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Diretriz sobre uso de colírio em recém-nascido é atualizada por Ministério da Saúde

Pasta substituiu nitrato de prata a 1% por outras substâncias mais eficazes para evitar conjuntivite neonatal, que pode causar cegueira em bebês

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 8 ago 2024, 17h41 - Publicado em 8 ago 2024, 17h34

Ainda na maternidade, o recém-nascido tem a primeira experiência com um colírio que deixa algumas mães apreensivas, mas que integra uma importante conduta para evitar riscos de conjuntivite neonatal, condição que pode levar à cegueira. O motivo da preocupação está ligado à possibilidade de irritação nos olhos causada pelo nitrato de prata a 1%, diretriz adotada em 1977 que, por determinação do Ministério da Saúde, foi atualizada nesta semana e vai dar lugar a substâncias mais eficazes contra infecções oculares e menos agressivas.

Em nota técnica divulgada nesta terça-feira, 6, a pasta recomenda a substituição do tradicional colírio por iodopovidona a 2,5%, eritromicina a 0,5% ou tetraciclina a 1% para evitar infecção da conjuntiva dos bebês por bactérias durante o parto (leia mais abaixo). A conjuntivite neonatal pode aparecer entre 24 horas e um mês após o nascimento.

“Estudos recentes comprovam que esses agentes são mais eficazes na proteção dos bebês contra infecções oculares, que podem levar a complicações graves se não tratadas adequadamente”, informou, em nota, o ministério.

O bem-estar dos bebês foi considerado pelo ministério, pois o nitrato de prata a 1% é conhecido por causar ardência, desconforto e até episódios de conjuntivite química nos recém-nascidos. No caso da iodopovidona a 2,5%, além da eficácia, a substância tem custo acessível e não tem problemas de conservação.

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Por que o colírio é usado?

Também chamado de oftalmia neonatal, o quadro infeccioso na conjuntiva ocorre depois que o recém-nascido entra em contato com secreções genitais da mãe contaminadas com agentes bacterianos. O uso do nitrato de prata a 1% foi introduzido pelo obstetra alemão Sigmund Franz
Credé, no fim do século XIX, e a profilaxia, conhecida como “método de Credé”, era a abordagem de eleição no Brasil há 47 anos.

Segundo documento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a prevalência de conjuntivite neonatal varia entre 1,6% a 12% dos recém-nascidos, mas pode atingir 23% em países de renda média.

“Durante muito tempo, o nitrato de prata cumpriu um papel fundamental especialmente porque as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) eram mais frequentes no passado e a infecção ocular adquirida no parto era uma causa importante até de cegueira. Tinha efeitos colaterais, como irritação química no olhinho do bebê”, explica o infectologista e pediatra Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da SBP. “A gonorreia diminuiu bastante, a clamídia é bem mais frequente hoje em dia e a sensibilidade do nitrato de prata não é tão boa para a prevenção”, completa o médico.

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Segundo Kfouri, a mudança está alinhada com as recomendações atuais e as substâncias, além de mais eficazes, não desencadeiam efeitos colaterais importantes. “As famílias não têm de ter receio, pelo contrário. É importante, porque muitas dessas infecções são assintomáticas na mãe e esta é uma gotinha com grandes benefícios para as crianças.”

A existência de outros patógenos que podem infectar os olhos do bebê, caso da causadora da clamídia, a Chlamydia trachomatis, é citada na nota técnica do ministério.

“A conjuntivite neonatal por clamídia também está associada a alto risco de cicatrizes na córnea e conjuntiva, hemorragia conjuntival e, raramente, perda de visão se não for tratada”, diz o documento, que indica que Staphylococcus aureus e alguns vírus como o herpes simples e o adenovírus também podem causar o problema.

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