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Os benefícios de sair do celular e apenas divagar

Estudo mostra que as pessoas subestimam o ato de pensar sem distrações e o quanto isso pode ser benéfico e prazeroso

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 ago 2022, 11h19

Uma pesquisa publicada pela Associação Americana de Psicologia (American Psychological Association) no Journal of Experimental Psychology mostra que as pessoas subestimam consistentemente o quanto gostariam de passar um tempo sozinhas, acompanhadas apenas pelos seus próprios pensamentos, sem nada para distraí-las e o quanto se surpreendem em ver o prazer e os benefícios que podem proporcionar.

“Os seres humanos têm uma capacidade impressionante de mergulhar em seu próprio pensamento”, diz Aya Hatano, pesquisadora da Universidade de Kyoto, no Japão, e principal autora do estudo. “A pesquisa sugere que os indivíduos têm dificuldade em apreciar o quão envolvente o pensamento pode ser. Isso poderia explicar por que as pessoas preferem se manter ocupadas com dispositivos e outras distrações, em vez de dedicar um momento para reflexão e imaginação na vida cotidiana”.

Em uma série de seis experimentos com um total de 259 participantes, os pesquisadores compararam as previsões das pessoas de quanto gostariam de simplesmente sentar e pensar e sua real experiência em fazê-lo. No primeiro experimento, pediram para prever o quanto gostariam de ficar sentadas sozinhas com seus pensamentos por 20 minutos, sem fazer nada que as distraísse, como ler, caminhar ou olhar para um smartphone. Descobriram então que as pessoas gostavam mais de passar tempo com seus pensamentos do que haviam previsto.

Isso foi, na verdade, uma variação do experimento em que os participantes se sentaram em uma sala de conferência vazia sem estimulação visual, em um período de três a 20 minutos. Outra etapa foi o relato de satisfação no meio da tarefa, antes que terminasse. Em todos os casos, os participantes gostaram de pensar, mais do que esperavam.

Em outra dinâmica, os cientistas compararam as previsões de um grupo de participantes sobre o quanto eles gostariam de pensar com as previsões de outro grupo sobre o quanto eles gostariam de ler notícias na internet. Mais uma vez, descobriram que as pessoas subestimavam o prazer de pensar. O grupo de pensamento esperava gostar da tarefa menos do que o grupo de checagem de notícias, mas os dois relataram níveis semelhantes de prazer.

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“Esses resultados são especialmente importantes em nossa era moderna de sobrecarga de informações e acesso constante a distrações”, afirma Kou Murayama, pesquisador da Universidade de Tübingen, na Alemanha. “Agora é extremamente fácil ‘matar o tempo’. No ônibus a caminho do trabalho, você pode verificar seu telefone em vez de mergulhar em seu pensamento interno porque prevê que pensar será chato”, diz ele, acrescentando. “No entanto, pode estar perdendo uma chance de se envolver positivamente sem depender de tal estímulo”.

Essa oportunidade perdida tem um custo. Estudos anteriores mostraram que gastar tempo deixando sua mente vagar traz coisas boas como ajudar a resolver problemas, aumentar a criatividade e, até mesmo, ajudar as pessoas a encontrarem sentido na vida. “Ao evitar atividades de pensamento, podem perder esses importantes benefícios”, diz Murayama.

É importante notar que os participantes não classificaram o pensamento como uma tarefa extremamente boa, mas como mais agradável do que pensavam que seria.  Em média, o nível de prazer foi de cerca de 3 a 4 em uma escala de 7 pontos. Pesquisas futuras devem investigar quais tipos de pensamento são mais agradáveis ​​e motivadores. “Nem todo pensamento é intrinsecamente recompensador e, de fato, algumas pessoas são propensas a ciclos viciosos de pensamento negativo”, finaliza o pesquisador.

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