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Os desafios dos adultos diagnosticados com TDAH

Associado a crianças, o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade pode se estender à maturidade, com prejuízos devastadores para a vida

Por Sabrina Brito, Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h19 - Publicado em 20 jan 2022, 19h00

É relativamente normal conhecer, ou ao menos ter ouvido falar, crianças e adolescentes diagnosticados com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). Mas há um contingente enorme de adultos que manifestam a condição, sofrem consequências severas na vida afetiva, profissional e social e, pior, nem sequer sabem por que têm a vida tão atribulada. Segundo dados da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), há no Brasil cerca de 2 milhões de indivíduos nessa situação.

O TDAH é um transtorno de desenvolvimento caracterizado por impulsividade, desatenção e agitação. Está associado a alterações cerebrais registradas em pesquisas de imagem. Estruturas como a amígdala, o núcleo accumbens e o hipocampo, todas relacionadas ao processamento das emoções e ao sistema de recompensa, apresentam volume menor quando comparadas às de pessoas sem a condição. Isso significa uma quantidade mais reduzida de neurônios na região, fenômeno com repercussão negativa no funcionamento desses mecanismos. Recentemente, ganharam impulso as pesquisas sobre sua apresentação em adultos, aspecto até então pouco elucidado. Trata-se de um fascinante e atualíssimo movimento da ciência.

arte TDHA

É preciso evoluir muito ainda no conhecimento do incômodo, mas passos relevantes estão sendo dados pela medicina. E o que se sabe até o momento é suficiente para oferecer aos pacientes assistência para que conduzam a vida reduzindo riscos de prejuízos. O grande problema, insista-se, é identificá-los. O TDAH em adultos é uma extensão do problema em crianças, mas há um nó: a maior parte dos pacientes não é diagnosticada na infância — portanto, não recebe tratamento. É de se esperar, como resultado natural, que esses indivíduos continuem carregando a condição ao longo da vida. Estima-se que dois terços das crianças com TDAH sigam com os sintomas do transtorno na vida adulta porque não receberam diagnóstico.

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O desafio na detecção do transtorno está em compreendê-lo. É comum ver isso acontecer com as condições psiquiátricas, sem diagnóstico definido por testes laboratoriais, associadas ao câncer ou à diabetes, e marcadas por manifestações comportamentais que confundem leigos e inclusive profissionais da saúde. A identificação se baseia na avaliação clínica, o que exige uma expertise infelizmente não muito abundante no país. Além disso, também a exemplo de outras enfermidades mentais, o TDAH é estigmatizado. O paciente, seja ele criança, adolescente ou adulto, é visto como preguiçoso, bagunceiro ou simplesmente alguém desagradável.

artes TDHA

Em qualquer fase da vida, as apresentações do transtorno têm a mesma raiz, ou seja, a impulsividade, a agitação e a falta de atenção. Na maturidade, no entanto, a abrangência das consequências é mais ampla. O caos provocado em todas as esferas da vida é arrasador. A área profissional é marcada por instabilidade e maior índice de desemprego. Procrastinação, rendimento abaixo da capacidade intelectual, ausência de foco e atenção, dificuldade para seguir rotinas, incapacidade de planejamento e execução das tarefas propostas estão entre os motivos dos costumeiros fracassos. “Além disso, há questões como os frequentes esquecimentos, perdas e descuidos com datas e reuniões importantes”, explica a psicóloga Iane Kestelman, presidente voluntária da Associação Brasileira do Déficit de Atenção.

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As relações afetivas e sociais são igualmente prejudicadas. Não se sabe com precisão, por não haver estatística confiável, mas o índice de divórcios e separações é maior entre os pacientes. As queixas de desorganização e falta de aptidão para ajudar no gerenciamento da casa são frequentes. Com os amigos, as reclamações mais comuns estão em torno da falta de atenção em conversas, mudanças súbitas de humor, inabilidade para escutar e esperar a vez de falar, além da incapacidade para expressar ideias e colocá-las em prática. O desenrolar de meses e anos assim solidifica na trajetória do paciente um ciclo negativo marcado por baixa autoestima e sentimento de fracasso. Por isso, em cerca de 75% dos adultos os sintomas aumentam ou contribuem para o surgimento de quadros de depressão, ansiedade, bipolaridade, dislexia, distúrbio de sono, dependência química e alcoolismo. “É um sofrimento enorme”, diz a psicóloga Iane. “O paciente fica exausto.”

ATENÇÃO - Tédio: pacientes se desinteressam rapidamente por atividades rotineiras -
ATENÇÃO - Tédio: pacientes se desinteressam rapidamente por atividades rotineiras – (iStock/Getty Images)

O primeiro passo para mudar a direção dessa espiral é procurar ajuda caso a história de vida e sintomas se assemelhem aos descritos. Há fontes credenciadas onde buscar informação, como o site da ABDA. Somente a avaliação de um especialista indica a presença do transtorno. Há no Brasil alguns centros especializados. Em São Paulo, funciona o Ambulatório de TDAH em adultos do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Na Bahia, há o serviço da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, localizada em Salvador, e no Rio Grande do Sul existe atendimento no Centro de Pesquisa Clínica do Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Uma vez identificado, o TDAH pode ser tratado com remédio — a famosa ritalina — associado a terapia e treinamentos que auxiliam na organização de tarefas cotidianas (como não perder compromissos). Ninguém deve sofrer prejuízos tão profundos por falta de assistência. “Os tratamentos existem e devemos trabalhar para que o transtorno não acompanhe o indivíduo até a vida adulta”, afirma o médico Mario Louzã, coordenador do Ambulatório de TDAH em adultos do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Todos ganham quando o mal é cortado pela raiz.

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Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2022, edição nº 2773

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