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Gordura no fígado: brasileiros desconhecem o perigo nem sabem como detectá-lo

Pesquisa de abrangência nacional revela desinformação sobre condição que pode evoluir para cirrose ou câncer e contribuir para problemas cardiovasculares

Por Diogo Sponchiato Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 19 Maio 2025, 08h00

Há males que grassam silenciosamente pela população sem que ela se dê conta da ameaça ou mesmo tenha ideia do seu impacto. É o caso da gordura no fígado, expressão popular para uma doença também popular que pode levar o órgão à falência e o organismo ao colapso.

Estima-se que três em cada dez pessoas convivam com o problema. Contudo, segundo nova pesquisa, 60% dos brasileiros não sabem como flagrá-lo e 40% sequer conhecem os termos que dão nome à condição e a seus prejuízos.

Esse é o principal diagnóstico de um levantamento encomendado pela farmacêutica Novo Nordisk ao Instituto Datafolha para entender o grau de (des)conhecimento da população sobre a esteatose hepática ou doença hepática gordurosa não alcoólica, alguns dos nomes técnicos para a gordura no fígado.

O estudo ouviu 2 013 cidadãos de 16 anos ou mais, contemplando de forma representativa a sociedade em termos de classe social, região e sexo.

“O dado mais alarmante é que 41% dos entrevistados desconhecem termos como esteatose hepática, fibrose e mesmo cirrose. E isso é preocupante se pensarmos que essa já é a doença mais comum do fígado mundialmente”, comenta a hepatologista Claudia Oliveira, professora da Faculdade de Medicina da USP. “A esteatose pode levar à cirrose e ao câncer de fígado e ainda é capaz de piorar condições metabólicas já existentes, como problemas renais e cardiovasculares”.

O mapeamento do Datafolha também descobriu que cerca de 60% dos brasileiros não sabem qual exame é capaz de detectar a gordura no fígado. “A população desconhece o tema e, às vezes, os próprios médicos não valorizam a importância de rastrear a esteatose e encaminhar o paciente a um especialista quando necessário”, diz Oliveira.

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O elo com a obesidade

Calcula-se que 80% das pessoas acima do peso tenham gordura no fígado. No novo estudo, de acordo com as entrevistas e levando em consideração o índice de massa corporal (IMC), 66% dos participantes se enquadravam nos critérios de sobrepeso ou obesidade – isto é, tinham um IMC maior que 25.

Paradoxalmente, apenas 7% desse público recebeu um diagnóstico formal de esteatose hepática. Entre aqueles com o quadro detectado, 10% não foram aconselhados a fazer uma investigação mais detalhada, menos da metade foi informada de que a condição tinha relação com o peso e 65% dos casos foram classificados em estágio leve.

É de pressupor, portanto, que milhares de pessoas com gordura no fígado sequer saibam que carregam um problema por trás de inflamação e danos potencialmente progressivos no órgão. A esteatose não é inofensiva. Pode evoluir para uma hepatite, gerar cicatrizes no fígado que, com o tempo, comprometem suas inúmeras funções (quadro chamado de fibrose) e avançar para situações ainda mais severas como cirrose e câncer. 

Costuma andar de mãos dadas com o excesso de peso, o diabetes tipo 2 e as doenças cardiovasculares, inclusive elevando o risco de infarto e outras complicações. Dessa forma, também tem ligação com o sedentarismo e uma dieta desequilibrada, geralmente rica em carboidratos simples e gordura saturada e poucas hortaliças e fontes de fibras.

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Como é feito o diagnóstico?

A alta prevalência da gordura no fígado preocupa em termos de saúde pública por expor pessoas em idade produtiva a um possível transplante hepático no futuro, além de outras situações que minam a qualidade e a expectativa de vida.

A detecção precoce, como é de se supor, faz diferença para impedir essa rota de estragos. “Hoje em dia indicamos o rastreamento a pessoas que estão acima do peso, com IMC maior que 25, a indivíduos com enzimas hepáticas alteradas [algo apontado por exames de sangue] e a pacientes com critérios para síndrome metabólica, ou seja, que possuem condições como diabetes tipo 2, aumento da circunferência abdominal, colesterol alto e hipertensão”, explica Oliveira.

Embora a gordura no fígado possa ser visualizada ocasionalmente em um ultrassom, o método mais recomendado para bater o martelo e determinar o nível de gravidade é um exame de imagem chamado elastografia, geralmente associado à ultrassonografia ou à ressonância magnética. Na ausência dela, alguns cálculos baseados em resultados de exames de sangue ajudam a inferir o grau de risco hepático.

O tratamento da gordura no fígado

A exemplo da obesidade, ele passa por mudanças no estilo de vida. Balancear a dieta e praticar exercícios físicos regularmente estão na base do tratamento.

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Mas ainda não há um remédio disponível no Brasil capaz de reverter diretamente o depósito gorduroso e seus estragos.

No entanto, há mudanças no horizonte. Nos Estados Unidos, foi aprovado recentemente o primeiro medicamento com atuação na redução do acúmulo de gordura e na extensão dos danos hepáticos, o resmetirom – que ainda não tem aval no país.

Outra aposta reside na nova geração de medicamentos para obesidade e diabetes tipo 2, os análogos de GLP-1. A hepatologista Claudia Oliveira liderou no Brasil o estudo que investigou a semaglutida (de Ozempic e Wegovy) diante da esteatose hepática. “Demonstramos que houve melhora na inflamação causada pela gordura e na fibrose hepática, que é o que acaba levando à cirrose”, conta a professora da USP.

Tudo indica que a medicação deverá receber sinal verde das agências regulatórias para o tratamento da gordura no fígado associada ao diabetes ou ao excesso de peso. Outra droga que obteve bons resultados nessa direção foi a tirzepatida (Mounjaro).

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