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Os novos enigmas que o coronavírus impõe à ciência

Agora, o esforço é para desvendar os movimentos que possam adiar o fim da pandemia

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h15 - Publicado em 14 abr 2022, 06h00

Desde seu surgimento, no fim de 2019, na China, o coronavírus responsável pela Covid-19 impõe enigmas. De maneira assustadora, ele adquiriu habilidades impressionantes de infecção e de destruição de estruturas do organismo de uma forma que a medicina só havia visto na história recente no aparecimento do HIV, o vírus da aids, na década de 80. Dois anos depois, os desafios agora colocados pelo SARS-CoV-2 guardam as respostas sobre o estágio atual da pandemia e, a partir deles, o que se pode esperar para os próximos meses. É consenso que a crise sanitária dará lugar à endemia, quando picos da doença ocorrerão sazonalmente. A dificuldade está em antecipar os movimentos do vírus até lá, ação fundamental na detecção de desvios que podem atrasar o fim da pandemia.

arte Covid

Diante de um microrganismo novo e da existência de cenários de contenção distintos, a tarefa exige enorme esforço. Alivia saber, contudo, que alguns dos cérebros mais brilhantes buscam as soluções. O foco se concentra no que aconteceu nos últimos quatro meses, depois da chegada da ômicron, a quinta variante de preocupação listada pela Organização Mundial da Saúde. Ela apresenta alta transmissibilidade e suas sublinhagens, BA.1, BA.2 e XE, são mais infecciosas do que a cepa original. Por isso, esperava-se uma explosão global de casos, internações e mortes. Os casos realmente subiram entre dezembro e início de 2022, mas hospitalizações e óbitos, não. Nas últimas semanas, até o total de infecções caiu. Em 24 de março, foram registrados 1,7 milhão de casos. Na segunda-feira 11, o total caiu para 978 266.

Há aí um paradoxo. Se o coronavírus assumiu sua forma mais contagiosa, por que infecções, casos severos e mortes não aumentaram? A explicação estaria na combinação de três fatores: evolução natural do vírus (torna-se mais transmissível, porém menos letal); imunidade proporcionada por exposição prévia e vacinas (cerca de 60% da população mundial está protegida); e menos testagem, o que implica menor detecção de contaminações. No entanto, ao descer à realidade de cada país, quadros diferentes dificultam o encontro de respostas que sirvam a todos. Ao mesmo tempo que se comemora a marca de mais da metade dos habitantes do planeta imunizados, há 21 nações com cobertura vacinal abaixo dos 10%. No Brasil, onde a sublinhagem BA.2 responde por 30% das contaminações e 90% da população está vacinada, no dia 24 de março foram notificadas 37 206 infecções — em 11 de abril o número caiu a 7 930. “Estamos em um bom momento”, diz o geneticista Salmo Raskin, da Sociedade Brasileira de Genética Médica e Genômica. No entanto, a testagem é baixa por aqui, o que significa que muitos casos escapam ao registro. Enquanto isso, no Reino Unido, o país europeu que mais testa (490 milhões de exames feitos entre março de 2020 e 6 de abril de 2022), a taxa de infecção aumentou de 38 668 em 24 de fevereiro para 101 048 em um mês. No dia 11 de abril, houve queda para 91 309 casos, mas os óbitos saltaram de 159 para 348 entre março e abril.

ENIGMA - Lockdown em Xangai: ineficaz para impedir o aumento de casos -
ENIGMA - Lockdown em Xangai: ineficaz para impedir o aumento de casos – (./AFP)
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Há dois países — Estados Unidos e China — cujos contextos intrigam ainda mais. Entre os americanos, sem um programa de testagem maciça, os casos subiram de 42 990 em 24 de março para 43 574 no dia 11 de abril. Em Nova York, cerca de 80% das pessoas estão imunizadas, mas, segundo o Centro de Controle de Doenças, as contaminações saltaram de 694, em 10 de março, para 1 993 após um mês, sem repercussão, porém, em hospitalizações ou mortes. Não se sabe o que ocorre na cidade americana. O Departamento de Saúde e Higiene Mental publicou um alerta sobre a subida de casos, mas não explicou a causa. A China mantém a prática do lock­down. Mas, mesmo com o fechamento de cidades como Xangai e cobertura vacinal de 86%, os casos crescem. Em 24 de março, eles somavam 4 108 infecções. Em 11 de abril, bateram em 26 568. O balé estatístico pode confundir, é verdade. Contudo, assim como em outras fases da pandemia, a ciência apontará o caminho correto.

Publicado em VEJA de 20 de abril de 2022, edição nº 2785

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