Gentileza gera gentileza? Como atos de bondade podem curar a depressão
Estudo mostra que atitudes gentis levam a melhores resultados do que técnicas terapêuticas tradicionais usadas para tratar doenças mentais
Um estudo da Universidade Estadual de Ohio, nos Estados Unidos, publicado no The Journal of Positive Psychology, descobriu que realizar atos de gentileza leva a melhores resultados do que técnicas terapêuticas tradicionais usadas para tratar a depressão ou a ansiedade.
Segundo David Cregg, pesquisador que liderou o trabalho ao lado da professora de psicologia, Jennifer Cheavens, essas atitudes de bondade foram as únicas intervenções testadas que ajudaram as pessoas a se sentirem mais conectadas umas às outras. “A conexão social é um dos elementos da vida mais associados ao bem-estar. Realizar atos de bondade parece ser uma das melhores maneiras de promover essas conexões”, diz Cregg.
A pesquisa também revelou o porquê esses atos de gentileza funcionam tão bem: ajudam as pessoas a não pensarem em seus próprios sintomas de depressão e ansiedade. “Esta descoberta sugere que a impressão que muita gente tem sobre pessoas com depressão pode estar errada”, afirma Jennifer. Ela explica. “Muitas vezes pensamos que os deprimidos já têm muito com o que lidar, então não queremos sobrecarregá-los pedindo que ajudem outras pessoas. Mas esses resultados mostram o contrário: fazer coisas boas e focar nas necessidades dos outros pode realmente ajudar as pessoas com depressão e ansiedade a se sentirem melhor consigo mesmas”.
O estudo envolveu 122 indivíduos no centro de Ohio que apresentavam sintomas moderados a graves de depressão, ansiedade e estresse. Após uma sessão introdutória, os participantes foram divididos em três grupos. Dois foram designados para técnicas frequentemente usadas na terapia cognitivo-comportamental (TCC) para depressão. O primeiro foi instruído a planejar atividades sociais para dois dias por semana. E o segundo foi orientado a realizar a reavaliação cognitiva, um dos fundamentos da TCC. Esses voluntários mantiveram registros por pelo menos dois dias por semana, que os ajudaram a identificar padrões de pensamento negativo e revisá-los de forma a reduzir a depressão e a ansiedade.
Já os membros do terceiro grupo foram instruídos a realizar três atos de gentileza por dia, durante dois dias da semana. Esses movimentos de bondade foram definidos como “atos grandes ou pequenos que beneficiam os outros ou os tornam felizes, geralmente com algum custo em termos de tempo ou recursos” como assar biscoitos para amigos, oferecer carona a uma pessoa e deixar recados para colegas com palavras de encorajamento.
Os participantes seguiram as instruções por cinco semanas até serem avaliados novamente, nas proximas cinco semanas. Após dez semanas, os resultados mostraram que as pessoas dos três grupos apresentaram um aumento na satisfação com a vida e uma redução dos sintomas de depressão e ansiedade. “Esses resultados são encorajadores porque sugerem que todas as três intervenções do estudo são eficazes na redução do sofrimento e na melhoria da satisfação”, pontua Cregg. Mas os atos de bondade e gentileza ainda mostraram uma vantagem sobre as atividades sociais e a reavaliação cognitiva porque “fizeram com que as pessoas se sentissem mais conectadas com outras, o que é uma parte importante do bem-estar”.
Cheavens observa ainda que apenas participar de atividades sociais não melhorou os sentimentos de conexão social. “Existe algo específico em realizar atos de bondade que fazem as pessoas se sentirem conectadas umas às outras. Não basta apenas estar perto, participando de atividades sociais”, diz ela. De acordo com a psicóloga, como nem todo mundo pode se beneficiar da psicoterapia ou tem a oportunidade de receber esse tratamento, pode realizar um treinamento relativamente fácil com efeitos reais na redução dos sintomas de depressão e ansiedade.
“Atos de bondade podem ter benefícios adicionais na criação dessas conexões sociais. É algo tão simples que além de ajudar os outros, pode efetivamente curar pessoas com depressão e ansiedade ”, finaliza Cregg.