Estimulação magnética é nova aposta para tratar paciente bipolar
Estudo que mostrou os efeitos do método foi publicado na Nature e conduzido por pesquisadores do Hospital das Clínicas de São Paulo
Terapia por estimulação magnética do crânio pode ser nova aliada no tratamento de pacientes bipolares. O estudo, publicado recentemente na revista científica Nature foi realizado por pesquisadores brasileiros no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e mostrou que o “deep TMS”, equipamento de estimulação magnética profunda, semelhante àquelas cadeiras de salão de beleza com secador embutido, pode ser ministrado em conjunto com os medicamentos em pacientes em fase depressiva da doença, potencializando os resultados, de acordo com informações do Uol.
Os neurônios são estimulados a partir de ondas magnéticas produzidas por corrente elétrica biológica, ajudando na produção da química necessária para o tratamento. No entanto, a técnica não substitui a medicação. “A doença é crônica, como diabetes e hipertensão. Parar o remédio, nesta doença, o risco de recaída é praticamente certo. O tratamento magnético seria uma opção para potencializar”, explica o médico psiquiatra Diego Tavares ao UOL Notícias.
Casos estudados
No estudo, o aparelho foi testado em cinquenta pacientes bipolares da mesma faixa etária, que foram separados em grupos de acordo com suas diferentes medicações, como lítio, antipsicótico e anticonvulsivo. Apenas um grupo recebeu a terapia magnética, em sessões de vinte minutos, todos os dias durante quatro semanas. Ao final, a escala de níveis de depressão foi avaliada. Os resultados foram avaliados a partir de questionários preenchidos pelos pacientes, nos quais analisavam atividades e reações em seu cotidiano, como crises de pânico, choro, desânimo e pensamentos suicidas.
Desde 2012, a Estimulação Magnética Transcraniana (EMT) é reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) em casos de depressão uni e bipolar, de alucinação auditiva em esquizofrenia e no planejamento de neurocirurgia. “A estimulação magnética até hoje tem função reconhecida para a fase depressiva. Mas ela não tem eficácia nas outras fases e não previne a crise, apenas trata os sintomas”, explica Moacyr Alexandro Rosa, diretor do Instituto de Pesquisas Avançadas em Neuroestimulação e professor da Unifesp.
Contraindicações
A terapia, por ter o procedimento semelhante ao da ressonância magnética, não é recomendada para pacientes epilépticos, com próteses de metal na cabeça ou implantes cocleares. No entanto, poucos efeitos colaterais foram apresentados. “O único incômodo relatado pelos pacientes foi um formigamento na região onde a estimulação estava sendo feita. Diferente de enjoos, tontura e outros efeitos causados por remédios”, conta Tavares.
Transtorno bipolar
A doença não tem cura e costuma dar os primeiros sinais durante a adolescência ou no início da vida adulta, causando alterações severas de humor, entre períodos de depressão e euforia. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria, a condição afeta entre 3% a 8% da população.
Com o decorrer dos estudos, Tavares acredita que a terapia poderá, no futuro, servir como uma alternativa para aqueles que não podem tomar remédios, como gestantes e pacientes em tratamento de quimioterapia.