Entenda por que ficamos em relacionamentos ruins
De acordo com novo estudo, muitas pessoas permanecem em uma relação desgastante pelo bem do parceiro
Você já deve ter se perguntado porque a sua amiga ou seu conhecido se mantém em um relacionamento que claramente não traz felicidade. A explicação pode surpreender: é tudo uma questão de empatia. De acordo com dois estudos publicados no periódico científico Journal of Personality and Social Psychology, as pessoas geralmente preferem não terminar se acreditarem que o parceiro (ou parceira) é muito dependente da relação.
“Os indivíduos permanecem em relacionamentos pelo bem de seus parceiros, mesmo que se sintam desprezados por eles”, explicou Emily Impett, da Universidade de Toronto. Segundo ela, a ideia de que o término vai causar enorme angústia no parceiro é um forte motivador para que algumas pessoas escolham não romper o compromisso.
Apesar disso, alguns especialistas acreditam que a principal razão para evitar o rompimento é o medo da solidão. A psicóloga Madeleine Mason Roantree, por exemplo, ressaltou também que muitos não querem admitir que existem problemas que não podem ser solucionados ou indivíduos que preferem ignorar que o parceiro é a real fonte de infelicidade. “Outra razão poder ser o fato de alguns acreditarem que serão considerados socialmente fracassados se puserem fim ao relacionamento”, disse ao The Independent.
O poder da empatia
O estudo – realizado pela Universidade de Toronto, no Canadá, e pela Universidade de Utah, nos Estados Unidos – foi dividido em duas partes: na primeira, os pesquisadores acompanharam 1.348 pessoas em relacionamentos românticos durante 10 semanas. Na segunda, que durou dois meses, foram selecionados 500 participantes (do primeiro grupo) que estavam considerando terminar a relação.
Os resultados mostraram que 18% dos casais se separaram ao fim das 10 semanas de observação (primeira pesquisa), enquanto no segundo estudo, apenas 29% dos participantes realmente desistiram do relacionamento.
Para os pesquisadores, a maioria dos casais foi motivado a permanecer em uma convivência infeliz porque um deles levou em consideração não apenas as próprias necessidades e desejos, mas também o quanto o parceiro (ou parceira) queria ou precisava que o relacionamento continuasse. “Quando os participantes percebiam que o parceiro estava altamente comprometido com o relacionamento, era menos provável que houvesse rompimento”, disse Samantha Joel, principal autora do estudo.
De acordo com Samantha, o resultado foi similar mesmo quando a decisão de não terminar o relacionamento partiu da pessoa mais insatisfeita com o relacionamento. O mesmo foi registrado para indivíduos que não estavam tão comprometidos com a relação quanto o parceiro. Os dados indicam que essa escolha foi feita com base na esperança de que o relacionamento fosse melhorar com o tempo.
Percepção x realidade
A percepção dos participantes acerca de quanto o parceiro estava realmente comprometido com a relação foi um dos principais motivadores da decisão de permanecer juntos. No entanto, eles destacam que isso pode significar que a possibilidade de que algumas pessoas superestimaram a realidade e valorizaram demais a vontade do parceiro de manter a relação. “Decidir ficar [junto] baseado na dependência percebida de um parceiro pode ser uma faca de dois gumes. Se o relacionamento melhorar, foi uma boa decisão. Mas se isso não acontecer, eles apenas prolongaram um relacionamento ruim”, alertou Samantha.
Outros motivos
Pesquisas anteriores indicam que existem motivos “egoístas” pelos quais as pessoas escolhem ficar juntas, como o tempo que gastaram construindo o relacionamento ou recursos e emoções investidos na convivência. Além disso, outros indivíduos consideram também a falta de alternativas melhores, como ter que ficar sozinho ou não ter parceiros em potencial disponíveis.
Agora, os pesquisadores querem aprofundar o conhecimento sobre as motivações que levam as pessoas a se manterem em um relacionamento ruim sob as perspectivas do outro parceiro para descobrir se de fato o fim do relacionamento seria traumático ou se esta é apenas a percepção do outro. Para Emily, essa nova abordagem pode indicar para o parceiro “frágil” que existe uma insatisfação não percebida; para ela, isso poderia exercer um efeito positivo sobre o relacionamento.