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Médicos alertam para uso indiscriminado de vitamina D contra Covid

O nutriente não trata nem previne a doença, como foi erroneamente divulgado no Brasil, que já teve casos de intoxicação por altas doses

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 31 mar 2023, 14h40 - Publicado em 31 mar 2023, 11h22

Seis sociedades médicas dos Estados Unidos se juntaram para alertar sobre o uso exagerado de vitamina D seguindo a errônea recomendação de tratamento ou prevenção da Covid-19. Em comunicado, as instituições esclarecem a importância de se obter a dose diária de vitamina D – por meio de 15 a 30 minutos de exposição solar ou, em alguns casos, por meio de suplementação – para prevenir a perda óssea e melhorar a imunidade, e não para a cura ou medida de prevenção da doença causada pelo coronavírus, algo que foi amplamente divulgado no Brasil na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, com o nutriente como parte do “kit anti-Covid” de tratamento precoce, sem qualquer evidência científica de eficácia.

Segundo a American Society for Bone and Mineral Research (ASBMR), American Association of Clinical Endocrinologists (AACE), Endocrine Society, European Calcified Tissue Society (ECTS), National Osteoporosis Foundation (NOF) e International Osteoporosis Foundation (IOF), a pandemia teve impacto nas taxas de vitamina D por causa das orientações de permanência das pessoas em casa, o que reduziu significativamente as atividades ao ar livre e, portanto, a exposição solar.

“Embora estudos epidemiológicos observacionais recentes tenham sugerido associações entre baixas concentrações de vitamina D e taxas mais altas de infecção por Covid-19, elas provavelmente estão relacionadas à etnia, idade e saúde geral, e não a uma relação causal. Até o momento, nenhum ensaio clínico teve um efeito potencial da suplementação de vitamina D na prevenção da Covid-19”, diz o comunicado, que ainda afirma que “os dados atuais não fornecem nenhuma evidência de que a suplementação de vitamina D ajudará a prevenir ou tratar a infecção por Covid-19”.

A saber, no caso da suplementação, a vitamina D é segura quando tomada em doses razoáveis e, de preferência, com acompanhamento médico. “Houve alguns casos de intoxicação por vitamina D durante a pandemia porque as pessoas começaram a tomar doses muito altas. É importante evitar a deficiência de vitamina D, mas sem exageros, já que concentrações muito altas no sangue podem intoxicar”, alerta Marise Lazaretti Castro, professora de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), chefe do Setor de Doenças Osteometabólicas da Escola Paulista de Medicina e pesquisadora do tema há mais de 15 anos.

Segundo a especialista, por atuar no sistema imunológico, a vitamina D pode ajudar a melhorar quadros de infecções respiratórias. “Mas não serve para tratar ou prevenir a doença. Ela tem um papel na imunidade e pode melhorar a resposta contra qualquer patógeno, inclusive o vírus da Covid-19. É um dos motivos pelos quais se deve evitar a deficiência, mas jamais tomar deliberadamente e em excesso”, diz ela, referindo-se ao fato de a suplementação ser vendida em farmácia, sem receita médica. “Doses altas de vitamina D, além de não prevenir, não tratar e não curar a Covid, podem intoxicar, levar à insuficiência renal e até à morte.”

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Em 2020, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (ABRASSO) soltaram uma nota de repúdio às recomendações da Associação Brasileira de Harmonização Orofacial (ABRAHOF) para uso de altas doses de colecalciferol (vitamina D3), como estratégia para combater o novo coronavírus. “Esta associação não determina causalidade, ou seja, não indica relação de causa x efeito, e nenhum estudo clínico randomizado já demonstrou qualquer benefício do uso de vitamina D para prevenção ou tratamento da Covid-19”, informaram as associações, classificando as recomendações como “completamente infundadas”.

Sem excesso, mas sem carência

Independente da Covid-19, a pesquisadora diz que é importante manter as taxas de vitamina D adequadas, já que a longo prazo, a deficiência do nutriente pode levar a alterações ósseas e do sistema imunológico. Hoje é um problema que, segundo Marise, afeita muita gente no Brasil, em especial idosos, mesmo no verão, quando há maior exposição solar.

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De acordo com um estudo feito pela médica e outros pesquisadores brasileiros, publicado no periódico científico inglês Journal of the Endocrine Society, uma parcela significativa dos brasileiros apresenta insuficiência ou deficiência de vitamina D. “O artigo mostra que 15% da população saudável, entre 18 e 45 anos, tem valores baixos de vitamina D no Brasil, provavelmente porque não se expõem ao sol e pela escassez de atividades físicas ao ar livre, algo que ficou comprometido com a pandemia, em que as pessoas ficaram fechadas em casa”, relata a endocrinologista, que acrescenta. “Em idosos chega a 50% os que tem deficiência de vitamina D, então precisa fazer a suplementação, com orientação médica.”

Segundo a médica, no entanto, a melhor forma de se adquirir a vitamina D é tomar sol. “De 10 a 15 minutos por dia, o que não é difícil no Brasil, já que temos sol em abundância”, finaliza.

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