‘Canetas’ promovem perda de peso, mas também reduzem massa muscular: como contornar problema?
Embora benefícios do tratamento sejam evidentes, investir em melhoria dos hábitos de vida continua sendo importante — inclusive para preservar a massa muscular

Na busca pela perda de peso, um ponto importante costuma passar despercebido: o que, exatamente, está sendo eliminado? Porque, junto com a gordura, o corpo pode acabar perdendo algo que realmente faz falta: massa muscular. Isso ocorre em várias estratégias de emagrecimento, inclusive com os chamados análogos de GLP-1, como a semaglutida (presente no Ozempic) e a tirzepatida (princípio ativo do Mounjaro), indicados para pessoas com diabetes e obesidade.
Cconduzido por Melanie Haines, endocrinologista do Massachusetts General Hospital, a pesquisa teve participação de 40 adultos com obesidade e sem diagnóstico de diabetes tipo 2. Desses, 23 iniciaram tratamento com semaglutida e 17 participaram de um programa de perda de peso baseado em dieta e estilo de vida, ambos por um período de 12 semanas.
Ao fim do período, o grupo tratado com semaglutida perdeu, em média, 6,3% do peso corporal, enquanto o grupo dieta perdeu 2,5%. No entanto, entre os que usaram a medicação, 47,5% do peso eliminado correspondia à massa magra, proporção maior que a observada no grupo dieta, de 37,5%.
Porém, depois que a ingestão de proteínas entrou em ação, os pesquisadores perceberam que ela funcionou como uma espécie de ‘papel protetor’: no grupo que usou semaglutida, a maior ingestão diária de proteína aos 3 meses foi associada a menor perda de massa magra. Já no grupo dieta, esse efeito foi observado apenas quando o consumo proteico era elevado no início do estudo, e não ao longo do acompanhamento. “Esses dados sugerem que um consumo mais alto de proteína pode ajudar a atenuar a perda de músculo durante intervenções para perda de peso”, afirmou Haines durante sua apresentação no ENDO 2025.
Medicamento não é ‘fórmula mágica’
Outra coisa observada pela pesquisa é que pessoas que praticavam atividade física, mesmo sob o uso da semaglutida, tiveram uma perda de músculo menor em relação a quem não praticava. O achado reforça um ponto que, para Macedo, merece atenção: o uso da medicação deve vir acompanhada de mudanças reais no estilo de vida. Afinal, além da possível perda muscular, a falta de cuidados com alimentação e exercício pode deixar o corpo mais vulnerável ao reganho de peso — um processo fisiológico. “Quando perdemos peso, o organismo tenta compensar: ele aumenta os hormônios que estimulam o apetite e reduz os que promovem saciedade”, explica Macedo.
“O corpo tem memória metabólica. E, sem exercício físico — especialmente musculação —, além de uma ingestão adequada de proteínas com comida de verdade, o desfecho tende a ser previsível: o ciclo de perda e reganho de peso, frequentemente chamado, de forma equivocada, de efeito rebote, sanfona ou iô-iô”, complementa.
Atualmente, não há consenso específico sobre a recomendação de ingestão de proteína para usuários de GLP-1. No entanto, diretrizes recentes, publicadas no Jornal da Associação de Medicina Americana (JAMA), sugerem iniciar cada refeição com 20 a 30 gramas de proteína. Para pessoas moderadamente ativas, o ideal é consumir entre 1 e 1,5 grama de proteína por quilo de peso corporal ao dia. “Se o apetite estiver muito reduzido, recomenda-se o uso de shakes com pelo menos 20 g de proteína por porção”, orienta o documento.
Antes de levar isso em consideração, é importante lembrar que precisa haver equilíbrio no consumo desse alimento. O excesso, especialmente proveniente de fontes animais, como a carne vermelha, pode estar associado a riscos como aumento da inflamação, problemas renais e cardiovasculares. Por isso, a recomendação é diversificar as fontes proteicas, incluindo vegetais, leguminosas, peixes e aves, e buscar orientação profissional para ajustar a alimentação às necessidades individuais, levando em conta mais do que apenas a perda de peso.