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EUA se preparam para um ‘novo normal’ com dengue

País pode enfrentar taxas históricas da doença com combinação entre mudanças climáticas, falta de uma vacina eficaz e cortes na pesquisa federal

Por Phillip Reese, da KFF Health News*
15 jul 2025, 10h00
À medida que a temporada de mosquitos se aproxima de seu nível máximo no verão do Hemisfério Norte, as autoridades de saúde e controle de vetores dos Estados Unidos preparam-se para a possibilidade de mais um ano de taxas históricas de dengue. Com as mudanças climáticas, a falta de uma vacina eficaz e os cortes na pesquisa federal, surge o temor de que a doença se torne endêmica em áreas cada vez maiores da América do Norte.
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Cerca de 3.700 novas infecções por dengue foram relatadas no ano passado nos Estados Unidos contíguos, acima de cerca de 2.050 em 2023, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC). Todos os casos do ano passado foram contraídos no exterior, exceto 105 casos na Califórnia, Flórida ou Texas. O CDC emitiu um alerta de saúde em março sobre o risco contínuo de infecção por dengue.

“Acho que a dengue está aqui para ficar”, disse o especialista em doenças infecciosas Michael Ben-Aderet, diretor médico associado de epidemiologia hospitalar do Cedars-Sinai, em Los Angeles, sobre a dengue se tornar um novo normal nos EUA. “Esses mosquitos não estão indo embora”.

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A dengue é endêmica — um rótulo que as autoridades de saúde atribuem quando as doenças aparecem consistentemente em uma região — em muitas partes mais quentes do mundo, incluindo América Latina, Índia e Sudeste Asiático. Os casos de dengue aumentaram acentuadamente no ano passado em muitas dessas áreas, especialmente na América Central e do Sul.

A doença, que pode se espalhar quando as pessoas são picadas por mosquitos Aedes infectados, não foi comum nos Estados Unidos contíguos durante a maior parte do século passado. Hoje, a maioria dos casos de dengue contraídos localmente (ou seja, não relacionados a viagens) nos EUA acontece em Porto Rico, que teve um aumento acentuado em 2024, desencadeando uma emergência de saúde pública local.

A maioria das pessoas que contraem dengue não fica doente. Mas algumas podem desenvolver sintomas graves: sangramento do nariz ou da boca, dor de estômago intensa, vômitos e inchaço. Mais raramente, a dengue pode matar.

A Califórnia representa um estudo de caso sobre como a dengue está se espalhando nos EUA. Os mosquitos Aedes aegypti Aedes albopictus não eram registrados no estado há 25 anos. Agora, podem ser encontrados em 25 condados e mais de 400 cidades e comunidades, principalmente no sul da Califórnia e no Vale Central.

A propagação dos mosquitos é preocupante porque sua presença aumenta a probabilidade de transmissão de doenças, disse Steve Abshier, presidente da Associação de Controle de Mosquitos e Vetores da Califórnia.

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De 2016 a 2022, houve uma média de 136 novos casos de dengue ao ano na Califórnia, cada caso provavelmente trazido para o estado por alguém que viajou e foi infectado em outro lugar. Em 2023, houve cerca de 250 novos casos, incluindo dois contraídos localmente. Em 2024, a Califórnia assistiu a 725 novos casos de dengue, incluindo 18 contraídos localmente, mostram dados estaduais.

Mudanças climáticas e desafios

A mudança climática pode contribuir para o crescimento da população de mosquitos Aedes, disse Ben-Aderet. Esses mosquitos sobrevivem melhor em áreas urbanas quentes, muitas vezes picando durante o dia. Infecções adquiridas localmente geralmente ocorrem quando alguém pega dengue durante uma viagem, depois volta para casa e é picado por um mosquito Aedes, que então pica e infecta outra pessoa.

“Eles estão se espalhando como um incêndio pela Califórnia”, disse Ben-Aderet.

A dengue apresenta um desafio para muitos médicos de atenção primária americanos, que nunca viram a doença. Ben-Aderet disse que os médicos que suspeitam de dengue devem obter um histórico de viagem detalhado de seus pacientes, mas confirmar o diagnóstico nem sempre é rápido.

“Não há teste fácil para isso”, disse ele. “O único teste que temos para dengue são os testes de anticorpos”. Ele acrescentou que “a maioria dos laboratórios provavelmente não está fazendo isso comercialmente, então geralmente é um teste que a maioria dos laboratórios tem de solicitar para algum outro. Então você realmente tem que suspeitar que alguém tenha dengue”.

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As melhores práticas para evitar a dengue incluem a eliminação de todas as poças de água em uma propriedade — mesmo as menores — e o uso de repelente de mosquitos, disse Abshier. Limitar a atividade ao anoitecer e ao amanhecer, quando os mosquitos picam com mais frequência, também pode ajudar.

Os esforços para combater a dengue na Califórnia tornaram-se ainda mais complicados este ano, depois dos incêndios florestais que atingiram Los Angeles. Os incêndios ocorreram em uma “zona quente” para doenças transmitidas por mosquitos. Funcionários do Distrito de Controle de Mosquitos e Vetores de San Gabriel Valley trabalharam por meses para tratar mais de 1.400 piscinas abandonadas após o fogo, removendo potenciais locais de reprodução para mosquitos.

Funcionários de controle de vetores de San Gabriel usaram recursos locais e estaduais para tratar as piscinas, disse o porta-voz do distrito, Anais Medina Diaz. Eles solicitaram reembolso da Agência Federal de Gerenciamento de Emergências, que historicamente não paga por esforços de controle de vetores após incêndios florestais.

Na Califórnia, as agências de controle de vetores geralmente são financiadas principalmente por impostos e taxas locais sobre imóveis.

Algumas autoridades estão buscando o novo método de liberar mosquitos Aedes estéreis para reduzir o problema. Isso pode funcionar, mas implantar o método em um grande número de áreas seria caro e exigiria um esforço maciço em nível estadual, disse Abshier. Enquanto isso, o governo federal recua em suas intervenções: vários meios de comunicação relataram que os Institutos Nacionais de Saúde deixarão de financiar novas pesquisas relacionadas às mudanças climáticas, que podem incluir trabalhos sobre dengue.

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Este ano, as taxas relatadas de dengue em grande parte das Américas diminuíram significativamente em relação a 2024. Mas a tendência nos Estados Unidos provavelmente não será clara até o final do ano, após o término da temporada de mosquitos de verão.

Pesquisadores de saúde e controle de vetores não têm certeza de qual será a situação na Califórnia. Alguns dizem que pode haver surtos limitados, enquanto outros preveem que a dengue pode piorar muito. Sujan Shresta, professora e pesquisadora de doenças infecciosas do Instituto de Imunologia de La Jolla, disse que outros lugares, como o Nepal, experimentaram relativamente poucos casos de dengue no passado recente, mas agora sofrem regularmente com grandes surtos.

Há uma vacina para crianças, mas ela deve deixar de ser fabricada, devido à falta de demanda global. Duas outras vacinas contra a dengue não estão disponíveis nos Estados Unidos. O laboratório de Shresta tenta desenvolver uma vacina eficaz e segura para a dengue. Ela espera divulgar os resultados de testes em animais em um ano ou mais; se os resultados forem positivos, testes em humanos podem ser possíveis em cerca de dois anos.

“Se não houver uma boa vacina, nenhum bom antiviral, a dengue se tornará endêmica neste país”, disse ela.

*Phillip Reese é especialista em relatórios de dados e professor associado de jornalismo na California State University-Sacramento

Este artigo foi produzido pela KFF Health News, que publica a California Healthline, um serviço editorialmente independente da California Health Care Foundation. A versão original em inglês encontra-se aqui e tem versão em português na Revista Questão de Ciência

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