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Medicina traz esperança para doenças por trás de cegueira irreversível

A boa notícia: se detectadas e tratadas a tempo, elas podem ser contidas

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 out 2024, 08h00

Más notícias para a retina, o delicado tecido no fundo do globo ocular responsável por converter os sinais luminosos nos impulsos que serão lidos como imagens pelo cérebro. O envelhecimento populacional e a pandemia de diabetes mundo afora fermentam uma explosão nos casos de doenças que corrompem essa estrutura, podendo levar à perda completa da visão. Pior: com frequência, quando os danos à região progridem, o déficit para enxergar se torna irreversível. O alerta para esse cenário nebuloso foi o ponto alto do congresso da Sociedade Europeia de Especialistas em Retina, o Euretina, realizado em Barcelona, na Espanha. O encontro científico ecoou um chamado para pacientes, médicos e gestores zelarem pela saúde ocular. Afinal, sem o pleno funcionamento dessa sensível área na traseira do olho, rostos, paisagens e obras de arte estão fadados ao embaçamento. E, a depender da gravidade e do atraso para o diagnóstico e o tratamento, a cegueira é o triste destino.

Por mais que a população tenha noção de que o avançar da idade e condições como o diabetes podem prejudicar a visão, nem todo mundo realiza um acompanhamento periódico com o oftal­molo­gis­ta e passa por um simples exame de fundo de olho. Quando a vista apresenta alguma falha, mancha ou borrão, isso costuma ser associado a óculos defasados ou até à catarata, quadro que gera opacidade, mas que afeta outra parte do órgão e é resolvida com cirurgia. No entanto, tais sinais podem ser um reflexo de males como a retinopatia diabética, quando a sobrecarga de açúcar no sangue danifica os vasinhos da retina, resultando em extravasamento de líquidos e estragos ali. “Ela é muito traiçoeira, porque ocorre por vários estágios, como degraus de uma escada, e os primeiros deles não apresentam sintomas”, diz o oftalmologista Arnal­do Furman Bordon, da Sociedade Brasileira de Retina e Vítreo (SBRV). Outra complicação, ainda mais perigosa, é o edema macular diabético, um inchaço na porção mais nobre da retina, a mácula, com sequelas intratáveis.

CHAMADO - O encontro científico europeu: convite ao diagnóstico precoce
CHAMADO - O encontro científico europeu: convite ao diagnóstico precoce (./Divulgação)

A raiz de toda a preocupação é a certeza de que o diabetes cresce de maneira desenfreada. Estatísticas apontam que, até 2030, 650 milhões de pessoas no mundo terão a doença, índice que deve saltar para 1,3 bilhão em 2050. O envelhecimento, por outro lado, não pode nem deve retroceder. Nesse sentido, a força-tarefa deve se pautar também pelo diagnóstico precoce de outra enfermidade, a degeneração macular relacionada à idade, principal causa de cegueira em indivíduos acima dos 50 anos. Calcula-se que 10% da população global pode apresentar a condição na velhice.

Durante os painéis do congresso Euretina, oftalmologistas de vários cantos do planeta bateram na tecla da prevenção. Nessa seara, entra o manejo de fatores de risco modificáveis, como o controle do peso, da glicemia e da pressão arterial. No caso da degeneração macular, um conselho imperativo é parar de fumar. “O tabagismo aumenta em cinco vezes o risco de progressão da doença e as células da retina não se regeneram”, diz a oftalmologista Katia Pacheco, do Centro Brasileiro da Visão, em Brasília. Para viabilizar o diagnóstico mais cedo e de forma precisa — ponto vital para evitar as lesões —, os especialistas apostam suas fichas na inteligência artificial durante a triagem dos pacientes em consultório. “Essas tecnologias ainda são aplicadas em pequena escala, e o ideal é que isso seja feito no âmbito da saúde pública”, disse a VEJA Adnan Tufail, professor de oftal­molo­gia do University College London, na Inglaterra.

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arte retina

Apesar do horizonte de apreensão, também há boas notícias para os olhos. No encontro em Barcelona, os experts reforçaram o papel de medicamentos capazes de tratar os danos à retina antes do seu total comprometimento. Trata-se de remédios injetáveis, já disponíveis no Brasil, como o faricimabe, da Roche, e o aflibercepte, da Bayer, que têm permitido tratamentos cada vez mais cômodos e espaçados, com um intervalo de vinte semanas entre as aplicações. Os pacientes aprovam, mas ainda falham na adesão: com as opções mensais, 65% dos brasileiros abandonam a terapia ao notar melhoras, esquecendo que a doença na retina tende a ser progressiva. Então, vale mirar a bandeira de alerta e cuidar desse precioso tecido nos bastidores da visão.

Publicado em VEJA de 4 de outubro de 2024, edição nº 2913

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