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Harvey Weinstein é abusador ou doente?

Produtor de Hollywood acusado de assédio e estupro declarou ser doente. A ideia, porém, é controversa entre os profissionais de saúde

Por da Redação
Atualizado em 25 out 2017, 21h15 - Publicado em 17 out 2017, 13h28

“Eu não estou mal. Eu estou doente.” Na essência, essa seria a explicação do mega empresário e produtor de Holywood, Harvey Weinstein, acusado de violar três mulheres, além de assediar sexualmente outras dezenas nos últimos trinta anos. Também deu a entender que vai iniciar tratamento contra o vício — coincidentemente, horas depois de sua esposa, a designer Georgina Chapman, com quem estava casado havia dez anos, ter anunciado que o estava deixando.

Weinstein não é o primeiro nem será o último a se defender com tal declaração, de ser apenas mais um doente viciado em sexo — condição popularmente atribuída a grandes casos de violação, principalmente nos Estados Unidos, nos últimos quarenta anos. Mas o comportamento permanente atribuído ao produtor de filmes foi tão extremo que desencadeia um ceticismo sobre a ideia de dependência sexual.

David Ley, psicólogo clínico no Novo México e autor do livro The Myth of Sex Addiction (O Mito do Vício em Sexo), acredita que a doença se configure, de fato, em pouquíssimos casos. “Já virou um termo tão usado e mal utilizado, que acaba sendo uma desculpa sem sentido”, declarou.

Embora a ideia de ‘vício em sexo’ ser comumente empregada, o conceito é altamente controverso entre os profissionais de saúde. Em parecer divulgado pela Associação Americana de Educadores, Conselheiros e Terapeutistas, no último ano, foi totalmente rechaçado. Em 2013, quando a sociedade americana de psiquiatria atualizou suas diretrizes, no Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais, também desconsideraram a condição e não a incluíram como um possível novo diagnóstico.

Um dos responsáveis declarou que a decisão teria sido tomada pela falta de novas pesquisas na área.

David Ley diz que muitas pessoas foram até ele preocupadas por acharem que eram viciados em sexo e pornografia pelo fato de consumirem fotos e vídeos de sexo. Mas, em sua maioria, eram apenas casos de pessoas que cresceram em famílias altamente religiosas e, por isso, poderiam pensar que comportamentos sexuais considerados normais fossem evidências de uma possível desordem mental. “Elas não se envolviam mais ou menos em histórias sexuais do que qualquer outra pessoa. Mas se sentiam mal por isso.”

Isso se relaciona com um estudo que mostra que os espectadores de pornografia que têm crenças religiosas são mais propensos a se enxergarem como viciados.

Entre outros perfis atribuídos a grupos de viciados em sexo estavam homens gays e bissexuais, muitas vezes infelizes em seus relacionamentos, ou simplesmente outras pessoas que gostavam mais de sexo do que os parceiros com quem estavam.

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Quando essas pessoas acham um terapeuta que defende o modelo de “dependência sexual”, elas podem acabar recebendo tratamento. Isso geralmente implica em terapia de grupo, envolvendo um programa similar de “doze passos”, como os comumente indicados para alcoólatras. No entanto, não há ensaios randomizados que mostrem que essa terapia é útil para comportamentos sexuais considerados fora do normal. Pelo contrário, muitos profissionais acreditam que há dicas até consideradas inúteis.

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Anne Wizorek, alemã e consultora de mídias digitais, relembra que o fato de Weinstein ter conseguido permanecer tanto tempo impune não é, nem de longe, um problema específico de Hollywood. O caso dele só deixa claro como funciona o sexismo e como ele não apenas gera crimes de violência sexual como também os apoia. E isso ocorre em todas em as áreas e no mundo inteiro.

Com DW, New Scientist e The Guardian

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