Coronavírus: OMS deleta divulgação de estudo negativo com remdesivir
Trabalho teria mostrado que a medicação tem fortes efeitos colaterais. Laboratório afirma que o estudo foi interrompido pelo baixo número de voluntários
Fez furor um estudo chinês questionando a ação do antiviral rendesivir, do laboratório americano Gilead, contra o novo coronavírus. Divulgado pelo Financial Times e, em seguida, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ele mostra que a medicação falhou nos primeiros ensaios clínicos feitos na China. As poucas informações exibidas mostram que o trabalho testou o remdesivir em 158 pacientes aleatoriamente. Entre eles, um grupo foi tratado com a droga, e outro de 79 recebeu tratamento padrão. Os pesquisadores concluíram que a aplicação do medicamento não surtiu efeito e provocou efeitos colaterais “significativos”. O trabalho, então, foi interrompido. Horas depois da divulgação, a OMS retirou a comunicação de suas páginas, explicando que ‘a notícia foi publicada prematuramente’. A intensivista e pesquisadora Ludhmila Hajjar, do Hospital das Clínicas, complementa: “Resultados de estudos obtidos por vazamentos não podem ser considerados”.
A pesquisa foi cancelada pelo número reduzido de pessoas infectadas. Diz um dos líderes de um estudo com a droga, o brasileiro André Kalil, da Universidade de Nebraska: “Incluíram somente a metade do tamanho da amostra de pacientes desejada porque não tiveram mais pacientes hospitalizados.” Kalil conduz o trabalho mais detalhado e dentro dos rigorosos moldes exigidos pela boa medicina. Ou seja, com o padrão “duplo-cego”, em que ambas as partes trabalham com desconhecimento do remédio oferecido. Nesses ensaios os doentes são divididos aleatoriamente em dois grupos – um recebendo o remédio e outro, placebo. Os primeiros resultados deverão ser divulgados em três semanas.
Em nota oficial, o laboratório divulgou: “Foram publicadas prematuramente no site da Organização Mundial de Saúde informações sobre o primeiro estudo clínico do medicamento antiviral remdesivir, em doentes com Covid-19 severa decorrido na China. Esta informação foi entretanto removida uma vez que os investigadores do estudo não concederam autorização para a publicação dos resultados. Além disso, acreditamos que a publicação incluiu especificações inadequadas do estudo em causa. Este estudo foi terminado prematuramente devido ao facto de os níveis de recrutamento terem sido baixos tendo, por isso, sido obtidos resultados sem robustez suficiente para permitir retirar conclusões com significado estatístico. Por essa razão, os resultados do estudo são inconclusivos, embora as tendências dos dados sugiram a existência de um benefício potencial de remdesivir particularmente entre os doentes tratados precocemente (…).Esperamos no final deste mês conseguir partilhar os resultados do nosso estudo aberto de remdesivir em doentes com COVID-19 severa. Este ensaio clínico já finalizou a fase de recrutamento de doentes e irá permitir comparar os resultados do tratamento e a segurança após 5 ou 10 dias de tratamento com remdesivir. Esperamos em final de maio obter resultados do nosso estudo aberto em doentes com doença moderada e que estuda a utilização de remdesivir”