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Os melhores exercícios físicos para ajudar na recuperação da Covid-19

Depois de identificar o vírus e criar vacinas e remédios para combatê-lo, a ciência agora se volta à qualidade de vida de quem ficou com sequelas

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h31 - Publicado em 4 mar 2022, 06h00

A Covid-19 é uma doença surpreendente. Para cerca de 173 milhões de sobreviventes, 40% dos casos registrados no mundo, ela parece não acabar. A etapa aguda é superada, comemora-se mais uma vida salva, mas uma lista enorme de sequelas permanece como uma trava a impedir que os pacientes retornem à vida como era antes do coronavírus. Ao conjunto de sintomas novos ou antigos que perduram por mais de quatro semanas depois da alta dá-se o nome de Covid longa. O mais comum é a fadiga, seguida da falta de fôlego, insônia, dores nas articulações e problemas de memória. A ansiedade e a depressão alimentam o girar da roda, prendendo os pacientes em um pesadelo sem fim.

Para o imenso contingente de pessoas que se encontram nessa situação há um consenso: um dos remédios mais eficazes é a prática de exercícios físicos. Eles melhoram o condicionamento respiratório e muscular, atenuam dores crônicas, ajudam a dormir melhor e têm efeito decisivo na redução da ansiedade e da depressão. Por isso, a atividade física se tornou vital no processo de reabilitação. Ela auxilia os indivíduos a readquirirem capacidades de uso corriqueiro, como o equilíbrio ao andar ou energia para erguer um simples copo de água.

arte exercícios

A necessidade é tão urgente que programas de treino estão sendo criados para ajudar esse grupo. Uma das iniciativas é a da Associação Cristã de Moços, face brasileira da organização inglesa Young Men’s Christian Association. A entidade lançou o YCare, programa multidisciplinar de recondicionamento respiratório, cardiovascular, muscular e cognitivo de indivíduos que têm sequelas. “Há pessoas que não conseguem levantar o braço para pentear o cabelo”, diz a educadora física Andreia Praça, uma das idealizadoras do projeto. O plano consiste na realização de rodas de conversa, ginástica respiratória e atividades para desenvolver concentração, força e resistência. O treino pode ser presencial ou on-line e tem duração de trinta minutos. Atualmente, é oferecido em dez unidades na capital paulista e nas instalações da entidade no Sul do país.

O arquiteto Celio Calestine, de 78 anos, de São Paulo, participa das sessões. Ele teve Covid-19 em julho do ano passado. Foram quatro dias de internação e, com o cansaço que passou a sentir após a recuperação, havia até pensado em suspender a inscrição na academia, mesmo sendo adepto de exercícios físicos. O surgimento do YCare o levou de volta. Dois meses depois, tinha recuperado o tônus e a capacidade musculares perdidos para a Covid-19. “Os treinos me ajudaram a retomar minha vida mais rapidamente”, resume.

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VIRTUAL - Avatar e robô em São Paulo: a tecnologia potencializa os movimentos -
VIRTUAL - Avatar e robô em São Paulo: a tecnologia potencializa os movimentos – (//Divulgação)

Na internet, há guias ensinando exercícios de respiração e atividades para condicionamento físico que podem ser realizados com segurança. Um exemplo é a cartilha do Instituto de Medicina da USP (procure por Rede Lucy Montoro/Apoio ao Autocuidado em Reabilitação após a Covid-19). Também está à disposição, em inglês, o documento preparado pelo Serviço Nacional de Saúde da Inglaterra com informações sobre treinos que podem ser executados em casa com o auxílio de cadeiras ou mesmo no sofá (busque por London North West University Healthcare/Post Covid-19 physiotherapy advice). Na Rede de Reabilitação Lucy Montoro, em São Paulo, a robótica e a realidade virtual foram integradas à recuperação. Os pacientes fazem treino de marcha e de membros superiores usando um sistema que impede quedas e estimula o campo cognitivo por meio do uso de realidade virtual. “A exigência cerebral e física feita com os equipamentos tem um resultado fantástico”, explica a fisiatra Linamara Battistella, idealizadora da instituição.

arte exercícios

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A escolha, intensidade e frequência dos exercícios estão sendo estabelecidas com base nas informações que começam a surgir de pesquisas científicas iniciadas tão logo ficou claro que a Covid longa seria outro desafio na pandemia. Os estudos consideram os impactos da doença em diversos sistemas do organismo, detalhando de que forma o coronavírus age nos músculos, no coração, nos pulmões e no cérebro, por exemplo. Também tomam como referência medidas eficazes de reabilitação adotadas em pacientes que sofreram problemas cardíacos, pulmonares ou neurológicos graves, muitas delas bastante úteis no caso da Covid-19. Em geral, o que se viu até agora é que ioga, caminhada e exercícios feitos usando o peso do próprio corpo são boas opções e se complementam. A ioga alonga os músculos e acalma a mente. As caminhadas melhoram o condicionamento cardiovascular. Os movimentos de resistência dão força muscular. O início de qualquer atividade física, no entanto, só deve ser feito depois de avaliação médica. Se a regra já era básica, no caso da Covid-19 segui-la é indispensável.

FLEXÍVEL - Prática de ioga: indicada para alongar os músculos e reduzir a ansiedade -
FLEXÍVEL – Prática de ioga: indicada para alongar os músculos e reduzir a ansiedade – (DigitalVision/Getty Images)

Há um nó, daí o cuidado: os principais órgãos atingidos pela Covid-19 são exatamente os mais exigidos na execução de exercícios. Por isso, coração e pulmões devem apresentar condições para funcionar considerando o esforço ao qual serão submetidos. Não foi surpresa, portanto, quando pesquisadores do Imperial College de Londres publicaram no periódico científico The British Medical Journal um artigo recomendando aos médicos que, ao prescrever a realização de exercícios aos pacientes com sequelas de Covid, eles obedeçam ao mantra de que cada caso é um caso.

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Os cientistas sugerem estratificar os pacientes de acordo com a gravidade do quadro da doença enfrentado e o histórico de outras enfermidades. Orientam, ainda, que o intervalo mínimo antes de voltar a se exercitar deve ser de sete dias após a alta e com baixo esforço nas primeiras duas semanas. São cuidados relevantes — e sobretudo individualizados — a ser tomados para que a atividade física pós-Covid seja realmente um remédio, e não mais um veneno. Não é o caso, naturalmente, de acrescentar drama aos problemas de saúde contraídos mesmo depois da cura do vírus respiratório — mas convém permanente atenção. A medicina também aprendeu com o inédito vírus.

Publicado em VEJA de 9 de março de 2022, edição nº 2779

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