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Adolescência em crise: clima, obesidade e sofrimento mental são desafios para manter a saúde

Apesar dos avanços no combate ao uso de drogas, comissão encontrou lacunas que podem afetar futuro da humanidade

Por Luiz Paulo Souza Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 Maio 2025, 19h30

Os idosos e as crianças são sempre os principais focos de políticas públicas de saúde. E não é para menos, afinal, do ponto de vista fisiológico, eles são mesmo os mais sensíveis aos microrganismos e às mudanças ambientais. Isso não quer dizer, no entanto, que outras populações etárias não merecem atenção. De acordo com um estudo publicado nesta terça-feira, 20, os adolescentes estão entre os grupos mais vulneráveis aos impactos do estilo de vida.

O levantamento foi publicado no periódico científico The Lancet e aponta que, nas últimas décadas, os ganhos para a população entre 10 e 24 anos foram dúbios. Enquanto tabagismo e alcoolismo diminuíram, uma conquista a ser celebrada, a obesidade e a saúde mental pioraram drasticamente – e isso deve se agravar até 2030, com o peso crescente da crise climática e da transição digital.

“A saúde e o bem-estar dos adolescentes em todo o mundo estão em um ponto crítico”, disse a copresidenta da comissão que redigiu o documento, Sarah Baird, em comunicado. De acordo com ela, além dos maiores investimentos, “o engajamento e o ativismo dos adolescentes devem ser centrais para criar as mudanças sociais e comunitárias necessárias para construir uma sociedade mais justa e um planeta mais saudável, com mais oportunidades para todos.”

Os dados realmente preocupam. Se a tendência se mantiver, em meia década mais de 1,1 bilhão de adolescentes estarão vivendo em países assolados por problemas de saúde preveníveis como sexo desprotegido, gravidêz precoce, HIV, depressão e má nutrição .

Para lidar com essa questão, a África é destacada no documento com um foco especial. Isso acontece porque, hoje, cerca de um quarto dos adolescentes do mundo vivem no continente, mas até o fim do século metade dos jovens de 10 a 24 anos serão africanos – o que significa que ações nesses países são essenciais para melhorar os indicadores. 

Qual o impacto do estilo de vida na adolescência saudável?

Os principais problemas que atingem essa população estão relacionados à dificuldades socioeconômicas, em especial àquelas que levam a um estilo de vida desregrado. De acordo com o documento, a obesidade é o principal deles e teve aumento em todas as regiões, com um crescimento de mais de oito vezes em regiões como África e Ásia. 

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Isso também tem sido observado por aqui. “Esse cenário é urgente. Os cálculos apontam que cerca de 30% dos adolescentes brasileiros têm sobrepeso e 15% têm obesidade”, diz Margaret Boguszewski, diretora do Departamento de Endocrinologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). 

Isso, de acordo com ela, está relacionado ao tempo de tela elevado, visto que essa é a primeira geração nativa digital, ao tempo insuficiente de atividades físicas e à má nutrição – não apenas com falta de alimentos saudáveis, mas também com um alto consumo de ultraprocessados, ricos em calorias e pobres em nutrientes.

+ LEIA TAMBÉM: Não é só obesidade: as novas razões para evitar os ultraprocessados, segundo a ciência

Esse aspecto, além de levar à obesidade, também se reflete em outros problemas destacados pelo documento – até 2030, estima-se que um terço das meninas adolescentes terão anemia, condição que prejudica o crescimento e o desenvolvimento cognitivo e, em casos extremos, leva a danos nos órgãos. 

Sonir Roberto Antonini, endocrinologista pediátrico da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto e da SBEM, destaca ainda que o sobrepeso e a obesidade, problemas que atingirão cerca de 464 milhões de adolescentes em 2030, pode causar outras doenças, inclusive crônicas, como síndrome da apneia obstrutiva do sono, hipertensão, diabetes, problemas cardiovasculares e ortopédicos. 

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Isso é grave porque esses problemas todos geram consequências a longo prazo que, não apenas afetam o bem-estar durante toda a vida, como oneram os sistemas de saúde e reduzem a capacidade produtiva. 

Quão grave está a saúde mental entre os adolescentes?

O documento também aponta a saúde mental como um problema emergente, potencializado durante a pandemia da Covid-19. As projeções apontam que apenas em 2030, se nada for feito, cerca de 42 milhões de vidas serão perdidas por meio de disturbios mentais e suicídio entre adolescentes, um número 2 milhões maior do que o registrado em 2015. 

“Os jovens estão cada vez mais confusos e desamparados para suportar a angústia e o não saber dos processos de amadurecimento”, disse a psicóloga de família e professora da Universidade Federal da Bahia, Manuela Moura

Hoje, um número crescente de questões podem afetar esse aspecto da saúde. De acordo com o documento, além dos problemas convencionais enfrentados pelos jovens, desastres associados às mudanças climáticas como furacões e insegurança alimentar podem gerar transtornos que agravam o sofrimento mental, como estresse pós-traumático, ansiedade e depressão. 

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+ LEIA TAMBÉM: Qual a relação entre as redes sociais e a saúde mental dos adolescentes?

A transição digital também é um fator importante. “São diversos os conflitos que os jovens enfrentam na vida e que aparecem na clínica”, afirma Moura. “Com as redes sociais, a figura de admiração que antes era representada por pais ou professores, agora está nos influenciadores. Eles têm acesso fácil a uma vida que não é a deles e muitas vezes nem é uma vida real. Isso tem afetado muito a autoestima.”

O documento aponta para a necessidade de melhor investigação dos mecanismos envolvidos nessa relação entre saúde mental e uso de mídias sociais, mas apontam para a necessidade de medidas equilibradas que potencializam os benefícios dessas tecnologias e mitiguem os prejuízos – em especial com a emergência da Inteligência Artificial Generativa, afeita a exacerbar os efeitos já observados até agora. 

Qual a solução?

Melhorar esse cenário é um desafio, em especial se considerados as maneiras desiguais com que eles afetam regiões diferentes do mundo. Apesar disso, o documento destaca algumas medidas importantes:

Com base nas informações fornecidas nos fontes, as principais soluções e medidas apontadas para melhorar a saúde e bem-estar dos adolescentes, destacadas em tópicos brevíssimos, incluem:

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  • Aumentar o investimento financeiro para a saúde e bem-estar dos adolescentes
  • Garantir o engajamento dos jovens na tomada de decisões;
  • Implementar ações multissetoriais que envolvam saúde, educação, e entes privado;
  • Adotar legislação e políticas protetoras baseadas em evidências, tanto online, quanto offline;
  • Limitar o impacto negativo dos algoritmos online;
  • Promover o uso saudável das mídias sociais e espaços online;
  • Integrar e fortalecer a saúde mental em escolas, comunidades e cidades;
  • Proteger adolescentes contra violência e encarceramento;
  • Empreender ações de emergência contra a crise planetária;
  • Fortalecer sistemas de saúde às necessidades dos adolescentes;
  • Utilizar a tecnologia digital como amplificadora para comunicação de saúde e acesso a serviços;
  • Estabelecer metas claras, indicadores aprimorados e mecanismos de responsabilidade para acompanhar o progresso;
  • Investir em educação e desenvolvimento de habilidades para oportunidades futuras.
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