Novo remédio para obesidade reduz em 38% o risco de morte cardiovascular
Ensaio com voluntários inclusive do Brasil mostrou que tirzepatida diminuiu sintomas de pacientes com insuficiência cardíaca, como fadiga e falta de ar
Um caminho trilhado pelas novas drogas para a obesidade e o diabetes tem sido avançar em estudos para outras condições na tentativa de demonstrar eficácia, o que tem resultado em êxito na maioria das vezes. Depois dos achados positivos para a redução de peso corporal, diminuição da gordura no fígado e controle da apneia do sono, a tirzepatida, da farmacêutica Eli Lilly, mostrou-se eficaz para reduzir em 38% o risco de internação ou morte cardiovascular por insuficiência cardíaca, bem como seus sintomas, além de melhorar a função física de adultos com obesidade, de acordo com um estudo de fase 3 com acompanhamento por 52 semanas.
O ensaio SUMMIT foi realizado com 731 voluntários nos Estados Unidos, Argentina, Brasil, China, Índia, Israel, México, Porto Rico, Rússia e Taiwan. Os participantes tinham diagnóstico de insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEp) e obesidade, e foram randomizados em um grupo que usou o medicamento e outro que recebeu placebo.
Esse quadro de insuficiência cardíaca faz com que a câmara de bombeamento do coração se torne rígida, de modo que o órgão perde a capacidade de bombear o sangue de forma adequada para o corpo. Pacientes que vivem com essa condição costumam apresentar fadiga, falta de ar, dificuldades para praticar atividades físicas e inchaço das extremidades. No estudo, houve melhora desses sintomas.
Os benefícios para a capacidade de exercício, foram medidos pela distância percorrida no teste de caminhada de seis minutos, redução no marcador de inflamação da Proteína C reativa de alta sensibilidade e redução média do peso corporal desde o início do tratamento até a semana 52.
Os voluntários, com e sem diabetes tipo 2, tiveram ainda uma redução de peso de 15,7%. No grupo placebo, o índice foi de 2,2%.
“Mundialmente 64 milhões de pessoas vivem com insuficiência cardíaca e, até 2030, a previsão é de um aumento de mais de 50% . Essa condição impacta muito a qualidade de vida dos pacientes, e no Brasil, ela é a causa número 1 de hospitalização de pessoas acima de 60 anos, sem contar o impacto de mortalidade”, disse, em comunicado, Luiz Magno, diretor sênior da Área Médica da Lilly Brasil. “Em cinco anos após o diagnóstico, a taxa de mortalidade é de aproximadamente 50%”, completa.
Assim como em outros ensaios, os eventos adversos mais frequentes entre os participantes foram náuseas, diarreia, diminuição do apetite, constipação e perda de peso em níveis de gravidade leves a moderados.
Próximos passos
A farmacêutica informou que vai apresentar os resultados em uma reunião científica e submeter os dados a um periódico, cujo nome não foi divulgado, para a revisão por pares. A Lilly disse ainda que os achados serão enviados à Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora americana.
A empresa mantém estudos com a tirzepatida para doença renal crônica, morbidade/mortalidade na obesidade, apneia obstrutiva do sono e esteatohepatite associada à disfunção metabólica (MASH).
O que é a tirzepatida?
O remédio faz parte de uma nova geração de medicamentos para o tratamento de diabetes tipo 2 que atuam em receptores de hormônios produzidos pelos intestinos, responsáveis pela sensação de saciedade, e demonstraram potencial para levar à perda de peso em pacientes obesos. As drogas agem ainda no metabolismo da glicose e no controle energético no corpo. No caso da tirzepatida, a ação ocorre nos receptores dos hormônios GLP-1 e GIP.
Aprovado no Brasil em setembro do ano passado como Mounjaro, o remédio é indicado para o tratamento de adultos com diabetes tipo 2.