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Desinformação sobre autismo aumenta 15.000% na América Latina; Brasil é epicentro das falsas alegações

Levantamento inédito feito com base em grupos conspiratórios do Telegram catalogou causas infundadas e falsas promessas de cura; veja as principais

Por Victória Ribeiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 nov 2025, 12h00

Nos últimos cinco anos, um novo tipo de epidemia tomou conta das redes: a desinformação sobre o autismo. Um levantamento inédito da Autistas Brasil, em parceria com o Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DesinfoPop/FGV), mostra que o volume de desinformação sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA) na América Latina e no Caribe aumentou mais de 15.000% desde o início da pandemia de Covid-19.

O estudo analisou 58,5 milhões de mensagens trocadas entre 5,3 milhões de usuários em 1.659 grupos e canais conspiratórios no Telegram entre 2015 e 2025. Dentro desse mar de conteúdo, 47 mil publicações falavam diretamente sobre autismo — e foram vistas quase 100 milhões de vezes.

Brasil é o epicentro da desinformação

Entre os países analisados, o Brasil aparece como líder na produção e circulação de conteúdo falso sobre autismo. Quase metade (48%) de tudo o que se dissemina na região sobre o tema parte daqui. Foram identificadas 10.591 publicações feitas no país, com 13,9 milhões de visualizações, alcançando 1,7 milhão de pessoas. Argentina, México, Venezuela e Colômbia aparecem logo atrás, mas bem distantes do volume brasileiro.

“Estamos diante de uma epidemia silenciosa de desinformação”, alerta Guilherme de Almeida, presidente da Autistas Brasil. “A cada nova teoria sem base científica, o que está em jogo não é apenas a verdade, mas a segurança e a dignidade das pessoas autistas e de seus familiares.”

Do Wi-Fi ao Doritos

Ao todo, os pesquisadores catalogaram 150 causas infundadas e 150 promessas de cura sem qualquer respaldo científico associadas ao autismo. Entre as supostas origens apontadas, estão:

  • Uso de 5G, Wi-Fi e micro-ondas
  • consumo de salgadinhos como Doritos
  • Presença de “parasitas” no corpo
  • Inversão do campo magnético da Terra
  • Corantes e alimentos industrializados
  • Cosméticos, desodorantes e até água da torneira
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“Já entre as falsas curas, foram identificadas práticas perigosas e, em alguns casos, criminosas”, afirma a Autistas Brasil. Nos grupos, circulam promessas de que o TEA poderia ser “revertido” com métodos sem qualquer base científica. E, em muitos casos, potencialmente tóxicos.

Entre eles está o dióxido de cloro (CDS ou MMS), substância química usada para limpeza industrial que, ingerida, pode causar queimaduras e intoxicações graves. A ozonioterapia, por sua vez, consiste na aplicação de ozônio por vias como o reto ou o sangue — prática sem comprovação e com risco de inflamações e embolias. Já o chamado “eletrochoque de Tesla” nada mais é do que o uso de descargas elétricas em casa, vendido ilegalmente como terapia “vibracional”.

Também aparecem o uso de prata coloidal, solução metálica que pode se acumular nos tecidos e causar danos neurológicos e hepáticos, e o azul de metileno, um corante químico que, fora do ambiente hospitalar e em doses incorretas, traz risco de toxicidade.

Os chamados protocolos de “desparasitação” envolvem laxantes, antiparasitários e substâncias corrosivas, sob o argumento falso de “eliminar vermes” do organismo. E há ainda as dietas extremas e suplementações sem orientação médica, que podem causar deficiências nutricionais e até atrasos no desenvolvimento.

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Segundo Almeida, esse tipo de conteúdo não surge por acaso. Ele explica que há um verdadeiro mercado da desinformação, que explora o medo e a expectativa de pais e cuidadores com fins lucrativos. “Essas falsas promessas, muitas vezes apresentados como “a solução que médicos não querem que você saiba”, se transformam em produtos, cursos, terapias milagrosas e suplementos sem comprovação. É um ciclo de exploração que precisa ser interrompido com políticas públicas e responsabilidade das plataformas”, defende.

SBI lança novas diretrizes – desinformação foi uma das motivações

No início de outubro, a Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil (SBNI) divulgou uma nova versão do documento “Recomendações e Orientações para o Diagnóstico, Investigação e Abordagem Terapêutica do Transtorno do Espectro Autista (TEA)”. A última atualização havia sido publicada em 2021. A revisão reflete não só os avanços recentes nas pesquisas sobre o tema, mas também a necessidade de enfrentar a onda de desinformação.

Vale lembrar: o autismo não é uma doença, e sim uma condição do neurodesenvolvimento. Dentro do espectro, podem surgir características como diferenças na comunicação verbal e não verbal, comportamentos repetitivos e interesses muito focados. Ainda não há uma causa única definida, mas as evidências indicam uma combinação de fatores genéticos, ambientais e psicossociais.

“Vivemos uma era de desinformação em saúde, e o TEA talvez seja um dos temas mais afetados. As redes sociais amplificam práticas sem base científica, de dietas restritivas a terapias ‘milagrosas’. O objetivo do documento é deixar muito claro o que tem comprovação, o que ainda está em estudo e o que simplesmente não deve ser recomendado”, explica o neurologista Marcelo Masrula, ex-presidente da SBNI.

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Segundo ele, essas promessas costumam surgir justamente em momentos de maior vulnerabilidade, logo após o diagnóstico. “É natural que os pais busquem uma solução rápida, algo mais simples e tangível. Mas é aí que surgem as armadilhas.”

Exemplos não faltam. O neurologista Van der Linden, membro do Departamento Científico de Transtornos de Neurodesenvolvimento da SBNI e um dos autores das novas diretrizes, cita as chamadas terapias antiparasitárias, baseadas na ideia equivocada de que o autismo seria causado por “parasitas intestinais” ou intoxicação por metais pesados. “A partir disso, chegam a propor o uso de quelantes para ‘limpar’ o corpo, o que é potencialmente perigoso”, alerta.

Outras práticas sem respaldo científico também foram listadas no documento, tais como:

  • Uso de Ômega 3
  • Vitaminas e suplementos sem deficiência diagnosticada (piridoxina, B12, vitamina D)
  • Leuprorrelina
  • Dieta sem glúten (na ausência de doença celíaca ou intolerância diagnosticada)
  • Dieta sem caseína
  • Transplante fecal
  • MMS (Mineral Miracle Solution)
  • Ozonioterapia
  • Oxitocina
  • Quelantes de metais pesados
  • Corticoides
  • Imunoglobulina
  • Antiparasitários
  • Células-tronco
  • Óleos essenciais e florais
  • Sulforafano
  • Son-Rise, Padovan, psicanálise
  • Oxigenoterapia hiperbárica

“Quando uma família aposta em uma terapia sem eficácia comprovada, ela não apenas gasta recursos, mas perde tempo precioso de intervenção eficaz, o que pode comprometer o desenvolvimento da criança”, afirma Masrula.

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