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Covid-19 aumenta custos com tratamento de câncer de mama

Estudo revela que a pandemia derrubou para quase metade o rastreio da doença no SUS com cerca de um milhão de mamografias não realizadas em 2020

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 mar 2023, 19h06

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e publicado no BMC Health Services Research, revela que a Covid-19 impactou negativamente a atenção ao câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS). Segundo a pesquisa, cerca de um milhão de mamografias deixaram de ser realizadas em 2020 por causa da pandemia.

“A pesquisa é um alerta importante. O atraso no diagnóstico do câncer de mama tende a aumentar os casos de doença avançada, os custos do tratamento e da mortalidade”, afirma a oncologista Angélica Nogueira Rodrigues, diretora da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Segundo a especialista, por conta dos avanços da medicina, o câncer de mama é uma doença com boas possibilidades de cura, mesmo aqueles mais agressivos, principalmente quando diagnosticado em estágio inicial, o que ocorre com a grande maioria das mulheres que fazem a mamografia anual de rastreamento. Mas a pandemia da Covid-19 sobrecarregou os sistemas de saúde de muitos países e reduziu o acesso da população ao tratamento e prevenção de outras doenças.

De acordo com o estudo, em 2020, houve redução de 41% na taxa de cobertura do rastreamento do câncer de mama em mulheres de 50 a 69 anos, ou seja, cerca de 1 milhão de mamografias perdidas. O custo direto total do rastreamento do câncer de mama reduziu proporcionalmente ao número de exames, R$ 67 milhões contra R$ 115 milhões no ano anterior. Em compensação, o custo do tratamento quimioterápico foi maior em 2020, tanto nas doenças avançadas, R$ 465 milhões contra quase R$ 438 milhões em 2019, quanto nas localizadas, R$ 113 milhões contra R$ 111 milhões.

Esses dados mostram que no primeiro ano da pandemia, a cada R$ 1,00 gasto com quimioterapia para câncer de mama localizado, foram gastos R$ 4,12 com o tratamento da doença em estádio avançados na rede pública de saúde. Cerca de 9,7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país é gasto com o sistema público de saúde e 1,7% com o câncer.

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O custo do tratamento do câncer de mama é um dos mais elevados, chegando a 15,8% do gasto total com o tratamento de todas as neoplasias no Brasil. As estimativas são de que o custo do tratamento do câncer de mama avançado (estágios III e IV) seja três vezes maior do que quando diagnosticado precocemente (estágios I e II). “Portanto, o diagnóstico precoce do câncer de mama é fundamental no controle da doença e na redução de seu impacto social e econômico nos sistemas de saúde do país”, alerta Angélica.

A saber, o câncer de mama é a neoplasia maligna mais comum no mundo, excluindo o câncer de pele não melanoma, com uma estimativa de 2,3 milhões de novos casos por ano, representando 11,7% de todos os casos de câncer. No Brasil, sem contar os tumores de pele não melanoma, o câncer de mama é o mais incidente em mulheres de todas as regiões, com taxas mais altas nas regiões Sul e Sudeste. É também, a primeira causa de morte por câncer em mulheres em todas as regiões do Brasil, exceto na região Norte, onde o câncer do colo do útero ocupa essa posição.

Metas até 2030

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Por conta disso, o Ministério da Saúde elaborou um conjunto de medidas estratégicas chamado Plano de Ações Estratégicas de Enfrentamento das Doenças Crônicas e Doenças Não Transmissíveis no Brasil (2021–2030), que estabelece metas importantes para o câncer de mama: redução da mortalidade prematura em 35% até 2030, em relação ao ano de 2018; aumento da taxa de detecção precoce do câncer de mama em mulheres entre 50 e 69 anos para 70% até 2030; ampliação da oferta de serviços de rastreamento mamográfico de qualidade para as mulheres brasileiras, especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social; fortalecimento das ações de educação em saúde, informação e comunicação sobre prevenção e detecção precoce do câncer de mama para a população e os profissionais de saúde; aumento da cobertura vacinal contra o HPV em meninas de 9 a 14 anos.

“Os desafios para atingir esses objetivos são vários. Por exemplo, as dimensões continentais do Brasil, as desigualdades socioeconômicas regionais, a dificuldade de acesso da população aos serviços de saúde em regiões mais remotas, o desequilíbrio entre a baixa oferta do exame e a demanda ou necessidade da população, a falta de prestadores de serviço para cobrir todas as áreas e o baixo preço pago pelo exame”, explica a oncologista. “Pode parecer difícil, mas é uma batalha que precisa ser vencida para combater a doença”, finaliza.

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