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Mortalidade por câncer supera doenças cardíacas em 727 municípios brasileiros

Estudo conduzido pela Unifesp mostra que houve uma transição nas causas de morte em diversas regiões do Brasil entre 2000 e 2019

Por Ligia Moraes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 out 2024, 15h03

Um estudo conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que, em 727 municípios brasileiros, as mortes por câncer ultrapassaram as por doenças cardiovasculares até 2019. A pesquisa, publicada na revista científica Lancet Regional Health – Americas, revelou uma mudança significativa nas causas de mortalidade no Brasil ao longo das últimas duas décadas. Enquanto apenas 366 municípios (7% do total) registravam o câncer como a principal causa de morte no ano 2000, o número subiu para 727 municípios (13%) em 2019, o que representa um aumento de quase 100%.

Foram analisados dados de mortalidade de todos os municípios brasileiros entre os anos 2000 e 2019, identificando que essa transição não ocorreu de maneira uniforme em todo o país. O avanço no controle das doenças cardiovasculares, resultado de melhorias nos tratamentos e políticas de prevenção, foi mais expressivo nas regiões com maior desenvolvimento econômico, enquanto o câncer emergiu como a principal causa de morte em municípios com maior renda per capita.

Mudança no perfil de mortalidade

Historicamente, as doenças cardiovasculares foram a principal causa de morte no Brasil, mas o estudo mostrou que, com o passar dos anos, o câncer tem ganhado destaque. Essa mudança pode ser explicada por diversos fatores, incluindo o envelhecimento populacional, o aumento da exposição a fatores de risco como o tabagismo, consumo de álcool, obesidade, sedentarismo e dietas inadequadas.

Outro ponto importante levantado pelo estudo é que, enquanto as políticas de prevenção e tratamento de doenças cardíacas resultaram em uma queda acentuada na mortalidade por essas causas, o mesmo não aconteceu com o câncer.

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“Os resultados  indicam uma transição epidemiológica no Brasil, onde os avanços no tratamento e prevenção das doenças cardiovasculares trouxeram uma redução na mortalidade por essas causas, mas o câncer tem crescido como uma das maiores ameaças à saúde pública“, explica Leandro Rezende, coordenador do estudo e professor do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp. 

Aumento desigual nas regiões do Brasil

O estudo também revelou disparidades regionais significativas. Enquanto as regiões mais ricas, como o Sudeste e o Sul, registraram uma redução mais expressiva nas mortes por doenças cardiovasculares, o câncer avançou rapidamente nessas áreas, algo relacionado ao melhor acesso ao diagnóstico e tratamento da doença.

Em contraste, nas regiões Norte e Nordeste, onde o desenvolvimento econômico é menor, tanto o câncer quanto as doenças cardiovasculares continuam a ser grandes desafios, muitas vezes agravados pela falta de infraestrutura de saúde e de programas eficazes de prevenção.

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Novas estratégias para a saúde pública

Diante desses dados, a pesquisa reforça a necessidade de reformulação das políticas de saúde pública no Brasil, para atender à crescente demanda por estratégias voltadas ao controle e prevenção do câncer.

“Essas desigualdades regionais reforçam a necessidade de políticas públicas que levem em consideração as especificidades de cada região, especialmente nas áreas com infraestrutura de saúde mais limitada”, destaca Rezende. “É de extrema importância que o governo invista em campanhas de prevenção ao câncer que alcancem todas as camadas da população, além de garantir o acesso universal ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado”, finaliza o pesquisador.

O estudo ressalta que, embora as campanhas voltadas à prevenção de doenças cardiovasculares tenham demonstrado sucesso, o mesmo esforço precisa ser replicado para combater o câncer. Isso inclui iniciativas que incentivem hábitos de vida saudáveis e a redução da exposição a fatores de risco, além de garantir que o acesso ao diagnóstico precoce e ao tratamento adequado sejam universalizados, diminuindo assim o impacto dessa doença, que já é a principal causa de morte em diversas partes do Brasil.

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