Câncer: pacientes tiveram aumento na sobrevida nos últimos 20 anos
Conclusão vem do Observatório do Câncer, estudo conduzido pelo A.C. Camargo Cancer Center. Mas crescimento no número de casos preocupa

A probabilidade de pacientes brasileiros com os tipos mais frequentes de câncer terem uma sobrevida de pelo menos 5 anos após o diagnóstico aumentou significativamente. É o que mostra o Observatório do Câncer, trabalho feito pelo A.C. Camargo Cancer Center, em São Paulo.
A análise traz essa boa notícia, mas também um achado temeroso: há uma tendência de crescimento nos casos de tumores malignos no país.
O registro, inédito, reúne dados minuciosos de pessoas tratadas e acompanhadas na instituição paulistana entre janeiro de 2000 e dezembro de 2020. Foram registrados e avaliados 98 711 casos de câncer, tanto em atendimento privado como público. Desses, 53% eram do sexo feminino e 2% representam crianças e adolescentes.
No balanço de duas décadas, notou-se um crescimento anual de 11% nos casos da doença, variando de 2 031 episódios em 2000 a 7 849 em 2019. “O aumento se justifica por mais diagnóstico, melhores metodologias e mais informação entre os pacientes”, explica a oncologista Maria Paula Curado, uma das organizadoras do estudo.
De fato, em 2020, houve uma redução em relação aos anos anteriores, mas isso não significa que menos pessoas tiveram câncer. Devido à pandemia de Covid-19, muitas pessoas deixaram de fazer os check-ups rotineiros, o que justifica a queda momentânea no diagnóstico.
Quando se faz um recorte por tipo de doença, chama a atenção o aumento na detecção de câncer colorretal (intestino grosso) em ambos os sexos. O problema é associado a fatores do estilo de vida, como sedentarismo, alimentação desequilibrada e ganho de peso.
Entre as mulheres, os tumores mais diagnosticados foram, nessa ordem: mama, pele não melanoma, tireoide, colo de útero e colorretal. Nos homens, a lista é liderada pelo câncer de pele não melanoma (menos agressivo que o melanoma em si), seguido de próstata, melanoma, colorretal e pulmão.
Quanto à proporção por faixa etária, 60% dos casos tratados foram em homens idosos e 32% em adultos mais jovens. No grupo feminino, 42% foram em idosas e 40% em adultas com menos de 60 anos.
O A.C.Camargo, um dos principais centros médicos voltados ao câncer no Brasil, atribui os resultados positivos na maior taxa de sobrevivência dos pacientes a inovações no diagnóstico e no tratamento. Hoje eles contam com uma maior gama de recursos para ter sucesso na luta contra a doença.
A instituição também acredita que a metodologia utilizada pelo Observatório do Câncer pode ser replicada em outros hospitais, servindo de exemplo para análise e aperfeiçoamento de medidas de saúde pública.
“Já temos um plano de ampliação do estudo, pois o câncer nunca deve deixar de ser monitorado. Então a ideia é ter os dados atualizados não só para o hospital, mas também para os pacientes e a sociedade”, diz Curado.