Chega ao Brasil eletrocardiograma que pode ser feito na farmácia e até em casa
Equipamento auxilia na detecção alterações no funcionamento do coração como arritmias e fibrilação atrial; VEJA testou aparelho que também mede a pressão
Quem precisa fazer um eletrocardiograma, exame que detecta alterações do funcionamento do coração, sabe que é necessário marcar uma consulta, agendar o exame e fazer o retorno para avaliação dos resultados. Há casos em que o equipamento já está no consultório, mas o exame simples e fundamental ainda demanda um planejamento do paciente. A situação deve mudar. O Brasil acaba de receber um novo modelo portátil que deve entrar para a rotina das farmácias e o primeiro do mundo voltado também para o uso doméstico por pacientes que necessitam de monitoramento constante.
O eletrocardiograma permite que o cardiologista identifique anormalidades nos batimentos cardíacos, como episódios de arritmias e fibrilação atrial, condições que colocam a saúde em risco. A fibrilação atrial, tipo de arritmia que os átrios (na parte superior do órgão) se contraem com velocidade maior do que a que pode ser acompanhada pelos ventrículos, tem como principal consequência a formação de coágulos que podem desencadear um acidente vascular cerebral (AVC), de acordo com Weimar Kunz, presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).
“A fibrilação aumenta à medida que a pessoa envelhece. Na população adulta, a prevalência é de 2 a 4%. Se olhar para a população acima de 65 anos, o número dobra para 4 a 8%”, explica Kunz.
A condição tem forte relação com a pressão alta e a estimativa é de que 14% a 22% dos casos sejam causados pela hipertensão. Quando não diagnosticada, a fibrilação atrial é três vezes mais comum em pessoas hipertensas.
O cenário conhecido pela literatura médica levou a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC) a publicar, em 2021, uma diretriz para fibrilação atrial recomendando eletrocardiogramas diários para pacientes com mais de 65 anos. No dia a dia, isso dificilmente se aplicaria, tendo em vista que as pessoas têm acesso com facilidade a métodos para medição de pressão, mas não ao eletro.
Foi com esse pensamento que o equipamento da multinacional japonesa Omron Healthcare, que desembarca no Brasil, foi desenhado e desenvolvido. “O aparelho poderá beneficiar pacientes no rastreio de arritmias e no diagnóstico da fibrilação atrial, uma doença que atinge mais de cinco milhões de brasileiros e é muito subnotificada. A ideia é que essa prática seja incorporada nos hábitos de autocuidado”, diz Fernanda Villalobos, diretora-geral da empresa no Brasil.
Como funciona o eletro portátil?
O eletrocardiograma portátil é leve, pequeno e funciona a pilha. Além de fazer a medição dos impulsos elétricos cardíacos, ele também mede a pressão arterial e envia os resultados, que podem ser compartilhados com o cardiologista, para o celular por meio de um aplicativo.
A reportagem de VEJA testou o equipamento e o aparelho é simples e intuitivo. Basta ligar e seguir a recomendação de apoiar as mãos em botões indicados. A leitura ocorre em 30 segundos.
“Ele é capaz de detectar arritmias, taquicardias e bracardias, ou seja, batimentos lentos ou acelerados, no ritmo cardíaco. O equipamento é 100% preciso desde que não haja interferências externas na realização do exame como o paciente se mexer ou não seguir recomendações simples como evitar cafeína antes do exame”, diz Fernanda. “Evite tomar banho, consumir bebidas alcoólicas ou cafeína, fumar, exercitar-se e comer 30 minutos antes de realizar o exame. Descanse por, no mínimo, cinco minutos antes de medir a pressão ou realizar o eletrocardiograma”, detalha a diretora. O preço estimado do equipamento é de R$ 1.500.
Seguir a orientação é importante. Em um dos testes que realizei, o resultado foi impactado por uma caneca de café tomada minutos antes. Passados pouco mais de 30 minutos, os índices se normalizaram.
Exame complementar
Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia, o aparelho não vai aposentar o eletrocardiograma tradicional, mas ser uma ferramenta complementar.
“É muito bem-vindo um lançamento desse no Brasil, porque vamos ter mais registros cardiográficos e eles podem estar presentes em consultórios médicos, na atenção primária, nas farmácias ou na casa do paciente. Ele vem para somar e não vai substituir o eletrocardiograma, porque ele consegue olhar para 12 variações, pode verificar infarto e até alterações na estrutura do coração”, afirma Kunz.