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Brasileiros não relacionam pressão alta a risco cardíaco

Hipertensão é responsável por 45% das mortes por causas cardíacas e por 51% dos óbitos por outras razões, como AVC; 31,3% desconhecem relação

Por *Fernanda Consolim Colombo e Ricardo Pavanello
2 Maio 2025, 08h00

Recente pesquisa da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), que ouviu 1.765 pessoas em cidades do interior paulista, constatou que 68,7% entendem a pressão arterial (PA) alta como fator de risco para o coração. Porém, infelizmente, 31,3% ainda desconhecem a hipertensão como estopim para doenças cardiovasculares (DCVs) e, por este desconhecimento, estão mais vulneráveis e menos disponíveis a tratamento e controle.

O resultado exemplifica um cenário ainda mais preocupante. Estudos inseridos nas Diretrizes Brasileiras de Hipertensão apontam que 30% dos brasileiros convivem com pressão alta em todas as faixas etárias. Após os 60 anos, 60% entram nesta categoria. A hipertensão é responsável por 45% das mortes por causas cardíacas e por 51% dos óbitos por outras razões, como os decorrentes de acidente vascular cerebral (AVC).

Mesmo entre os que sabem ser hipertensos são poucos aqueles que usam regularmente as medicações prescritas e estão com os valores de pressão dentro das metas.

Segundo o Relatório Global sobre Hipertensão: a corrida contra um assassino silencioso, da Organização Mundial da Saúde (OMS), a hipertensão afeta um em cada três adultos no mundo, sendo que ¾ dos hipertensos vivem em países de baixa e média rendas. O que se reflete em números: em 1990 eram 650 milhões com a doença e, em 2019, o número de pacientes estava em 1,3 bilhão. E o mais impactante é que o relatório da OMS constatou que quase metade dessas vítimas desconhecia a condição.

O cenário motivou a Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC), em 2024, atualizar as diretrizes no sentido de simplificá-las, enfatizando medidas que podem ser tomadas já no atendimento primário. O diagnóstico de Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) permaneceu semelhante ao das diretrizes anteriores, quando o paciente apresenta valores pressóricos, aferidos de forma adequada, iguais ou maiores que 140 X 90 mmHg (ou 14 por 9). O que chamávamos de pressão normal (valores de pressão menores que 120 X 80) agora se denomina pressão não elevada e fica no limite de 120 X 70 (ou 12 por 7).

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Mas a maior diferença de nomenclatura ocorreu na faixa de 120-140 de pressão sistólica e 70-89 de pressão diastólica. A nova diretriz chama a atenção dessas faixas de valores classificando-as como pressão “elevada” (do inglês elevated blood pressure). Isso porque pacientes com pressão arterial entre 130-139 mmHg e outros fatores de risco associados apresentam um incremento maior no risco de desenvolverem doenças cardiovasculares.

Diretrizes anteriores já chamavam a atenção de que valores dentro dessa faixa podem trazer um alerta para o paciente e para o médico. As novas diretrizes da ESC reforçam ainda mais que a mudança no estilo de vida seja a primeira providência para quem tem pressão acima do normal.

Alimentação saudável, com menos consumo de sal, por exemplo, e atividade física na rotina contam pontos a favor. Já o tratamento farmacológico (com inibidores da enzima conversora de angiotensina, bloqueadores do receptor da angiotensina II e bloqueadores de canais de cálcio ou diuréticos tiazídicos) é uma hipótese quando a pressão persistir em se manter acima de 130 x 80.

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Mas vale salientar a necessidade de uma avaliação caso a caso, considerando a situação cardiovascular individual. Devido à relevância, o tema hipertensão como fator de risco cardiovascular será amplamente debatido no próximo Congresso da Socesp, que acontece entre os dias 19 a 21 de junho, no Transamérica Expo Center em São Paulo. As plenárias abordarão as novas diretrizes europeias, esclarecendo sobre novidades em terapias e a importância de iniciativas de esclarecimento para a população como uma das formas mais eficazes de prevenção e controle.

Aferição da pressão fora do ambiente hospitalar

Um ponto que vale a pena mencionar é que a aferição da pressão arterial fora do consultório, sem equipamentos com acurácia comprovada, funciona como um dado “a mais” a ser repassado ao médico. Este tipo de verificação, conhecida por Ampa (Automedida da Pressão Arterial), é feita pelo próprio paciente ou familiar em domicílio, com aparelhos vendidos ao público leigo.

A Aampa não obedece a nenhum protocolo preestabelecido e é realizada por decisão do próprio paciente ou a pedido clínico. É fato que na Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial foi sugerido um número mínimo de sete medições no período de 16-72 horas para a Ampa. Mas não há evidências que respaldem a adoção de protocolos específicos (número de medidas, horários e dias de monitoração), nem a determinação de valores de normalidade para o método.

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Por isso, uma vez que a acurácia da medida da pressão é fundamental na tomada de decisão sobre o tratamento a ser seguido, a própria diretriz recomenda que a Ampa seja utilizada somente para fins de acompanhamento.

Mesmo sem finalidade diagnóstica, conferir a pressão arterial pode ser mais uma forma de aumentar a conscientização sobre os perigos da hipertensão e suas consequências cardiovasculares. Os pacientes também devem ter claro que um estilo de vida saudável, com alimentação balanceada e atividade física, promovem uma verdadeira revolução “do bem” em nossa saúde e este será sempre o primeiro passo para prevenir uma série de doenças graves.

*Fernanda Consolim Colombo é cardiologista, médica assistente da Unidade de Hipertensão do InCor e assessora científica da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) para hipertensão no 45º Congresso da entidade e Ricardo Pavanello é cardiologista e presidente do 45º Congresso da Socesp

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