na vítima, morta há mais de 5.000 anos.
Isso significa que a primeira pessoa a contrair a doença teria morrido 4.000 antes da pandemia de peste negra assolar a Europa, em 1300. “Até agora, esta é a vítima de peste mais antiga identificada que temos”, disse Ben Krause-Kyora, da Universidade de Kiel, na Alemanha
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão após analisarem amostras de dentes e ossos de quatro homens, caçadores-coletores, que morreram há mais de 5,3 mil anos. Eles estavam enterrados em uma região próxima ao mar Báltico, que hoje pertence à Letônia.
Além de sequenciarem seus genomas, os pesquisadores realizaram testes para identificar patógenos bacterianos e virais. Para surpresa da equipe, em um dos homens, na casa de seus 20 ou 30 anos, havia evidências da Y. pestis. No estudo, ele foi identificado como RV 2039.
Não está claro como a doença afetou a vítima, mas é possível afirmar que havia uma alta carga bacteriana em sua corrente sanguínea no momento da morte, o que sugere que ele morreu da infecção. O sequenciamento da bactéria indica que ela fazia parte de uma linhagem que surgiu cerca de 7.000 anos atrás, apenas algumas centenas de anos depois que a Y. pestis se separou de seu predecessora, a Yersinia pseudotuberculosis.
Essa linhagem também parece ser menos contagiosa e mortal do que sua sucessora, que devastou a Idade Média, 1.000 depois. Os pesquisadores acreditam que a bactéria pode ter saltado de animais para humanos em diversas ocasiões sem ter causado grandes surtos.
Com o tempo, ela se adaptou para infectar humanos, evoluindo até a forma que quase devastou a Europa medieval. A análise genética da bactéria mostrou, por exemplo, que ela não apresentava o gene que permitiu sua transmissão por pulgas, um fator-chave para a ação devastadora da doença no período medieval.
A peste negra não foi erradicada. A doença ainda existe, mas hoje é possível tratá-la com antibióticos, se houve diagnóstico precoce.